terça-feira, 21 de outubro de 2014

Na Quebrada

Se existe uma coisa importante que deva ser valorizada dentro do cinema são os projetos sociais que incentivem melhorias dentro de comunidades e que dessa forma acabe criando formadores culturais para que possam dar ao menos cultura para a população carente. Já soube de diversos projetos pelo país que apoiam, e um deles é o Instituto Criar que foi fundado pelo apresentador Luciano Huck. Pois bem, após oficinas e curtas-metragens que foram feitos no projeto, chegou-se ao longa "Na Quebrada", através disso e demais elementos criados pelos jovens da comunidade, e o filme poderia ser imenso ao contar uma história que fosse escolhida a priori e desenvolvê-la com desenvoltura, mas ao optar por entrelaçar diversas outras montando um emaranhando quase que novelesco, acabou não contando quase que nenhuma, e com muitos erros de escolhas de linguagem, acabou se perdendo na forma construtiva de um longa e quase que ficou impossível gostar ao menos da ideologia da trama.

O filme nos mostra que entre tiros, confusões, amor e ódio, histórias de jovens de baixa renda se misturam em busca de sonhos e escolhas é sobrevivente de uma chacina. Gerson nunca teve a chance de ver o pai fora da prisão. Mônica se vê diferente de todos seus familiares. Junior é apaixonado por eletrônicos. Joana sonha com a mãe que nunca conheceu. A vida desses jovens é tocada pela arte de fazer cinema e assim podem mudar seus destinos.

Ao menos não podemos dizer que o esforço coletivo foi em vão, afinal todas as histórias possuem ao menos um elo interessante e de certa forma criativo, mas ao tentar unir todas, o clima acaba se perdendo e o diretor Fernando Grostein Andrade não consegue conduzir uma trama que o espectador ficasse curioso ao menos com alguma coisa, necessitando colocar textos escritos para contar o deslanchar de cada um ao final do longa. A história que deu origem à toda trama é a de Gerson e poderia ser um filme único no cinema de favela nacional, mas colocando todas as demais, tivemos quase um docudrama (documentário ficcional) onde cada personagem se perde no contexto e apenas falamos nossa que bacana foi aquilo não é mesmo? Por exemplo de todas as demais histórias acabamos nos envolvendo um pouco mais com o que é passado pela garota Mônica e pelos projetos que Zeca vai acabar desenvolvendo, mas não como um todo. Além disso, outro fator que acaba mostrando demais a desorientação do diretor é o excesso de planos aéreos mostrando a comunidade onde os personagens vivem, e na terceira ou quarta vez já cansamos de toda hora estar mostrando isso, e até onde eu consegui contar, afinal já estava me incomodando, foram 19, e garanto que tiveram muitas outras cenas onde não temos ninguém em quadro, mas sobe uma grua ou drone ou qualquer coisa do estilo para retratar a favela e tentar colocar o espectador na mesma situação em que vivem todos ali.

Quanto das atuações, a maioria é estreante nas telonas, e por mostrar a garra em querer fazer bem demais o seu papel, acabam até cometendo certos excessos de iniciantes, mas diferentemente do que se possa pensar, isso não atrapalha em nada a trama, muito pelo contrário, até faz com que exigíssemos menos deles. Por exemplo Felipe Dimas que já está há algum tempo atuando, fez de seu Zeca um personagem tradicional que poderíamos ver tranquilamente querendo algo diferente do que poderia ser e se mostrou tão humilde dentro da trama que não cogitamos em momento algum que ele já fosse um ator rico e vivido na TV junto de seu irmão mais famoso. Os estreantes filhos de Mano Brow, Jorge e Domênica Dias souberam colocar olhares bem longínquos para que ao mesmo tempo que torcêssemos por eles, também ficasse uma pontinha de pena, e como disse o personagem Gerson que Jorge interpreta daria um longa sozinho muito bem feito, além da história vivida por Domênica com sua Mônica ser a mais envolvente das paralelas. Jean Amorim com seu Junior é o mote cômico da história e junto com seu pai na trama Gero Camilo, são os responsáveis pelas risadas no meio de muita dramaticidade. Daiana Andrade teve a história de sua Joana mais velha rápida demais, e acabou sendo a responsável pela narração da junção das histórias, mas vale mais a pena seus momentos de criança.

Como disse, o diretor tentou nos colocar diversas vezes dentro da comunidade, e isso fez com que o trabalho da equipe artística fosse mais trabalhoso, porém acredito que nem tudo tenha saído como ele queria, pois o excesso demasiado de closes, e sabendo que a maioria dos atores não são grandes profissionais da interpretação, ele acabou fechando o ângulo não valorizando os elementos cênicos que fizeram parte das cenas mais introspectivas. E dessa forma a valorização acabou apenas para a comunidade como uma locação macro, e não cada cena com tudo que foi preparado ao redor para condizer com o que era passado no momento exato, ou seja, um recurso de certa forma desesperador para não falhar mais do que arriscar. A fotografia trabalhou com iluminações bem interessantes, e pela equipe ser principalmente do projeto, mostra que aprenderam bastante os conceitos de uma iluminação coerente com cada situação, os destaques claro ficaram para as cenas de chuva, onde os contraluz deram destaque para os personagens sem esmaecer tanto o fundo.

Enfim, é um filme razoável que se olharmos com olhares de que boa parte são amadores dá pra relevar e falar que agrada, mas como o filme teve incentivos bem recheados de verba, e outros nem tão inexperientes assim frente ao projeto, temos de respeitar o cinema e dizer que poderiam sim ter trabalhado mais para algo menos pomposo de histórias e focado apenas no que era necessário que era mostrar que devem incentivar mais o cinema dentro das comunidades carentes e que a vida de crimes não compensa, mesmo você sendo um fruto do crime. Bem é isso pessoal, como fui ver o longa sem nenhuma expectativa até que não saí tão decepcionado da sala com o que vi, mas que poderia ser algo muito melhor, com toda certeza poderia. Encerro a semana cinematográfica aqui, mas volto quinta com mais bons filmes que irão aparecer, então abraços e até lá pessoal.


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