O projeto "Cities of Love" já está na sua terceira edição e após passar por Paris e Nova York, chega agora ao Rio de Janeiro, e como dessa vez temos 10 filmes individuais, vou fazer uma breve análise de cada um, pois senão o texto ficará imenso, e ao final fecharei com a análise do último diretor que fez um excelente trabalho na junção de todos.
Dona Fulana, por Andrucha Waddington
No curta Leandro acreditava que sua avó, que conheceu quando criança, estava morta, até encontrá-la um dia na rua. Dona Fulana mora na rua, e de lá não quer sair. Mesmo com os apelos do neto, ela se recusa a voltar para casa, e ainda o leva numa experiência inesquecível pelo Rio de Janeiro.
A característica marcante dos filmes que Andrucha dirige é botar seus protagonistas quase que em um pedestal para que o personagem tenha uma vida maravilhosa, e aqui botou Fernanda Montenegro, mesmo sendo uma andarilha, como um exemplo a ser seguido com conselhos e citações que só ela como grande atriz nacional conseguiria fazer, e melhor ainda conseguiu transformar o abobado Eduardo Sterblitch num ator bem trabalhado com nuances bem encaixadas e até expressões dignas de contracenar com Fernanda.
Sem dúvida é um dos três melhores curtas tanto na experiência visual como na história contada e atuada.
Nota individual: 9
La Fortuna, por Paolo Sorrentino
A história aqui nos mostra que uma ex-modelo e seu marido vêm para o Rio de Janeiro passar férias em uma linda casa de praia. Mas ele está cansado da atitude controladora da mulher, e decide pôr um fim nessa situação.
O diretor italiano ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro desse ano nos colocou um filme estranho aqui, que começa de forma íntegra, se mostra totalmente abusado e termina na maior obscuridade possível. Os atores Emily Mortimer e Basil Hoffman foram até bem dirigidos, mas não conseguem nos deixar dentro de sintonia com a situação colocada, talvez se tivessem escancarado mais como um thriller noir como foi planejado sairia mais satisfatório.
Nota individual: 5
A Musa, por Fernando Meirelles e Cesar Charlone
Aqui nos é mostrado que o escultor Zé reproduz nas areias de Copacabana obras mundialmente conhecidas, até o dia em que vê passar uma linda jovem no calçadão. Sonhando com sua nova musa, ela o inspira a criar uma escultura original.
Ainda quero descobrir de onde vem as inspirações sensoriais que Fernando Meirelles trabalha, pois em toda obra sua, algum dos nossos sentidos são tão aguçados que acabamos viajando com seus filmes, aqui os sons fortes de marcação de cada estilo que passa pelo calçadão vai nos envolvendo e encaixa completamente com as criações do escultor vivido por um tipo nada abrasileirado de Vincent Cassel, que felizmente por não dizer uma palavra que seja, apenas trabalhar a expressão acaba nos envolvendo.
É um dos curtas que mais envolve a questão estética ao invés da forma dialogal, e mesmo assim consegue conversar conosco, talvez se não tivesse abusado tanto do calçadão para mostrar os diversos tipos que passam por ali agradasse mais.
Nota individual: 7
Acho que Estou Apaixonado, por Stephan Elliott
O filme nos mostra que Jay está no Brasil para divulgar seu novo filme no Festival do Rio. Após o evento, ele não vê a hora de voltar para o hotel e descansar, mas seu motorista não para de puxar conversa. Quando Jay se depara com o Pão de Açúcar, fica deslumbrado e é atraído até o ponto turístico.
Este é um curta que envolve três momentos bem distintos, no primeiro ato o diretor que já fez grandes clássicos nos coloca com um personagem totalmente arrogante que tenta passar ao mesmo tempo o desdém que os atores tem com o amor de suas fãs e o seu jeito de não amar, nem respeitar ninguém com a atuação densa de Ryan Kwanten e com a chatice que muitos motoristas de táxi conseguem fazer com Marcelo Serrado fazendo bem seu papel. Num segundo momento temos o absurdo máximo da escalada no Pão de Açúcar com o que encontram no topo dele, que fica pior ainda ao vermos como foi creditado o personagem de Bebel Gilberto. E para finalizar, em uma das últimas cenas do filme temos o improvável mais provável vindo do diretor australiano que faz a cena mais improvável ainda depois de tudo que aconteceu na sacada do prédio do taxista.
