O estilo musical é um dos que mais sofre ao cair nos cinemas, pois ou o público gosta das canções e não vai gostar do que verá no filme, ou quem gosta de um filme mais interpretado irá se revoltar com tantas músicas cantadas. Quando Clint Eastwood anunciou que iria filmar a biografia de Frankie Valli, muitos torceram o nariz, pois o estilo musical da Broadway não é algo que Clint seja bom, e por contar diversos problemas que os protagonistas tiveram talvez o longa se perdesse. Mas foi feito, e "Jersey Boys: Em Busca da Música" é um filme com boas músicas, mas que o diretor precisava ter trabalhado mais a interpretação dos protagonistas e ter exagerado menos na quantidade de diálogos direcionados para a câmera, pois a história poderia ser contada normalmente, não necessitando que cada momento um protagonista viesse dizer para o espectador o que iria acontecer ou no que estava pensando, e isso foi o que mais cansou na história.
O filme nos mostra que na década de 1950, o ítalo-americano Tommy DeVito divide seu tempo entre cometer pequenos furtos e comandar uma banda. Ele é amigo do jovem e talentoso Frankie Valli que, não demora, é convidado para se juntar ao grupo musical. No entanto, com a entrada do compositor Bob Gaudio, eles - ao lado de Nick Massi - formam uma das mais bem-sucedidas bandas dos anos 1960, o The Four Seasons, responsável por hits como "Sherry", "Big girls don't cry", "Walk like a man" e "Can't take my eyes off you". Baseado no musical da Broadway, o longa de Clint Eastwood mostra a ascensão e queda do quarteto, de muito talento, mas envolto em uma nuvem de brigas internas e relações escusas com a máfia.
Como a própria sinopse já nos apresenta, o grupo foi muito grandioso, com músicas que até hoje ainda ouvimos tocando em diversos filmes, e até em rádios, mas ao apresentar a quantidade de problemas que eles tiveram, o filme entra num rumo bem desesperador. O diretor sempre foi muito bom com dramas, mas ao trabalhar um filme musical colocando o ritmo necessário para mixar cada ato, ele ficou um pouco perdido, e certos momentos acabam sendo até desorientados demais. Outro problema é que temos na maior parte atores teatrais, e ao colocá-los frente às câmeras temos muitas cenas que eles parecem não saber para onde olhar, a principal cena que chega a beirar a lástima é a de Frankie sentado após o enterro, que não necessitava daquela cena, e além de feia pelo ator estar estranho, poderia encaixar totalmente a seguinte que ninguém notaria falta. O roteirista brasileiro Marshall Brickman está acostumado a fazer filmes no estilo Woody Allen de ser, ou seja, quando os protagonistas costumam conversar com os espectadores, colocou demasiadamente esse recurso no filme e isso infelizmente atrapalhou o andamento do filme, pois ele poderia ser contado tradicionalmente, ou caso quisessem, apenas utilizando de musicalidade transformando o longa em um musical alongado que agradaria bem mais. Não estou dizendo que o filme tenha ficado ruim, muito pelo contrário, é até gostoso de acompanhar, mas acabaram exagerando muito em coisas que não eram necessárias, e a dramaticidade dos problemas juntamente com as músicas acabaram ficando sempre em segundo plano. Apenas para citar, a cena de créditos que recaiu exatamente para o lado musical de um filme ou peça, é a cena mais bonita de se ver do filme.
Como o filme dependia muito que os atores cantassem, a escolha do elenco foi praticamente toda em cima dos atores do próprio musical e isso foi ao mesmo tempo um acerto e um erro, pois como disse acima, precisariam ter trabalhado mais na interpretação para câmeras com eles, e isso não foi feito, mas por um outro lado, a questão de cantorias foi perfeita. John Lloyd Young fez um Frankie Valli como nunca, tendo o falsete em um tom preciso e agradável demais na sonoridade, mas nas cenas que exigiram uma interpretação melhor de diálogos ou até mesmo de expressão mostrou que ainda é muito novo para as câmeras. Vincent Piazza trabalhou bem e soube mostrar toda a arrogância que Frankie falava de Tommy ter na biografia, e o trabalho do ator foi feito na medida em todas as épocas que o filme passou, mostrando ser o mais experiente ator dentre os jovens ali dispostos, claro que teve que aprender a cantar para se dar bem no time, mas não foi algo que falhasse tanto no filme. Erich Bergen foi preciso nos momentos chave e conseguiu demonstrar tanto na forma musical quanto na atuação bons momentos de seu Bob Gaudio, claro que não é o ponto mestre da trama, mas ao menos se esforçou mais em não dar gafe frente às câmeras. Agora que vozeirão tem Michael Lomenda, sempre dando tons acima da média, agradou muito no que fez, e também por ser segundo plano no quesito interpretativo, conseguiu agradar bastante fazendo Nick. Agora é uma pena que a questão máfia ficou bem em segundo plano no filme, pois as cenas que contém Christopher Walken são as mais geniais e interessantes de ver, afinal o ator é esplêndido em qualquer papel que faça. Das mulheres vale destacar apenas Renée Marino que fez a esposa de Frankie e colocou em força interpretativa todos os seus momentos, mostrando como a mulher forte e representativa era nos anos 50.
O quesito visual foi muito primoroso ao mostrar os estúdios tanto de TV como de gravadoras onde passavam os sucessos do passado, e bem como os artistas tinham de buscar para clamar seus sucessos, e trabalhando bem o quesito épico do filme, temos bons elementos cênicos tanto nas casas quanto nas ruas para representar bem tudo. O figurino está impecável e agrada bastante com o que foi mostrado, e junto da equipe de maquiagem, acho até possível que consiga ser lembrado no Oscar do próximo ano, afinal todos os atores fizeram o mesmo papel durante os 40 anos que se passa a trama, ou seja, mandaram muito bem na caracterização. A fotografia também soube dominar colocando tons avermelhados sempre em contraluz para chamar atenção nos momentos mais densos e iluminando bem nos momentos alegres da trupe, ou seja, um filme que agradou demais na técnica e faltou um pouco na dramaticidade.
Bom, no quesito musical nem tenho o que falar, afinal a banda Four Seasons sempre teve músicas marcantes e bem gostosas de ouvir, então escolheram as mais conhecidas para que o público acompanhasse e saísse ao menos satisfeito com a sonoridade, de forma que nos vemos balançando os pezinhos durante toda a exibição com a qualidade vocal dos atores e com todo o trabalho musical que foi feito.
Enfim, é um bom filme que poderia ter sido extremamente melhorado e agradaria bem mais. Porém quem gostar de boa música vai ficar bem feliz se não notar tanto os defeitos. Recomendo assistir com essas ressalvas. Quem for de Ribeirão Preto e não foi conferir, vai ficar sem ver ele, pois como não deu quase bilheteria nenhuma, ficou apenas 1 semana em cartaz nos cinemas daqui, ou seja, aguardem para locar que vai ser o jeito. Fico por aqui agora, mas hoje ainda irei conferir mais um filme e volto para contar o que achei. Abraços e até mais pessoal.
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