Sinceramente, após o sucesso de "Chico Xavier - O Filme", tinha uma certeza imensa de que veria uma enxurrada de filmes baseados em livros espíritas explodirem nos cinemas, mas infelizmente como digo sempre quantidade não é qualidade, e na mesma velocidade que surgem novos filmes do gênero, a maioria tem decepcionado monstruosamente no quesito técnico. De forma que hoje ao conferir "Causa e Efeito", a história passada até é bem interessante e já havia até ouvido em algum outro filme, mas a maneira que foi produzido fez me sentir vendo os primeiros curtas metragens que produzimos na faculdade, com diversas preocupações menores em esconder rótulos de cerveja, uísque e refrigerante e falhar insistentemente em botar um realismo que fosse no conteúdo interpretativo. E se num certo momento parecia que ia dar uma melhorada, a cena final feita no melhor estilo das primeiras novelas da Rede Record, utilizando slow motion e tudo mais, acaba fazendo o público, em sua maioria frequentadores da religião rirem insistentemente com o que vem na sequência, ou seja, mais um filme que conseguiu manchar novamente o cinema brasileiro, que tanto torço pra decolar e quando acho que está melhorando me aparece alguns assim.
O filme nos mostra que Paulo é um ex-policial que perde a esposa e o filho em um acidente causado por um motorista alcoolizado. O motorista não é preso e inconformado Paulo torna-se um matador de aluguel. Porém, quando é contratado para dar um fim em uma garota de programa, ele se sensibiliza com a história dela e importantes mudanças acontecem em sua vida.
Como disse, a história em si é interessante e possui uma boa mensagem, que podemos acreditar ou não de acordo com a religião de cada um, mas o problema estrutural do filme já começa na composição do roteiro, pois o fator principal para acontecer tudo já começa com a cena do atropelamento parecendo um videoclipe, faltando apenas os cantores surgirem num canto com uma música melodramática, depois temos as cenas cômicas e estranhas envolvendo as três religiões, os sonhos/acontecimentos em plano espiritual beiram toda uma fantasia mística que foi onde gastaram dinheiro para efeitos especiais, os personagens malvados são piores que vilões de animações, ou seja, um misto de problemas que poderiam ter trabalhado mais o roteiro e feito algo talvez menor e mais conciso que agradaria muito mais. Porém o diretor André Marouço que roteirizou outro filme fraco em 2011, mas que ao menos colocava a ideologia em primeiro plano, optou por fazer uma produção totalmente enfeitada que resultou novamente em um filme completamente perdido dentro de uma obra cinematográfica, ou seja, é garantia de arrependimento assistir até para quem for espírita. Ao menos melhorou a parte de diálogos, não ficando tão preso a ideologia espírita, mas com a história desorientada ficou difícil ficar feliz com o que dizem os protagonistas.
E falando nos atores, Matheus Prestes se esforçou bastante para segurar seu semblante, visto que em alguns momentos é notável seu desespero por estar fazendo a cena daquela maneira, já disse isso uma vez e repito, ator quando não está satisfeito com o que o diretor manda transparece fácil na atuação, e o jovem aqui até faz boas cenas, mas em diversos momentos o que está fazendo é tão fora do normal que qualquer um faria que não há quem acredite. Henri Pagnoncelli consegue até manter a linha de durão, de deputado corrupto e tudo mais, mas força muito seu lado teatral, fazendo caras e bocas exageradas demais que não condizem com a linguagem cinematográfica. Naruna Costa é outra atriz que aparenta estar perdida com o que está fazendo, mas é a mais sutil em trejeitos, tentando sempre sensualizar e concentrar dentro da personagem, mesmo que comece sendo forçada, depois passa pelo momento desesperador, depois fica no nível folgado demais. Os personagens do padre, pastor e espírita vou preferir nem comentar nada, afinal é o exagero em cima do exagero o que eles fazem.
Embora o longa tenha muitos erros, um dos poucos acertos está na tentativa visual, que com locações simples, mas bem encaixadas para a trama, o filme nos situa bem de onde eles estão, mas o erro iminente de só porque determinada marca de bebidas provavelmente não patrocinou o filme, é burrice demais arrancar os rótulos e deixar sem nada, ou até mesmo colar um adesivo de algo que beira o amadorismo total. Alguns Inicialmente o filme aparentava ir para um rumo visual, mas com o andamento acabaram se perdendo demasiadamente e os elementos vão ficando mais escassos, e isso é uma pena, pois a direção de arte aparentava ser a melhor coisa do filme no começo. A equipe de fotografia deve ter lido o roteiro e pensado que seriam loucos para fazer tanta cena com diferentes nuances, e aí optaram pelo mais fácil, joga uma fumaça aqui, ilumina de branco estourado ali, coloca uns fantasmas na outra cena, e com isso o filme é trapalhada em cima de trapalhada, não tendo uma linguagem sequer de iluminação.
A trilha sonora do filme é marcada por momentos felizes bobos, suspense que vai acontecer alguma coisa, sons mórbidos para os vilões, e essa regra vai se repetindo durante o filme todo, ou seja, a criatividade sonora passou bem longe deles.
Enfim, como já falei algumas vezes, odeio falar mal de filmes nacionais, mas não tem jeito, assistimos um filme bom e vem 10 ruins para estragar o que o bom faz, e infelizmente esses ruins conseguem não sei por que uma melhor distribuição, mais brasileiros acabam vendo isso e só saem falando por aí que filme nacional não presta, enquanto outros bons passam meia semana numa cidade e já saem de cartaz, isso quando passam. Ainda estou me perguntando muito o que a Paris Filmes viu nesse filme para distribuir tantas cópias pelo país, pois não recomendo de forma alguma o filme nem para meus amigos espíritas, quanto mais para qualquer outra pessoa. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora encerrando a semana cinematográfica, a próxima veio com bem poucas opções, mas nem por isso irei desanimar, então volto em breve com mais filmes por aqui, abraços e até lá.
2 comentários:
Análise perfeita.
Vi o filme ontem, muito ruim!
Nosso Lar foi o único filme de ótica espírita um pouco melhor trabalhado, construído. Uma pena que o mercado nacional não consiga produzir filmes tão bons como o filme O céu é de verdade, um filme bem feito e que emociona.
Olá Rocha!! Pois é, mesmo Nosso Lar tendo uns efeitos exagerados, foi o que teve um conteúdo mais trabalhado e acabou agradando bastante... O Céu é de Verdade estou bem curioso pra ver, mas acabou não vindo para o interior, assim que tiver por aqui colocarei a crítica. Abraços!
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