sexta-feira, 20 de junho de 2014

Transcendence - A Revolução

Um dos gêneros mais complexos de explicar dentro de um filme é a ficção científica voltada para aplicações físicas e computacionais, pois conhecendo o público em geral, a maioria foge de algumas escolhas de faculdade só por ter uma ou duas matérias de ciências exatas. E dessa forma, o filme "Transcendence - A Revolução", que foi mudado de data diversas vezes e estreou agora, vem com uma proposta ao mesmo tempo que maluca e revolucionária por parte da ideologia filosófica que pode existir ao invés da tecnologia auxiliar, passar a atrapalhar e causar alguns problemas. E o envolvimento emocional da trama é bem pesado e consegue fazer um misto de duas grandes produções excelentes que tivemos nos últimos anos: "A Origem" e "Ela", sendo que Christopher Nolan que dirigiu "A Origem" entra aqui de produtor, porém o longa mesmo sendo bem trabalhado acaba não cativando tanto o público como deveria, e claro, alguns sairão com certeza da sala sem ter entendido nada do que aconteceu.

O filme nos mostra que o Dr. Will Caster é o mais famoso pesquisador sobre inteligência artificial da atualidade. No momento ele está trabalhando na construção de uma máquina consciente que conjuga informações sobre todo tipo de conteúdo com a grande variedade de emoções humanas. O fato de se envolver sempre em projetos controversos fez com que Caster ganhasse notoriedade, mas ao mesmo tempo o tornou o inimigo número 1 dos extremistas que são contra o avanço da tecnologia - e por isso mesmo tentam detê-lo a todo custo. Só que um dia, após uma tentativa de assassinato, Caster convence sua esposa Evelyn e seu melhor amigo Max Waters a testar seu novo invento nele mesmo. Só que a grande questão não é se eles podem fazer isto, mas se eles devem dar este passo.

O filme poderia discutir diversas vertentes filosóficas, adentrar em teorias do criacionismo, entre outras ideias possíveis, mas optou por apenas manter o suspense e desenvolver o plano do filme não como um policial, mas sim como algo futurista fictício de possível existência, assim como já tivemos outros bons longas do estilo, entre eles "A Origem" e "Deja Vu". O diretor Wally Pfister que estreia no comando das câmeras é conhecido por ter levado o Oscar como diretor de fotografia do próprio "A Origem", ter trabalhado em toda a trilogia do "Batman" atual, e contando com a ajuda de seu amigo Nolan, pode trabalhar muito bem tanto o quesito visual da trama quanto o contexto aonde gostaria de chegar com o filme, mas com um roteirista estreante também, o assunto precisaria ter sido mais trabalhado e desenvolvido, o que não acabou acontecendo. Ou seja, o filme tem tudo nas mãos, uma história envolvente, muito dinheiro, pessoas com conhecimento técnico apurado, grandes atores, mas não avança no assunto, apenas mostrando ele bem abrangente e você que desenvolva o restante, mas muito longe de ser algo ruim, o filme agrada por ter uma dinâmica interessante, e quem se esforçar para compreender todas as pontas que deixam no ar, com certeza sairá da sala gostando muito do que viu.

Johnny Depp já teve seus grandes momentos, mas ultimamente anda cobrando um cachê além do que anda dando de retorno para os filmes e não tem demonstrado nem metade do que sabe atuar, aqui embora seu personagem esteja dentro de um computador na maior parte do tempo, ele poderia ter dado um âmbito mais comovente e não ficado frio ao extremo como foi, claro que em vários momentos seria necessário isso, mas já vi ele sendo frio de forma mais consistente. Rebecca Hall é uma atriz interessante, mas o papel pedia uma mulher mais forte emocionalmente para dar trejeitos intrigantes nas cenas mais fortes, pois com o protagonista virando algo fictício, ela passou a ser o alvo da câmera, e em diversos momentos decepciona no que faz. Paul Bettany merecia ter participado mais da trama, pois seus momentos são tão expressivos que em algumas cenas chega a roubar a atenção pra si, e com isso se tivessem colocado mais cenas poderia até dar uma reviravolta interessante na trama. Morgan Freeman conseguiu pela primeira vez fazer um personagem bem fraco e coadjuvante ao extremo numa trama, de forma a seu personagem ser apenas importante em alguns momentos, mas a trama funcionaria facilmente sem ele, vale ver ele pelas expressões nas cenas iniciais. Fiquei me perguntando se Cillian Murphy era um investigador ou estava a passeio pela polícia do filme, pois esqueceram de dizer para ele se expressar no mínimo para chamar a atenção que um policial chama num filme, na cena que é pego então no teto do prédio chega a beirar o ridículo o que faz. Agora o prêmio enfeite de filme do ano vai para Kate Mara, e já estamos pensando em como trazer ela para ser líder dos extremistas das revoluções no Brasil, pois só faz carão e não age em momento algum. Dos demais só vale destacar a comicidade dos curados pela máquina que ganham super poderes praticamente tanto em força quanto em regeneração, que poderia ter sido menos forçado.

Como disse no começo, o diretor foi ganhador do Oscar como diretor de fotografia e muitos dos filmes que trabalhou são conhecidos por um primor visual impecável, então era de se esperar algo fabuloso visualmente aqui, e a resposta vem na altura com momentos que olhamos diante do quadro e podemos viajar completamente dentro dos objetos cênicos que nos são apresentados, destacando claro todos os momentos de regeneração com as moléculas se movimentando freneticamente e o laboratório montado com muita tecnologia e usando de um ar mais simplista nos envolver com tudo que é mostrado, poderia destacar também uma outra cenografia, mas acabaria saindo como um spoiler para o final, então vale a pena prestar atenção em cada detalhe da trama. E se fotografia em filmes futuristas já é algo complexo, imagina trabalhar com um grande diretor de fotografia premiado mandando em você, pois bem essa deve ter sido toda a pressão que Jess Hall sofreu, mas conseguiu com êxito trabalhar cada ângulo usando filtros corretos e ambientando cada iluminação corretamente para dar um ar ao mesmo tempo hi-tech quanto noir para deixar o filme o mais próximo de um suspense policial.

A trilha sonora de Mychael Danna foi toda trabalhada em sons ritmados, e colocando músicas mais orquestradas para manter o ar de suspense, dando somente algumas notas mais corridas para os momentos de mais ação, mas sempre envolvendo o espectador para dentro da trama e nunca fugindo do contexto científico que o diretor quis. Poderia ter trabalhado somente em alguns momentos com marcações mais rápidas para dinamizar algumas cenas do miolo, pois é tanta coisa para prestar atenção que acaba o filme cansando nesse ato.

Enfim, esse era um dos filmes que estava com mais medo de assistir, por gostar dos atores e por ter sido alterada a data de estreia três vezes no Brasil, e isso costuma ser ato de filmes que não vão agradar. Não posso dizer que é um longa perfeito, mas quem gostar do gênero e se esforçar para entender o que o filme tenta passar sem entrar muito em detalhes, com toda certeza irá sair da sala satisfeito com o que verá, e assim recomendo ele somente para essas pessoas. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas essa semana veio bem recheada de estreias, então ainda voltarei muito aqui para deixar minha opinião com vocês. Então abraços e até breve.


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