Acho que nem com muita droga na cabeça sairia algo normal desse pedaço, mas por trabalhar bem com as câmeras até tem seu valor.
Nota individual: 6
Quando Não Há Mais Amor, por John Turturro
A trama aqui tenta nos envolver num quase musical onde um casal viaja até a ilha de Paquetá, mas percebe que, na verdade, seu casamento está chegando ao fim. Então, eles aproveitam a ocasião para fazer uma bela despedida.
Para quem não conhece o diretor, podemos dizer como sendo um dos amigos-aprendizes de Woody Allen que mais tem feito coisas malucas por aí, e algumas até bem encaixadas. Aqui contou com uma fotografia tão puxada para o alaranjado quase rosa que praticamente destoou por completo do restante dos curtas, e com certeza deu um trabalho imenso para o diretor final. E como sempre sendo o protagonista de seus filmes foi bem fácil mostrar o fim de um casamento, pois a química entre ele e Vanessa Paradis não combinou, mas a forma gostosa que a atriz fechou cantando coube bem na trama.
Um dos curtas mais recheados de elementos cênicos, onde a equipe de arte trabalhou bem em desenvolver uma casa quase campal com muitos adornos para demonstrar o que o diretor queria.
Nota Individual: 7
Texas, por Guillermo Arriaga
No curta mais duro da compilação nos é mostrado que após um acidente de carro, Texas, um ex-lutador de boxe, perde um braço e sua esposa não consegue mais andar. Movido pelo sentimento de culpa, ele está disposto a fazer de tudo para arrecadar o dinheiro necessário para a cirurgia que pode curar sua mulher. Com isso, acaba se envolvendo em uma rede lutas clandestinas no Rio de Janeiro.
Aqui o diretor e roteirista mexicano que gosta de chocar trabalha uma situação forte que fica mais forte num segundo momento e culmina em algo tão duro de ver que só a imagem da protagonista como é mostrado não é necessário mostrar nada para nos comover, e olha que o gesto de Laura Neiva foi tão bem feito pode ter dois significados. As atuações de Marcio Rosario e Jason Isaacs são bem pontuadas, mas poderiam ser mais fortes e dramatizadas.
Embora não seja tão bem atuado também é um dos melhores curtas do filme.
Nota individual: 8
O Vampiro do Rio, por Im Sang-Soo
O curta mais non-sense possível nos mostra que Fernando é um garçom de meia-idade que trabalha num movimentado restaurante turístico. Ele mora no Vidigal, guarda um grande segredo e é apaixonado por Isabel, sua vizinha. Ela é uma mulher bonita e batalhadora, que trabalha como prostituta para sustentar a filha.
Aqui temos o diretor mais desconhecido do filme todo, e o coreano acho que tomou tanto sol na cabeça no Brasil que fez algo que já estava estranho nas primeiras cenas, mas que só foi ficando pior a cada ato, culminando num carnaval que nem em sonho alguém imaginou isso. Nunca fui fã dos trabalhos de Tonico Pereira e aqui conseguiu entrar pro hall dos seus piores trabalhos.
Sinceramente não era um curta necessário na trama, mas quiseram mostrar amores do além e foi dessa forma que conseguiram, e a equipe de maquiagem poderia ao menos ter feito próteses dentárias mais bem convincentes.
Nota individual: 3
Pas de Deux, por Carlos Saldanha
No curta mais simbólico da trama nos é apresentado um casal de bailarinos está ensaiando um novo espetáculo, quando ele recebe um convite para se apresentar no exterior. O jovem hesita em aceitar a proposta com medo de prejudicar seu relacionamento com a parceira. Faltando poucos minutos para entrar no palco, a discussão se agrava, mas o show tem que continuar.
