O Homem Duplicado

6/29/2014 02:15:00 AM |

Se existe um gênero que podemos falar ser o que não dá para ficar em cima do muro e dizer que ou gosta ou não é o suspense psicológico, pois este estilo faz com que o público que ama, saia do cinema confuso, algumas vezes até não sabendo se entendeu o que viu, mas sai apaixonado pelo que foi mostrado, agora quem não gosta vai falar horrores, dizer que o filme é um lixo, e mesmo até parando alguns minutos para tentar entender continuará odiando tudo na obra exibida. Os livros do Saramago são todos extremamente complexos e por serem de difícil leitura funcionam do mesmo estilo que disse, então um filme baseado em um livro dele, podemos ir ao cinema já esperando muita dificuldade no que vamos encontrar. "O Homem Duplicado" é um filme que você pode ir esperando algo e tirar diversas conclusões, mas sair da sala certo do que viu com toda certeza estará mentindo, pois necessitará de pensar muito, ficar com dor de cabeça, que é meu caso agora que estou escrevendo, para somente bem depois tirar algumas conclusões mais precisas. Como prefiro não estar certo ou errado sobre os meus pensamentos, não vou colocar aqui nenhum spoiler, quem quiser me mande um e-mail pelo contato ao lado que vamos discutindo, mas o que posso adiantar com muita certeza é que não é um longa fácil de analisar, mas é belíssimo dentro da proposta que tenta passar.

A sinopse nos mostra que um pacato professor de história descobre acidentalmente a existência de um sósia seu, um ator, quando assiste a um filme banal. Ele, então, resolve ir atrás de seu duplo, envolvendo sua namorada e a esposa dele, em uma trama de suspense que muda a vida a vida de todos os personagens.

Após escrever esse texto inicial, fui conferir um vídeo que um amigo crítico indicou em sua página, pois não iria conseguir dormir pensando se estava certo ou errado sobre o que achar do filme, e graças ao bom Deus do cinema, minhas convicções sobre o que havia visto estão ao menos semelhantes com o que é mostrado no vídeo. Então embasado nisso, posso dizer agora com mais clareza que o roteiro sim é genial por trabalhar com diversas incógnitas e não deixar nada tão claro e óbvio na trama, deixando certo apenas que o problema em si é algo bem trabalhado dentro da cabeça dos protagonistas e que envolve sim muito teor sexual. O diretor Denis Villeneuve é daqueles que trabalham a trama toda envolvendo símbolos, então quer uma dica para ver o filme e sair do cinema com a cabeça quente, observe tudo que esteja acontecendo além do que é dito, pois é mais fácil um quadro dizer muito mais do que o ator em si, e nesse quesito fui ver o filme olhando tanta coisa que confesso que algumas frases que vi no vídeo agora nem lembrava de terem sido ditas, mas que teriam ajudado também a decifrar a trama. E ao usar tantas referências, o diretor consegue ao mesmo tempo explicar e confundir mais ainda o espectador. Ou seja, há grandes chances de acontecer o que vi na saída do filme, de muita gente reclamar de não ter entendido nada, e não temos como falar que isso é algo bom, pois um filme que deixa a maior parte do público sem entender nada é belo somente para quem ama o estilo, e para nós produtores o que acaba acontecendo é uma bilheteria baixa, ou seja, adeus dinheiro, pois o boca a boca recomendando o filme acaba nem existindo. Mas por outro lado, força o cérebro a pensar, então quem for ver o filme se esforce um pouco que ao menos o básico é tranquilo de assimilar gastando uns 10 neurônios.

Quanto da atuação, Jake Gyllenhaal trabalha com uma centralidade impressionante nos seus dois personagens e pelos trejeitos tão bem inseridos na trama, não tem como não adorar o que faz, não deixando pistas, não sendo aberto, e o melhor, trabalhando com força atuante para ninguém botar defeito no que faz, sendo de um luxo impressionante. Mélanie Laurent consegue fazer semblantes tão interessantes que em diversos momentos acabamos achando que a chave da história pode estar nela, mas com o desenrolar da trama seu personagem ao mesmo tempo que deixa tudo aberto, termina de uma forma mais assustadora ainda, mas ainda assim tudo que faz tem coesão com o filme e agrada bastante. Sarah Gadon é um personagem mais para agraciar os olhos masculinos, e ser um personagem mais carnal do que introspectivo na trama, faz bem seus momentos, mas como não possui tantas falas, nem é de sua atuação que ficamos olhando tanto. E Isabella Rossellini faz uma mãe que chaveia praticamente toda a história com o que diz nos seus 2 momentos, principalmente nos quesitos mais simples de descobrir, e faz bem pela forma de entonação que dá no seu texto, pois se não notarmos isso é capaz de o filme ficar ainda mais difícil. Os demais personagens servem apenas de ligação para a trama então nem são tão importantes para discutirmos ou observarmos a fundo.

O longa possui ao mesmo tempo cenários bem trabalhados com diversos elementos cênicos prontos para serem utilizados como símbolos na trama e também muita coisa que só vai nos deixar mais confusos, e aí é que está a beleza de uma direção de arte nesse estilo de filme, pois poderiam apenas compor as cenas com coisas luxuosas que dariam um ar até mais vivo para a trama, mas optaram pela simplicidade e acertaram em cheio com tudo que é mostrado. A fotografia exagerou no amarelo puxado para o laranja, e não consegui situar se era algum motivo próprio para a trama, mas tornou acima de tudo agressivo e cansativo, de forma que poderiam ter mantido toda a sobriedade que queriam usando tons mais acinzentados que não ficaria nem feio demais e ainda assim manteria tudo que o diretor queria.

A trilha sonora toda bem pontuada de sons fortes e ritmados é algo que ajuda a afligir o espectador e quando ela acelera, junto ficamos mais tensos ainda com tudo que está acontecendo e dessa forma o clima só aumenta. Claro que alguns momentos a trama perde um pouco o fôlego e a trilha poderia ter ajudado mais na velocidade, mas como o gênero pede algo mais lento, o tom é acertado.

Enfim, mesmo saindo um pouco perdido do que vi na telona, já tinha gostado bastante do que vi, e após conferir o vídeo, que inclusive deixarei o link abaixo para quem já tiver assistido o filme devido a quantidade de spoilers, fiquei mais contente ainda de ter chegado até mais perto do que imaginava ser a trama. Já deixo a ressalva que não é um filme para todos, e como já disse por ser produtor, isso pontua negativamente dentro de um contexto econômico no cinema. Então se você prefere filmes mais fáceis de digerir, esse é um que deve passar bem longe, mas se você gosta de queimar a cuca e de filmes com teor psicológico elevado, pode ir agora pra sessão que vai sair discutindo por horas o que achou dele. Bem é isso, fico por aqui agora, mas ainda falta ao menos mais um longa que estreou por aqui para conferir, então abraços e até breve pessoal.




Link para explicação do filme, indicação de Leandro Valina do site "Filmes e Games":  https://www.youtube.com/watch?v=v9AWkqRwd1I

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