Quando digo que o Brasil tem potencial para sair das comédias novelescas e trabalhar todos os demais gêneros, alguns amigos retrucam dizendo que sou maluco e que continuaremos vendo nas prateleiras das locadoras ou nas sinopses dos cinemas o escrito "gênero: Nacional". E quando boas obras acabam saindo nos cinemas, o que acontece, ninguém assiste, pois sai apenas 10 cópias no máximo e com isso num país imenso acaba dispersando e nem fazendo muito barulho, o que deveria ser justamente o contrário. Pois bem, felizmente após ter estreado apenas em Minas Gerais no dia 19 de junho, agora teremos o lançamento do filme "O Menino no Espelho" em São Paulo e Rio de Janeiro, e tendo o protagonista ter nascido em Ribeirão Preto e a família ser daqui, tivemos o privilégio de ter uma pré-estreia junto do jovem ator e do diretor em nossa cidade, e pudemos conferir que o longa de gênero drama infantil, ou seja, lotado de aventuras é muito bem feito e com uma singela ternura conseguiu trabalhar baseando, mas claro que não copiando ao pé da letra, no livro de Fernando Sabino, onde nos permeia uma história agradável e gostosa de acompanhar.
O filme nos situa em Belo Horizonte, meados dos anos 1930, onde Fernando é um garoto de 10 anos que está cansado de fazer as coisas chatas da vida. Seu sonho era criar um sósia, que ficasse com estas tarefas enquanto ele poderia se divertir à vontade. Até que, um dia, é exatamente isto que acontece, quando o reflexo de Fernando deixa o espelho e ganha vida.
Em momento algum podemos dizer que estamos diante de um filme de roteiro complexo, afinal a prerrogativa do diretor Guilherme Fiúza Zenha que aqui estreia na direção de longas, foi manter totalmente a vertente artística infantil, e com isso deve ter sofrido horrores, afinal a quantidade de crianças para dirigir no longa não foi pequena. Mas esse detalhe foi completamente contornado e ele saiu muito bem dos problemas com sabedoria de deixar tudo dentro da ternura que o roteiro criado em conjunto com Cristiano Abud e André Carreira, longos parceiros de roteiros, permitiu fazer. A história que Fernando Sabino pontua como sendo praticamente sua, aqui teve algumas novas idealizações e funcionaram bem para que o filme mesmo passando numa época mais dura ainda não saísse do contexto, mas fosse mais interativo com as crianças atuais, pois se abusasse apenas da imaginação como é o livro, talvez o longa acabasse filosófico demais e não seria tão gostoso de ver como acabou sendo. Por trabalhar bem com a trama, o longa exigiu bastante que os jovens atores interpretassem bastante, e conseguimos observar nitidamente os momentos que eles colocam seus dons para mostrar o que leram no roteiro quanto os momentos que usaram bastante da improvisação e acabou ficando bom o suficiente para ser usado no material final, e quando um diretor consegue diluir isso na totalidade do trabalho, o longa acaba ficando mais interessante de ver.
Falando nos atores, Lino Faciolli trabalhou bem com seu Fernando/Odnanref, e mostrou engajamento para as câmeras, conseguindo ser dinâmico e interessante, ainda não podemos dizer que será um grande nome da atuação nacional no futuro, mas como já vem trabalhando sempre com grandes nomes, o que fez bem aqui poderá ser melhorado e o que ainda não conseguiu convencer pode ser sanado, vamos torcer pelo jovem da cidade. Mateus Solano não mostrou a mesma desenvoltura que estamos acostumados a ver nas novelas, mas soube dar um tom doce para um pai da época e com isso torcer pela afetividade que tem com o filho, talvez o diretor pudesse ter trabalhado mais o personagem dele, mas como não era o ponto chave da trama acabou sumindo um pouco, sendo mais importante em cenas esporádicas. Regiane Alves trabalhou bem a interpretação para fazer uma mãe linha dura, mas sem deixar de ser mãe, trabalhando bem toda a ternura nos momentos certos para comover. Gisele Fróes faz uma professora das antigas com todos trejeitos característicos onde os alunos respeitavam por sua rispidez e também servia para educar de forma segura, caiu bem o papel para ela sem ser falsa demais. Ricardo Blat trabalhou bem seu major, mas ficou forçadamente cômico para segurar a trama no lado infantil, então acabou infantilizado demais de forma que na cena que precisou ser mais duro ninguém praticamente confirmou sua força. Vale destacar também outros atores do elenco infantil, por exemplo Giovanna Rispoli que mostrou segurança em todas as cenas que fez, chamando em alguns momentos até mais atenção que o protagonista, e Ravi Hood fez um irmão pequeno bem singelo e que nas suas cenas mostra algo bem gostoso de ver tradicional das crianças mais novinhas, enquanto já faz aquele amigo que bota você nas enrascadas, mas é ombro amigo pra hora das aventuras, todos mostrando boa desenvoltura frente as câmeras e mostrando que os jovens atores estão trabalhando bem também.
A melhor parte do filme sem dúvida fica a cargo da direção de arte que foi precisa em retratar os anos 30 com figurinos característicos, cenografia muito bem colocada para cada cena, e escolhendo a cidade de Cataguases/MG por manter ainda muito da época foi um acerto e tanto para a produção que prezou em utilizar cada elemento cênico com finalidades exclusivas para chamar atenção mínima, valendo destacar logo no início o avião construído nos moldes do de Santos Dummont, ou seja, perfeição total tanto nas escolhas como na criatividade. A equipe de fotografia soube iluminar tudo com cores mais densas puxadas para o marrom, mas sem forçar em nada para que cada situação tivesse envolvimento e aguçasse a curiosidade do espectador, além de não terem forçado a barra com granulações apelativas que a maioria usa para retratar cenas do passado.
Enfim, um filme muito gostoso de acompanhar, que mesmo não sendo perfeito por ter alguns pequenos deslizes, como a falta de ritmo em algumas cenas e usando termos que mesmo sendo de época acabará deixando algumas crianças, que são o público alvo, sem entender alguns fatos. Entretanto, consegue agradar bastante e recomendo ele para toda a família que gosta de um estilo mais puxado para o drama de investigações infantis e por mostrar que nossa literatura pode sim ainda basear bons filmes. Fica a dica então para conferir na próxima semana que o longa estreia em novas cidades, inclusive aqui em Ribeirão. Bem é isso pessoal, fico por aqui nessa semana, voltando apenas quinta-feira com novos filmes, então abraços e até mais.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...