quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Entre Vales

"Entre Vales" é um filme duro que ao mostrar os dois momentos em que vive o protagonista, ele nos coloca praticamente na mesma situação dele, e isso acaba nos angustiando e situando a diferença entre os dois mundos que foi mostrado, de patrão à empregado, mas que ambos dependem do lixo para sobreviver, e isso não soa superficial como muito filmes acabam fazendo, mas algo pertinente tanto à situação quanto à um contexto de vida.

O filme nos mostra que Vicente é economista, pai de Caio e marido de Marina, uma dedicada dentista. Ele tem uma vida comum em casa e no trabalho até que uma perda seguida de outra o levam a uma jornada errática de desapego. Uma história que aborda a fragilidade do homem e sua capacidade de se recriar.

O diretor Phillippe Barcinski conseguiu trabalhar tudo com maestria ao transferir o problema tanto de identidade quanto da falta de humanismo que a pessoa acaba perdendo e está vivendo para nós espectadores, e ao mesmo tempo que isso é muito duro, ele trabalhou tão bem as câmeras, que com esse feitio ele acabou sendo quase que um gênio, pois incluiu o espectador no filme ao fazer com que não fosse apenas a sua visão ali, mas a convivência da situação em si, o que acabou aperfeiçoando uma grande realidade à trama.

Uma peça chave na trama que auxiliou demais a direção foram os atores, pois Ângelo Antônio foi humilde por ir catar lixo mesmo e trabalhou com fidelidade única para alcançar o melhor resultado possível e com trejeitos perfeitos soube agradar demais ao vivenciar tudo com força e persistência. Melissa Vettore ficou forçada demais e suas reações não nos convence mesmo ao parecer aflita, e necessitaria mais tempo para que ficássemos com pena dela, mesmo com a perda. O garoto Matheus Restiffe teve bons momentos com o pai, interpretando bem, mas sua cena de morte foi simbólica demais e não nos comove, já que pela sinopse já foi entregue. Os figurantes e coadjuvantes mandaram muito bem, auxiliando no aprendizado do trabalho e se enquadrando exatamente como deveria para dar a nuance que o diretor necessitava.

A direção de arte teve mais trabalho em ajudar nos enquadramentos que montar uma cenografia criativa nas cenas do lixão e da cooperativa, enquanto que na casa e hospital fizeram o básico para não soar falso demais. Com uma fotografia bem escura ficamos tensos com tudo que pode ocorrer, mas com uma sabedoria digna de grandes diretores internacionais, a montagem fez do filme algo inteligente e único.

Enfim, um filme excelente que nos envolve numa situação dura de imaginarmos, mas que conseguimos sentir através da ótima atuação e da direção precisa que nos foi entregue. E com isso não tem como não ficar triste com o que vemos ao presenciar a situação que muitos vivem e ficamos perguntando o porquê daquilo, mas felizes com o resultado de um excelente longa nacional que junto de outros 2 países mostrou como deve ser feito o cinema brasileiro para agradar cada vez mais. Claro que recomendo muito ele para todos, afinal não é sempre que vemos um filme nacional bem feitinho. Fico por aqui agora, mas como vi dois filmes hoje para fechar o Festival, daqui a pouco tem mais.


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