Isolados

9/18/2014 11:33:00 PM |

Se existe um estilo cinematográfico que o Brasil poderia trabalhar muito bem é o de suspense/terror, pois temos lendas estranhas, pessoas estranhas em todo lugar e lugares estranhos espalhados pelo país, além de que é um gênero teoricamente barato, que não necessita de grandes nomes, cachês ou coisas afim, porém esse gênero necessita que o diretor e/ou roteirista sejam alfaiates/costureiras de altíssimo nível, pois se um detalhe acabar descosturado, a trama toda que está envolvendo o espectador vai por água abaixo. E isso é o que destruiu o filme "Isolados", que utilizando do mote de suspense psicológico acabou criando situações bem interessantes que foi elevando tudo num crescente excelente, mas que resolveram acabar de uma forma tão tola, que mesmo todos já haviam chegado na conclusão do que aconteceu bem antes do fim acabará triste com o clichê nulo que acabou sendo escolhido. Não sei a forma que seria melhor para encerrar a trama, e não vou falar muito sobre o que ocorre para não estragar o filme de quem for assistir, mas de todas as possíveis maneiras para fechar com uma chave de bronze ao menos, essa foi a pior escolha para não ganhar chave alguma.

O filme conta a história de Lauro, um residente de psiquiatria, e sua namorada Renata, artista plástica e ex-paciente da clínica onde ele trabalha. O casal sai de férias para uma casa no alto da região serrana carioca. No caminho Lauro ouve boatos sobre ataques violentos que vêm acontecendo na região. As vítimas são mulheres, que estão sendo barbaramente assassinadas. Lauro prefere esconder o fato de Renata, que é muito sensível e se impressiona facilmente. Sem saber do que está acontecendo, ela se torna mais vulnerável. Na mata ao redor Lauro percebe sinais de que os assassinos estão cada vez mais perto e a solução é manter Renata presa na casa. O isolamento torna a situação insustentável e a luta pela sobrevivência desencadeia uma trama repleta de suspense, onde a realidade e a loucura se misturam.

Não posso dizer que é um filme perdido, pois como disse o fechamento foi o que estragou todo o restante, mas ao ocultar os assassinos do matagal e deixar toda a nuance mística da floresta, o diretor e roteirista Tomas Portella, que antes só havia dirigido a divertida comédia "Qualquer Gato Vira-lata" e trabalhado com diversos outros diretores como assistente, acabou acertando bem a mão, pois abusou da técnica da ocultação de tudo para criar o mistério e assustar no relance o público. Ao dizer suas referências para diversos jornalistas quando lançou o filme em Gramado, quem ler as reportagens já irá sabendo exatamente o final, portanto não irei citar nada, e até recomendo que quem for assistir não leia nada a respeito também, pois mesmo não funcionando exatamente como queria que ficasse, a ideologia foi até que bem executada para ocultar tudo e sem ler nada a respeito, somente descobriremos o final antes da hora se realmente o foco estiver muito aguçado com o conhecimento do estilo, pois os ângulos escolhidos pelo diretor foram alguns dos mais interessantes que já vi dentro do cinema nacional, e com o orçamento baixíssimo que trabalhou, podemos dizer que por muito pouco não tivemos algo que mudaria mesmo nosso cinema.

A atuação de Bruno Gagliasso é bem encaixada para o papel, pois como muitos dizem por aí, psiquiatras ficam na beirada de virar seus próprios pacientes, e aqui ele encarnou tão bem os seus momentos mais duros, que ficamos em diversos momentos nos perguntando muita coisa sobre ele que acaba por não revelar, e além disso, o ator não ficou caricato nem abusou do estilo novelesco que já é aclamado para criar seu personagem. Regiane Alves oscilou demais seus trejeitos, mas com o final que foi escolhido para sua personagem, tudo passou a fazer mais sentido no que faz, mas ainda assim seu passado que é mostrado não nos convence de seus distúrbios, soando bem falso a maioria de seus momentos. Juliana Alves tem algumas rápidas aparições e não chega a chamar atenção, apenas seu visual que está totalmente diferente da que conhecemos, ficando sabendo que é ela a "caseira" apenas pelos créditos. Os policiais Orã Figueiredo e Silvio Guindane são tão inúteis quanto o cachorro da casa que só sabe latir, principalmente pelo final escolhido, já que se tivessem feito qualquer outro tipo de escolha, quem sabe eles serviriam para algo. Sendo um dos últimos filmes de José Wilker antes de sua morte, aqui ele não foi tão bem aproveitado, mas trabalhou bem para mostrar um lado menos cômico seu que não conhecia e fez bem como orientador do jovem psiquiatra.

A escolha da locação na região serrana do Rio de Janeiro foi um encaixe e tanto na trama, pois a casa é sombria, a floresta tem toda uma nuance muito bem feita e os elementos cênicos escolhidos para representar tudo foi trabalhado na medida certa e tiveram todo seu valor no filme. Claro que podemos assimilar o filme de duas formas só pela cenografia, mas ainda prefiro optar que a falha está no roteiro que não ajudou a capturar a essência visual que a trama tinha para decolar. Com uma fotografia bem avermelhada devido aos vidros da casa e do fogareiro que o protagonista usa na maior parte do longa, temos algo bem bonito tecnicamente, e isso chama atenção na maior parte do filme por não terem usado ângulos tão tradicionalistas.

Enfim, era um filme que poderia ser genial, mas que por pequenos detalhes acabou ficando fora de algo aceitável para um suspense. Como disse, o final pode nos colocar como um erro totalmente grotesco e clichê, como pode até nos dar um outro relance que prefiro nem acreditar na hipótese, pois aí os furos não estariam apenas na última cena, mas no conteúdo total do filme. Vale a pena ser conferido apenas para ver algo diferenciado das tradicionais comédias nacionais, mostrando que nosso cinema pode tentar a sorte fora desse eixo, mas ainda não é o que esperamos de um bom suspense. Bem fico por aqui hoje, mas amanhã estarei de volta com mais uma das estreias da semana, então abraços e até mais pessoal.


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