Uma coisa que podemos afirmar com muita certeza é que tem surgido no cinema nacional diversos filmes que abrangem gêneros que não costumávamos ver em nossa língua, e isso é algo que nos deixa com muito orgulho, ainda mais quando surgem obras marcantes como é "O Lobo Atrás da Porta" que vem a cada dia conquistando mais prêmios nacionais e internacionais, e arrebatando elogios da crítica. O motivo principal de um suspense conquistar tanto o público é o fator de o diretor trabalhar com vertentes tão humanas que embora possamos falar que uma pessoa normal não faria o que ocorre no filme, também podemos expressar que qualquer um também pode fazer. E ao colocar as diversas versões de cada um dos envolvidos o longa que teria tudo para se tornar cansativo, acaba nos prendendo de uma forma que nos vemos julgando cada um como se fôssemos parte de um júri em um tribunal, sem que o filme precisasse imprimir um tribunal na tela.
A sinopse do filme nos pontua que após o desaparecimento de uma criança faz com que seus pais, Bernardo e Sylvia, fossem até uma delegacia. O caso fica a cargo de um delegado que resolve interrogá-los separadamente. Logo descobre que Bernardo mantinha uma amante, Rosa, que é levada à delegacia para averiguações. A partir de depoimentos do trio, o delegado descobre uma rede de mentiras, amor, vingança e ciúmes envolvendo o trio.
O roteiro que é livremente inspirado na história real da "Fera da Penha" trabalhou bem pontuado em situações cotidianas que estamos habituados, e claro que de um modo ficcional, o diretor e roteirista Fernando Coimbra optou por não ser tão contundente com alguns personagens, e dessa forma o suspense só foi melhorando juntamente com os planos e recortes precisos para a cada ato ir nos envolvendo mais, e ao final já nos vemos torcendo pelos personagens. Porém o que diferencia o longa de recair para o lado novelesco, que beirou muito em diversos momentos, é a linguagem mais impactante de uma trama direcionada, onde o importante é a atuação bem colocada aonde o diretor imprimiu sua marca, e isso só faz com que o nosso cinema cresça mais lá fora e até mesmo aqui, pois nos aproxima mais da tradicional linguagem de seriados que tanto tem crescido. O filme também conta com boas sacadas para nos situar ao cotidiano ambientado de cada um dos personagens, e com trejeitos até puxados para a comicidade, o diretor acerta a mão para nos pregar algo inesperado ao final, desenhando bem mais do que uma trama policial simples dentro de um filme marcado por situações, e não apenas uma linha contínua.
Como ressaltei acima, o ponto forte do filme está nas grandes atuações dos protagonistas que conseguiram trabalhar o roteiro de forma a nos chamar atenção para cada cena individual sua e agradar com personalidades marcantes, mostrando que cada ato foi bem dirigido. Já considerávamos Leandra Leal uma excelente atriz por diversos outros papéis, e a forma que domina a cena no longa é impressionante, conseguindo mostrar mais do que uma atuação única, mas sua essência em forma de uma personagem. Milhem Cortaz possui bons momentos, nem todos tão precisos, mas consegue cativar e ser coerente nas cenas que necessitou demonstrar mais atuação e menos caras e bocas que acabou exagerando na cena em que conhece Rosa. Outra atriz que tem crescido muito é Fabiula Nascimento, pois tem mostrado que sabe incorporar tanto bons personagens cômicos como incorporar uma dramaticidade mais segura, e com isso no filme ela dá um tempero bem interessante para sua personagem de forma a parecer estar vivenciando um momento, e assim agradar no que faz. Juliano Cazarré colocou imponência para fazer um delegado que chama atenção mesmo tendo poucas cenas, fazendo de seus diálogos pontos marcantes no filme que agradam tanto pela eloquência quanto pela ironia apresentada, valeria a pena até ter mais cenas no longa. Outro destaque do filme fica por conta de Thalita Carauta que mostra que não é boa apenas para fazer piadas, e mesmo funcionando em alguns momentos como válvula de escape da tensão, conseguiu manter uma seriedade bem característica.
Visualmente o longa impressiona por um grande detalhe de não parecer o Rio de Janeiro, podendo estar ocorrendo em qualquer cidade se não fosse dito os nomes dos bairros durante toda a execução, pois saindo do tradicionalismo que até chega a cansar de ficar mostrando o Cristo e as favelas, o filme se concentra no subúrbio de uma maneira mais crua e viva, abusando de locações bem encaixadas para a trama e trabalhando mais com cenas onde os atores pudessem ser mais importantes que a própria cenografia em si, não que o longa não conte com bons elementos cenográficos, mas todos são usados apenas como parte da cena, e não como detalhe da cena. A fotografia de Lula Carvalho é algo que já está virando marca própria nos filmes nacionais e internacionais, pois ao colocar iluminações fortes contrapondo o momento da cena, ele nos mostra a essência de cada ato e juntamente com diversos planos-sequência que o diretor usou e abusou, o recorte final acabou impactando até mais do que poderia.
Com uma sonoridade interessante, a trilha original também agrada bastante e dá uma ambientação diferenciada para o filme, marcando cada momento com a forma que deve ser, talvez colocaria alguns tons mais sombrios em mais cenas, mas ficaria piegas demais, então o ritmo colocado foi o ideal para o filme.
Enfim, um ótimo exemplar nacional que coloca o Brasil no rumo de outras vertentes além das tradicionais comédias, e como foi dito no debate pós-filme com o diretor, quem sabe em breve nas locadoras tenhamos filmes classificados como devem, no caso Suspense e não apenas Filme Nacional. Não posso dizer que é um filme perfeito, pois temos alguns momentos que poderiam ser melhores, apenas para citar um o momento de encontro inicial dos dois, mas também não é nada que estrague o mérito do filme de ser um dos melhores do ano. Então recomendo com certeza o longa e fico até na torcida para que quem sabe ele ainda alcance rumos mais altos além de todos os prêmios que já está levando. O longa sofreu um pouco com a distribuição, afinal entrou em cartaz com grandes blockbusters no começo do mês passado, vindo a estrear somente agora em Ribeirão Preto à partir da próxima Quinta-feira, após ter passado por diversas capitais, então fica a dica pro fim de semana. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas ainda tenho muitas estreias por aqui para conferir e postar minha opinião, então abraços e até breve.
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