Existem alguns filmes que rodam tantos festivais antes de saírem comercialmente no Brasil que até assusta quando vamos olhar o ano de produção. O filme "Era Uma Em Nova York" estreou em Cannes em Maio/2013, passou pelo Festival do Rio do ano passado e somente agora, 16 meses depois que o grande público poderá ver esse filme belíssimo visualmente que com atuações precisas encanta a todos que forem acompanhar a sina dura que muitas imigrantes sofreram naquela época e com certeza ainda sofrem ao entrar nos EUA.
O filme nos mostra que em busca por um novo começo em meio ao sonho americano, as polonesas Ewa Cybulski e sua irmã Magda viajaram para Nova York em 1921. Ao chegarem em Ellis Island, Magda é diagnosticado pelos médicos locais com doença e é colocada em quarentena. Ewa fica fragilizada com a situação da irmã e acaba sendo presa fácil para Bruno Weiss, um homem charmoso que a força a trabalhar como garota de programa.
A síntese do roteiro é algo bem simples, mas que foi arquitetado de uma maneira tão dolorosa que ao mostrar a dureza sofrida pelas imigrantes, que não falavam muito a língua local e acabavam caindo como patinhos nas mãos dos cafetões, acabou sendo bem dinâmica e inteligente de acompanhar. O diretor e roteirista James Gray nos ilustrou tudo isso de uma forma bem autoral e interessante de ver, que mesmo tendo noção de que tudo poderia acabar bem, afinal não estamos com uma história real de alguém que morreu, a cada ato as coisas acabavam ficando mais e mais complicadas, pois ele foi trabalhando muito os diálogos, a linguagem escolhida e a atuação dos protagonistas, o que acabou transformando o simples em algo tão rico de produção que até espanta e nos assusta pela quantidade de elementos alegóricos que nos foi proporcionado a cada ato, o que fez do filme mais do que apenas um bom roteiro, mas algo visualmente magnífico de ser acompanhado com bons ângulos de câmera que ajudaram mais ainda na dramaticidade da trama.
No quesito atuação, o trio principal foi tão bem encaixado que sinceramente não consigo ver o filme com outros atores, ou seja, cada um assumiu seu papel como se fosse algo único para eles, e isso deixou o filme mais vivo do que tudo. Marion Cotillard está tão sofrida, que o seu momento mais bem produzido no visual quase achamos ser outra pessoa deitada na cama, e com trejeitos bem clássicos chamou a responsabilidade para si e enobreceu o longa falando bem tanto em inglês quanto em polonês com um sotaque muito bem pontuado, ou seja, foi perfeita em tudo, desde seu sofrimento até os momentos menos dolorosos. Joaquin Phoenix é um dos atores que mais tem classe para interpretar um cafetão sem ser alguém caricato demais, e por incrível que pareça tem certos momentos que sua nobreza de personalidade é tão forte que passamos até a gostar dos seus atos, mas isso se deve claro à boa atuação que fez em todas as cenas. Jeremy Renner surge em cena mais para a metade final e aparece tão bem que nos dá uma nuance gostosa e romantizada para tudo que já vinha sendo sofrido pela protagonista, e o ator mantém um carisma divertido para seu personagem, fazendo com que realmente torcêssemos para que desse certo seu relacionamento. Dos demais atores quase todos fazem pequenas pontas e não valem muita atenção, tirando a robustez de Ilia Volok como o tio mal-encarado da protagonista e alguns momentos de Dagmara Dominczyk ao ser mais enfático com seu ciúmes da protagonista com o cafetão.
Como disse, um dos pontos mais fortes da trama ficou a cargo do visual, que retratou Nova York nos anos 20 de uma forma esplêndida que com tantos elementos cênicos brotando de todos os lados acaba impressionando com o trabalho minucioso tanto de pesquisa como de elaboração que a direção de arte fez. Somos presenteados com cenários que se encaixam lindamente a cada ato, melhorando consideravelmente a cada plano mostrado para realçar mais ainda tudo ao redor, sem se preocupar com nada, sempre tendo planos abertíssimos ao contrário do que muitos fariam dando closes para não mostrar que esqueceram de algo em cena, ou seja, perfeito nesse quesito. A fotografia abusou muito do tom avermelhado para realçar a iluminação da época e com isso mesmo a personagem principal sendo bem pálida, acabou ganhando uma coloração mais vívida e ficou até mais interessante, mas nos momentos mais sofridos dela e principalmente nas ruas, o tom sépia volta a aparecer para deixar o clima antigo e mostrar que a jovem está passando muito perrengue.
Enfim, é um filme que vale mais a pena ver do que ficar falando muito, e recomendo ele com toda certeza para quem gosta de um bom filme artístico, e quem for de Ribeirão Preto conhecendo as cadeias de cinema daqui recomendo correr, pois deve ficar bem pouco tempo na cidade. Talvez minha única reclamação seja em relação ao ritmo do filme que é um pouco cansativo, mas esse estilo de filme pede um andamento mais cadenciado, então nem chega a ser um defeito. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas ainda falta 1 filme da semana para conferir, além das demais pré-estreias que irei ter nessa semana que foi bem satisfatória tanto em quantidade como em qualidade das produções. Então abraços e até breve!
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