quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Nebraska

Sim meus amigos, vocês não estão ficando malucos que esse Coelho que vos digita só viu esse maravilhoso filme chamado "Nebraska" agora, afinal como todos bem sabem 99% dos filmes que assisto são apenas no cinema, e como esse ainda não tinha vindo para cá. Mas felizmente veio como abertura do 12° Festival de Cinema de Ribeirão Preto, para abrilhantar tudo com um ar delicioso que esses velhinhos nos proporcionaram fazendo rir, emocionar e até ficar bravo com o que fazem, ou seja, uma mistura deliciosa de sentimentos que nos mostra o quão dura pode ser a velhice, mas que os jovens podem dar um carinho máximo para melhorar seu final de vida, ou ao menos conhecer mais eles.

O filme nos mostra que Woody Grant é um homem idoso que acredita ter ganho US$ 1 milhão após receber pelo correio uma propaganda. Decidido a retirar o prêmio, ele resolve ir a pé até a distante cidade de Lincoln, em Nebraska. Percebendo que a teimosia do pai o fará viajar de qualquer jeito, seu filho David resolve levá-lo de carro. Só que no caminho Woody sofre um acidente e bate com a cabeça, precisando descansar. David decide mudar um pouco os planos, passando o fim de semana na casa de um de seus tios antes de partir para Lincoln. Só que Woody conta a todos sobre a possibilidade de se tornar um milionário, despertando a cobiça não só da família como também de parte dos habitantes da cidade.

Essas propagandas de prêmios milionários são duras e fazem muitos acreditarem, mas quando cai na mão de velhinhos com Alzheimer e tudo mais que a idade permitir pode ser uma bomba. Se você alguma vez na vida assinou a revista Seleções sabe bem do que estamos falando, e o diretor aqui usou apenas de pano de fundo essa pontada na arma publicitária mais cruel que ainda existe em todos os países que possuem essa revista. Mas como isso só é usado em alguns momentos, o que importa aqui no roteiro é a vivência familiar, que é a maior falta que o velhinho tem e sente, afinal chega uma idade que os filhos e os netos se vão, as alegrias acabam virando somente reclamações, e o que sobra é um monte de pensamentos, aí qualquer coisa que apareça pode se tornar uma bomba para criar vida e querer fazer tudo. A beleza da trama que Alexander Payne nos colocou é um misto de diversos fatores, pois não temos um roteiro rebuscado, mas sim diálogos precisos e perfeitos, que no encaixe de ótimos atores e alinhados com um ritmo na medida, pois um pouco pra baixo ficaria monótono e um pouco pra cima perderia o brilho, tivemos um resultado único de ver que vai nos levando e envolvendo como se fôssemos o filho de Woody, a cada momento que passa somos mais David que tudo, e duvido que qualquer um ao final não faria o mesmo, abrilhantando demais a história toda. Não temos planos rebuscados, a ideia do tradicional funcionou muito bem para que o filme tivesse a condução certa, com um objetivo único, envolver e só, mas aí deixo a pergunta: alguém queria mais do que isso?

Trabalhar com essa quantidade de feras da terceira idade deve ter sido um prazer imenso para o diretor, pois não é necessário dizer a eles o que fazer, mas sim fazer o que eles lhe disserem, e é notável a dedicação de cada ator para o filme, vivenciando tudo como se fosse a própria história deles, as indicações de cada um foi mais do que merecida, e posso falar que mereceriam muito mais prêmios do que levaram. Bruce Dern incorporou aqueles senhores que são persistentes no que querem, e seus trejeitos foram incríveis, de forma que não dá para dizer que ele não é o Woody, e ao ver que o papel foi tão concorrido, a escolha é notória ao ver que o ator soube ser sentimental sem abusar de emoções, trabalhando mais com a verdade do que algo que fluísse como imaginário. June Squibb fez cada cena sua como algo único no cinema, e aos 85 anos merecia totalmente o prêmio de melhor atriz no Oscar, mas levou outros prêmios, e é incrível ver seu dinamismo e boa entonação na forma que impõe seu texto, agradando perfeitamente em tudo que faz, principalmente do segundo ato pra frente. Will Forte começa de forma estranha o filme e inicialmente não nos convence, mas vai crescendo tanto na trama, que da mesma forma que vai descobrindo tudo e se envolvendo mais com o pai, acabamos nos envolvendo com ele, e sai da trama de forma perfeita e linda, e o melhor sem forçar expressão em momento algum, ou seja, agiu corretamente incorporando o personagem. Daria para falar muito de cada estilo de pessoa do filme, mas ficaria até chato, já que o melhor é conhecer cada um pessoalmente adentrando à trama, então só vale destacar a cena da sala com os diversos irmãos de Woody todos no mesmo estilo, e a raiva que o personagem de Stacy Keach com seu Ed acaba nos passando.

Por ser praticamente um road-movie, as paisagens ao redor acabam dando a nuance do filme, mas ao chegar na cidade onde foi criado, o protagonista acaba vivenciando nos lugares as suas lembranças, então cada objeto cênico mantém a cidadela exatamente como era há muitos anos atrás, e mesmo que esses elementos não sejam tão importantes para a trama, para o personagem em si acaba tendo em sua memória quase que visões de toda sua vida, e isso é visto nos olhos do protagonista de uma forma incrível, além claro do objeto cênico mais precioso que é a carta com toda sua simbologia que dá contexto ao filme. Muitos ficaram perguntando o porquê do diretor fazer o longa em preto e branco, inclusive eu, mas confesso que aconteceu algo tão estranho, que não consigo imaginar ele colorido, pois a vivência que a trama nos coloca é tão única que a falta de cores passa a ser parte da narrativa, dando sensações variadas como a falta de vida do protagonista, entre muitos outros que podemos pensar, e o contraste que o diretor de fotografia conseguiu foi algo tão perfeito que me recuso a ver a cópia colorizada que estão pensando em fazer.

Enfim, é um excelente filme que agradou muito, mereceu cada uma das 6 indicações ao Oscar que teve (Filme, Ator, Atriz Coadjuvante, Fotografia, Diretor e Roteiro), pena que não tenha levado nenhum. A única coisa que tenho a pontuar seria a falta de mostrar, talvez em flashbacks algumas situações vividas pelos personagens, não apenas citá-las, pois só o jornal mostrado ficou sendo muito pouco por tudo que é dito. Porém tirando esse detalhe, é sem dúvida um dos melhores filmes do ano, principalmente no contexto artístico. Bem é isso pessoal, fica a recomendação para quem for de Ribeirão Preto, que ele estará passando nesta quinta(02/10) às 19hs e na sexta(03/10) as 21:30 no 12° Festival de Cinema de Ribeirão Preto que está sendo exibido no Cinemark Novo Shopping. Estarei conferindo todos os demais filmes e postando aqui o que achei deles, além claro das estreias da semana que estarei intercalando com o Festival. Então fico por aqui agora, mas voltarei várias vezes nessa semana. Abraços e até breve.


2 comentários:

  1. Filmaço...muito bom!!
    Faltou você comentar da cena do compressor...a parte mais legal do filme!! rs

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  2. Eder do céu... só de lembrar da cena eu já começo a rir aqui... realmente sensacional a cena. Abração!

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