Livrai-nos do Mal

9/21/2014 01:51:00 PM |

Ultimamente um gênero que tem sido subjugado é o de terror, pois acabou virando mote para filmes com câmeras nas mãos, sustos e escatologias gratuitas, e sangue voando pra todo lado sem ao menos tentar contar alguma história. Daí quando surge algum que nos remeta a algo bom que já vimos no passado, acabamos impressionados com tudo que nos é mostrado, e esse Coelho que vos digita aqui simplesmente adorou “Livrai-nos do Mal”, pois tirando certos momentos que somos pegos desprevenidos por alguma coisa gritante ou assustadora, o longa nos mostra um filme policial no melhor estilo possível, que conta uma história bem encaixada, onde o suspense acaba dominando, para nos levar em busca de uma solução para o mal que tenta dominar, e assim o letreiro inicial que anda cada dia mais comum “baseado em fatos reais” ou qualquer coisa do tipo, passa a ser até mais acreditável com o que nos é apresentado.

O filme nos mostra que o policial Ralph Sarchie tem uma intuição especial que sempre o leva a ir atrás de casos extremos e perigosos. Junto de um padre pouco convencional, instruído nos rituais de exorcismo para combater possessões demoníacas, Ralph busca respostas para sua investigação enfrentando demônios e cenas de possessão e acaba descobrindo uma verdade assustadora.

Baseado no livro de Ralph Sarchie e Lisa Collie Cool, que deixou inclusive usarem seu nome mesmo no filme, o diretor e roteirista Scott Derrickson que já está ficando especialista no gênero, aprimorando cada vez mais suas técnicas, conseguiu montar um longa onde o que menos vai importar são as cenas colocadas para pegar o público desprevenido e assustar, pois aqui o intuito é mostrar o conteúdo policial que viveu e acabou descobrindo mais dele mesmo com a busca dum caso envolvendo demônios. E com um embasamento até que bem orientado, não temos imagens gratuitas, tudo envolve algo e vai crescendo da mesma forma que a montagem de um quebra-cabeça de muitas peças, onde vamos colocando os cantinhos e depois cada encaixe vai revelando algo maior, até que o desenho esteja tão perfeito de entender que tudo entra mais facilmente, e dessa forma o que é apresentado não soa nem algo forçado nem entregue de mãos beijadas para o espectador, agradando na medida correta que um longa deve ter. Claro que quem for mais suscetível a sustos e impressionar com algumas imagens vai ficar bem tenso principalmente nas cenas do quarto da garotinha, mas como disse, esse não é o ponto chave da trama, então mesmo quem não for fã de filmes de terror, é capaz de gostar desse. Trabalhando com ângulos mais comuns de filmes policiais, onde a cena revela mais a parte lateral para envolver o espectador no clima do que com quase closes para assustar, o diretor faz outro acerto grandioso que mostra todo o trabalho de uma produção imensa cheia de detalhes para dar nuances bem feitas de uma grande equipe, mas não fique tão relaxado que temos também alguns momentos onde a câmera vai fechando e aí é onde vem a surpresa para pular da cadeira.

Um grande ponto do filme está nas mãos dos atores que se encaixaram perfeitamente aos seus papéis e nos envolveram facilmente na trama, acreditando em cada um deles por não fazerem papéis clichês e caricatos demais. Eric Bana já anda seguindo quase carreira policial, pois sempre lhe dão personagens desse estilo, claro que ele não nos decepciona, fazendo bem suas cenas, dando força visual na sua interpretação, e principalmente nos momentos finais ele entra fundo no lado mais voltado para o terror e acredita no que está fazendo, nos convencendo também da ação ocorrida ali. Édgar Ramírez logo mais também deve entrar para o celibato, pois com dois filmes seguidos fazendo um padre daqui a pouco acostuma, mas se você espera algo tradicional e cheio de clichês religiosos, pode esquecer, pois o seu Mendoza é totalmente incomum e agrada demais seu jeito de lidar com os fatos do filme, pois mostrando ter pecados também acaba criando um carisma próprio e nos envolve junto de sua personalidade, quem dera todos fizessem algo tão bem encaixado como seu estilo aqui, perfeita caracterização e atuação do ator. Sean Harris entrou no clima que a maquiagem lhe transformou em Mick Santino, e ao mesmo tempo que incorpora nos incomoda e assusta, ou seja, foi bem fundo no personagem não deixando apenas como alguém possuído, mas tendo uma vivência para passar. Da mesma forma Olivia Horton teve sua maquiagem incorporada na expressão e transformou uma mulher linda num bicho que se ver na rua dá vontade de passar com o carro em cima de tamanha incorporação da possessão que recai sobre sua Jane. As sacadas cômicas que Joel McHale dá para seu personagem ficaram bem colocadas e mostra que o ator cabe bem no papel de um policial mais divertido que na hora que precisa sai pra mão, mas também diverte nas colocações não ficando sempre de cara fechada. Os demais personagens apenas são encaixados de forma rápida na trama, e mesmo Olivia Munn e Lulu Wilson sendo da família do protagonista acabaram sendo deixadas para escanteio, só servindo a garotinha mais nas cenas para assustar.

Visualmente a trama também não nos desaponta, pois como sempre tivemos terror em casas afastadas e florestas, aqui o diferencial de ser um policial numa cidade grande, os sustos são levados mais para os bairros mais pobres que foram bem escolhidos colocando dentro das casas e salas escolhidas, poucos, mas bons elementos cênicos para mostrar o culto do demônio e as sujeiras e bichos que atraem. E esse contexto cenográfico não necessitou tanto de um trabalho minucioso, mas coube a fotografia usar de filtros mais escuros não tão fortes para que cada cena ficasse na medida correta para envolver o público e causar efeito nas cenas que tivessem que assustar, ou seja, um trabalho de produção bem feito e envolvente.

Com uma trilha sonora bem rock 'n roll, o ritmo do filme é agradável e não cansa, claro que temos alguns momentos mais parados, mas na maior parte, o agito é constante e agrada tanto quem não for tão fã de longas de terror pela movimentação que nos é colocada em diversos momentos.

Enfim, a maioria da crítica especializada não curtiu a ideia da mistura de gêneros e pontuou bem mal o longa, mas na minha humilde opinião posso considerar esse como um dos melhores do ano na característica de envolver suspense policial com terror, sem forçar tanto a barra e me remeteu completamente a outro desse estilo que foi muito bem feito no passado: "Seven - Os Sete Crimes Capitais". Portanto recomendo muito a trama tanto para quem gosta do estilo, como para quem estava com medo de ser um terror de sustos apenas. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas ainda falta uma estreia dessa semana para conferir, então deixo meus abraços com vocês e volto em breve com mais um post aqui.


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