O diretor que é conhecido por seus desenhos animados não poderia deixar que atores sobressaíssem no que ele mais conhece, e não bastando a boa interação verborrágica e com uma química bem quente entre Rodrigo Santoro e Bruna Linzmeyer, ele nos premiou com um visual de sombras dos dois(ou no caso dançarinos-dublês para dar um ar de dança melhor que os atores) acompanhado de imagens desenhadas que deram um visual incrível no telão do teatro.
É também um dos mais bonitos pela forma que é passado, mas Santoro pareceu tão exageradamente sério que nem parecia estar curtindo fazer um filme em seu país.
Nota individual: 8
O Milagre, por Nadine Labaki
O mais singelo e bonito curta da trama nos mostra que durante uma filmagem no Rio, um casal de atores famosos conhecem um menino que acredita receber telefonemas de Jesus. No início, eles o encaram com desconfiança, mas depois percebem que o "Jesus" com quem ele fala não é quem o menino está pensando.
Aqui a diretora e atriz libanesa conseguiu trabalhar bem tanto atuando quanto dirigindo e escrevendo quase que um conto natalino maravilhosamente produzido numa estação de trem, e conduziu com beleza técnica de um tom puxado para o marrom a inocência da excelente atuação de Cauã Antunes e Harvey Keitel, que em uma das transições é até sacaneado pela quantidade de filmes que já atuou.
O curtinha tem técnica, tem produção, tem direção de arte, tem fotografia impecável e atuação singela, ou seja, é o melhor de todos sem dúvida alguma.
Nota individual: 10
Inútil Paisagem, por José Padilha
No curta mais aborrecido nos é mostrado como um instrutor de asa-delta analisa sua relação com as pessoas e a cidade durante um voo na Pedra Bonita.
Bom, que Padilha é um rebelde isso todos sabemos, e aqui usa seu queridinho Wagner Moura para demonstrar o "amor" que a maioria dos brasileiros tem pelo seu país quando tudo dá errado e deseja dar um basta, Creio que foi a parte que mais foi cortada, pois tivemos mais as ideologias passadas e a atuação forte de Wagner que um filme em si, mas conseguiu passar bem sua mensagem e nos fazer rir com seu diálogo com o Cristo Redentor.
Por ser o filme que mais usou de computação gráfica nas cenas de voo, ficou artificial demais e com isso tivemos muitos problemas técnicos.
Nota individual: 6
E para finalizar temos de falar das transições que foram usadas para montar o longa como um filme praticamente único, já que não temos paradas para cada curta, sendo tudo passado em sequência, tendo no máximo um fade-out(tela escurecendo) na mudança dos mais drásticos. E esse trabalho foi feito brilhantemente pelo diretor Vicente Amorim que utilizou atores dos diversos curtas se misturando e trombando em cenas bem colocadas, além claro de ter seu elenco próprio que protagonizado por Cláudia Abreu que mostrou uma desenvoltura total com o inglês e dinamizou bem suas cenas para dar engates lógicos e coerentes.
Ou seja, Vicente foi o responsável por transformar várias ingredientes numa torta saborosa e gostosa de apreciar, que foi na minha opinião o resultado do longa. Pretendo ver os outros dois filmes do projeto para saber se o nosso foi melhor ou pior que eles, mas uma coisa que ficou evidente na trama, foi não forçar a barra para o que temos de ruim, ou seja, temos aqui um exemplo de mais um longa comercial feito para vender que o país é lindo e tudo mais.
Enfim, quem estiver preocupado em ver algo sem uma unidade pode ir tranquilo assistir ao longa que irá ver praticamente um filme só cheio de histórias bem contadas, mas que com alguns derrapares no meio do caminho, quase desandou. No geral agrada bastante e nos dá algo satisfatório que como estamos acostumados com novelas que acontecem coisas bem separadas para tudo se ligar no fim, nem iremos ter do que reclamar. Bem é isso pessoal, recomendo ele com esses detalhes para quem não for tão acostumado com esse estilo, e fico por aqui agora, mas como disse todo dia nessa semana teremos algo para comentar aqui, então abraços e até amanhã.
PS A nota geral não poderia ser outra senão a média de todos ( 9+5+7+6+7+8+3+8+10+6)/10=6,9 que com o bom trabalho de junção vamos arredondar para cima.
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