sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Made in China

Já sabemos que o gênero que move o cinema nacional é a comédia, goste você ou não da forma que é representado no país, e assim como existe em outros países, esse gênero consegue ter variações boas, ruins e péssimas, saindo desde o romance engraçado até apelo escatológico, e nesse entremeio vem surgindo um produto mais interessante que usa da leveza do cotidiano para fazer com que o público de risada, não precisando nem apelar para escatologias nem para romances enfadonhos. Com essa proposta chega na semana que vem (06/11) aos cinemas "Made in China", que brinca com a invasão dos produtos chineses nos mercados populares e de uma maneira bem descontraída consegue envolver o espectador sem precisar forçar a barra e pecando muito pouco por exageros vai com certeza divertir quem chegar preparado para o pior, afinal rola todo um preconceito logo de cara pela protagonista, e a superação atinge o gosto popular do cinema nacional.

O filme nos mostra que Francis é uma vendedora na Casa São Jorge, uma loja de brinquedos de Seu Nazir, que fica na Saara, no Rio de Janeiro. Intrigada com os preços tão baixos da loja de chineses recém-chegados no local, Francis, junto do namorado Carlos Eduardo e da companheira de trabalho Andressa, decide investigá-los para descobrir o segredo dos concorrentes e salvar o comércio do patrão.

Depois de muitos curtas-metragens, séries e programas de TV, Estevão Ciavatta estreia na direção de um longa-metragem, e ao escolher uma boa equipe de produção consegue iniciar com o pé direito, já que trabalhando com um ritmo contínuo, onde coloca o carisma da sua esposa à prova junto de outros amigos, o longa é montado para seguir uma linha única de pensamento, como os chineses conseguem preços tão baratos que acabam quebrando a economia da cidade, claro que de uma forma cômica, pois esse assunto daria um documentário pesado e bem tramado caso quisessem estudar mais a fundo a história. E sabendo escolher ângulos não tão tradicionais de câmera, o diretor desenvolveu o roteiro como sempre fez nas séries e programas que dirigiu, ou seja, deixando fluir e não se preocupando com um plano fechado característico do cinema mais tradicional, e mesmo necessitando em certas cenas fechar a lente da câmera para não necessitar de uma cenografia mais ampliada, ele ainda conseguiu segurar a trama com uma unidade bem pautada.

Quanto das atuações, não temos nenhum grande momento que mereça algum expressão mais contundente, mas Regina Casé consegue ser a grande personagem que já mantém há alguns anos em seu programa dominical, e com esse jeitão de ser ela acaba envolvendo as piadas para um lado bacana, mesmo repetindo sua frase ao menos umas 5 vezes, talvez sendo diferente não agradaria tanto, mas também o filme poderia ser outro com outra protagonista, o que atrapalharia o resultado final já que ela caiu bem no papel. Xande de Pilares estreando na atuação faz um personagem até que interessante que quem já frequentou feiras populares sabe bem da existência, e por ser um pagodeiro/sambista romântico sabe bem como impressionar quando precisa, claro que de uma forma ainda amadora na interpretação, mas não decepcionou. Juliana Alves é uma das poucas ex-BBBs que deram certo na televisão, afinal com seu corpão consegue chamar atenção nos papéis que pode ser explorado isso, só faltou colocar um pouco mais de comicidade no papel ao invés de carões para seu lado mais espiritual. Otávio Augusto é um ator que já fez de tudo na TV, no cinema e nos palcos, mas seu personagem aqui como dono de loja faltou muito arroz e feijão para agradar, o que é uma pena, já que a ideia da trama caberia facilmente como uma pós-série e necessitaria de alguém bem encaixado para o papel. Luis Lobianco deve se achar engraçado, e só ele acha isso, pois suas facetas não conseguiram sequer chamar atenção com piadas fracas e expressão mais fraca ainda, qualquer um no papel agradaria mais. Os atores chineses Liú Wang, Yili Chang e Tony Lee conseguem ao mesmo tempo ser parte da história e divertidos com suas falas que ninguém entende, e isso cabe bem na história, já que quem foi na 25 de Março ou na Saara sabe bem que não dá para entender nada o que eles falam, e ao mesmo tempo que acertaram em não legendar as falas deles, erraram ao botar símbolos chineses como sendo uma legenda, se não era pra entender nada não necessitaria nada embaixo.

Agora o maior acerto da trama ficou por conta da direção de arte de Tiago Marques Teixeira que soube utilizar o lugar popular e trabalhar bem todas as épocas comemorativas do ano, para isso fechando o campo de visão para ornamentar figurinos, cenários e objetos cênicos dando o contexto exato que a trama pedia, e esse acerto agrada bastante tanto como um simbolismo que é o comércio popular de feiras quanto envolver os personagens bem dentro da trama proposta. E junto com a equipe artística, a fotografia trabalhou bem ao iluminar com foco bem encaixado para junto do ângulo escolhido envolver as diversas cores trabalhadas para dar nuances alegres e bem colocadas na sintonia que o filme pediu.

E claro que mesmo sabendo que funk e pagode são as canções mais tocadas nesses lugares, o exagero da mixagem ficou um pouco fora de tom, chegando a irritar em alguns momentos com o excesso. Poderiam manter o ritmo facilmente com músicas do mesmo estilo, mas numa mixagem com dois tons abaixo para envolver sem destoar. No geral o resultado do ritmo satisfaz, mas o barulho demasiado chega a colocar você quase como um comprador no meio da bagunça que são esses locais, o que chega a pirar a cabeça.

Enfim, é um longa que agrada bem mais do que poderíamos imaginar. Claro que possui muitos defeitos como enumerei acima, mas são bem menores do que a comicidade passada pela trama, o que acaba envolvendo mais o espectador, e diferentemente das comédias novelescas e cheias de apelos que estamos acostumados a ver no cinema nacional, o longa desfila e faz com que todos saiam felizes sem sair ofendido com algo que pudesse chocar mais. No geral, como já falei mais para cima o resultado é satisfatório e até consigo recomendar ele para que outros amigos confiram na semana que vem, quando o longa estreia. Agradeço novamente a Difusora FM 91,3Mhz que é sempre nos convida para esses eventos e ao UCI Cinemas Ribeirão que sedia as empreitadas com todo carinho possível. Dessa vez estiveram presentes no evento a atriz Regina Casé e o diretor Estevão Ciavatta que possuem família na região, mas foram tão breves nos comentários que nem podemos dizer que foram importantes para o evento. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas logo mais estou de volta com as estreias da semana, então abraços e até breve.


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