Quando vejo que meu avô com seus 82 anos já leu todos os livros de Paulo Coelho e de vez em quando até relê eles, ficava apenas curioso para saber de onde surgiu esse ser estranho que vez ou outra aparece na mídia e possui obras marcantes em seu currículo, mas o que muitos não sabiam era de suas participações compondo para Raul Seixas e tudo que sofreu para virar esse grande nome que é hoje na literatura mundial. E o filme "Não Pare Na Pista: A Melhor História de Paulo Coelho" pode até não ser a sua melhor história já escrita, mas foi tão bem desenvolvida e produzida que ficou uma biografia 100% crível, gostosa de acompanhar e que vale muito a pena ser conferida como uma das grandes obras do cinema nacional.
O filme que é a cinebiografia de Paulo Coelho, é baseado em depoimentos do escritor, e acompanha sua trajetória em três períodos diferentes: a juventude, nos anos 1960; a vida adulta, nos anos 1980; e em 2013, quando alcança a maturidade. O longa nos mostra a vida do "mago" desde seus traumas e torturas durante a Ditadura Militar no Brasil, até sua parceria com Raul Seixas e o seu sucesso como escritor.
Como a história foi roteirizada por tudo que Paulo disse para a roteirista Carolina Kotscho não podemos esperar nenhuma irreverência contraditória que mostrasse alguma coisa fora do eixo que sabemos pela mídia que ele já fez, mas também acabamos descobrindo muitas coisas interessantes da vida dele e ver como sofreu para virar o que virou hoje. Outro fator que devemos ponderar e parabenizar muito é a estreia de Daniel Augusto na direção de um longa de ficção, pois com curtas e documentários premiados, agora foi seu desafio maior de pegar uma história densa e trabalhar ela de forma bem coerente e interessante para que qualquer espectador que for ao cinema sabendo muito ou pouco da vida do escritor, saia da sessão satisfeito com o que viu, e felizmente conseguiu utilizando de uma montagem completamente quebrada, misturando as três fases da vida do protagonista, que acabou funcionando bem, mas que no início acabou até cansando um pouco o excesso de legendas informativas do ano e lugar aonde está acontecendo para que nos situássemos. Ou seja, tirando esse detalhe técnico de necessitar demasiadamente de posicionar o espectador de qual momento estamos falando, o filme em si fala sozinho e foi tão bem trabalhado pelos atores e pela produção cenográfica, a qual falarei mais nos próximos parágrafos, que com toda certeza muitos sairão da sessão achando que o próprio escritor fez muitas cenas no filme, mas não tirando os irmãos Andrade, Ravel e Júlio, em duas épocas ninguém mais fez o escritor, o que demonstra precisão de direção com sincronismo de uma boa atuação.
Falando mais sobre a atuação, Ravel Andrade começa a colher bons louros após apenas participar de curtas e ter ganho destaque em algumas peças, aqui por necessitarem de alguém parecido com o protagonista nas fases mais adultas encaixou bem por ser irmão de Júlio Andrade e não decepciona ao conseguir mostrar tudo que o personagem sofreu diante do seu pai, ainda necessita tirar alguns vícios e exageros do teatro, mas pode vingar bem no cinema por saber manter a expressão forte no rosto. Júlio Andrade já havia mostrado seu potencial fazendo Gonzaguinha, e protagonizando "Serra Pelada", mas agora mostrou força técnica e coragem para encarar tanto o momento mais rebelde da carreira do protagonista nos anos 80 quanto a atualidade, onde precisou carregar quase 5kg de próteses para ficar semelhante ao Paulo que conhecemos sem descaracterizar sua atuação, ou seja, um trabalho minucioso e desgastante, que mostrou mais do que perfeição no trabalho do ator. Nancho Novo não apenas fez algumas aparições, como foi o responsável por toda a narração dos ensinamentos que o mestre de Paulo o ensinou, e sua voz tênue ficou muito interessante de ouvir e agrada bastante. Lucci Ferreira trabalhou bem fazendo um Raul Seixas da forma que muitos ainda imaginam, todo rebelde e caricato, e sem forçar muito nos trejeitos, o jovem ator soube concentrar para termos uma participação mais que envolvente na trama. Um grande destaque fica também para Enrique Diaz que não hesitou em fazer um pai ríspido e com semblante sempre fechado, mas que ao colocar a música que foi feita para ele, acaba comovendo não só a si, mas como todos para o que vai ocorrer mais para frente. Fabíula Nascimento faz a mãe doce e interessante de ver e principalmente consegue fazer de seu personagem algo que não estrague sua carreira cômica, e por ter feito algo bem colocado acaba agradando. E por fim vale a pena destacar as mulheres de Paulo, tanto as cenas da beldade Paz Vega como a primeira esposa, quanto Fabiana Gugli que faz a atual esposa desde o fim dos anos 80 até hoje demonstrando sempre carinho e enaltecendo mais o escritor. Claro que temos momentos bobos demais com alguns atores, e Luiz Carlos Miele como avô de Paulo, Gillray Coutinho como o editor e Zéu Britto como representante da seita são os destaques negativos de caras e bocas mais nulas da história de um filme.
Agora o ponto melhor da trama sem dúvida alguma está na concepção artística que colocaram nos três momentos do filme, mostrando tanto os anos 60 bem retratados por figurinos, carros e até mesmo em diversos elementos cênicos da casa, passando depois para os anos 70 e 80 com figurinos mais hippies e toda as caracterizações de cabelos e ambientes coloridos, e ao chegar na modernidade atual com os figurinos despojados do escritor, com carros tecnológicos e tudo mais que acabam nem importando tanto para ele, se formos analisar a ideologia de sua vida. Além claro dos maravilhosos cenários do Caminho de Santiago que enaltecem todo o ar mais religioso da história. Ou seja, perfeições totais no quesito cênico que só mostram o quanto uma produção nacional se quiser ser bem feita consegue. A fotografia trabalhou com iluminações mais densas para tratar os momentos chaves e utilizou das passagens onde o escritor diz se encontrar com cores mais claras e isso chama bem a atenção para o que deve ter sido solicitado enaltecer mais, e ficou bacana de ver.
Deixei um parágrafo somente para a maquiagem para falar mais do que foi o uso das próteses pela equipe DDT, a mesma de "O Labirinto do Fauno" que aqui fizeram Júlio de Andrade a cada dia de gravação das cenas atuais do filme ficar 5 horas colando um rosto falso e pesado na sua cara, de modo que conseguisse ainda assim atuar decentemente, continuar sendo o próprio ator e parecer com o escritor da forma que vemos na mídia atual, ou seja, um trabalho perfeito, minucioso e maravilhoso de ver, que como disse no início muitos com toda certeza saíram da sala pensando que o escritor atuou no filme, portanto deixo aqui o link para quem quiser ver a transformação do ator e confirmar que não estou louco. Ou seja, um trabalho rico e perfeito de ver nas telas dentro de um filme nacional.
No quesito musical, praticamente todas as canções que Paulo compôs e foram cantadas por Raul Seixas estão presentes na trama, afinal é mais fácil conseguir autorização com o próprio autor das canções num filme que fala dele mesmo não é mesmo? E com isso o longa ganha um ritmo bem envolvente, já que todo mundo conhece a maioria das músicas e acaba cantando junto e isso ajuda bem a deslanchar a história que também optou por uma montagem diferenciada do que estamos acostumados.
Enfim, é um filme muito bem feito que agrada bastante, não é o melhor filme nacional que possamos sair falando bem para todo lado, mas podemos dizer que tivemos uma produção invejável tanto tecnicamente quanto no quesito de uma boa história atuada e dirigida. O longa ficou devendo falar mais sobre os motivos da briga dele e do Raul, mais sobre a ordem que ele faz parte, mas precisaria de um longa bem maior para falar sobre tudo isso, então vale a pena conferir a trama, com a garantia da certeza de ver algo bem feito e que quem gostar de conhecer história sobre a vida de alguém famoso vai sair bem satisfeito com o trabalho, então dessa forma acabo recomendando ele para a maioria do planeta. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas ainda temos mais alguns filmes que apareceram pelo interior para conferir, então volto em breve com mais posts por aqui. Deixo meus abraços para todos e agradecimento especial para a equipe do Cinépolis Iguatemi que continua nos proporcionando boas premières para conferir. Até breve.
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