Sim meus amigos, vocês não estão ficando malucos que esse Coelho que vos digita só viu esse maravilhoso filme chamado "Nebraska" agora, afinal como todos bem sabem 99% dos filmes que assisto são apenas no cinema, e como esse ainda não tinha vindo para cá. Mas felizmente veio como abertura do 12° Festival de Cinema de Ribeirão Preto, para abrilhantar tudo com um ar delicioso que esses velhinhos nos proporcionaram fazendo rir, emocionar e até ficar bravo com o que fazem, ou seja, uma mistura deliciosa de sentimentos que nos mostra o quão dura pode ser a velhice, mas que os jovens podem dar um carinho máximo para melhorar seu final de vida, ou ao menos conhecer mais eles.
O filme nos mostra que Woody Grant é um homem idoso que acredita ter ganho US$ 1 milhão após receber pelo correio uma propaganda. Decidido a retirar o prêmio, ele resolve ir a pé até a distante cidade de Lincoln, em Nebraska. Percebendo que a teimosia do pai o fará viajar de qualquer jeito, seu filho David resolve levá-lo de carro. Só que no caminho Woody sofre um acidente e bate com a cabeça, precisando descansar. David decide mudar um pouco os planos, passando o fim de semana na casa de um de seus tios antes de partir para Lincoln. Só que Woody conta a todos sobre a possibilidade de se tornar um milionário, despertando a cobiça não só da família como também de parte dos habitantes da cidade.
Essas propagandas de prêmios milionários são duras e fazem muitos acreditarem, mas quando cai na mão de velhinhos com Alzheimer e tudo mais que a idade permitir pode ser uma bomba. Se você alguma vez na vida assinou a revista Seleções sabe bem do que estamos falando, e o diretor aqui usou apenas de pano de fundo essa pontada na arma publicitária mais cruel que ainda existe em todos os países que possuem essa revista. Mas como isso só é usado em alguns momentos, o que importa aqui no roteiro é a vivência familiar, que é a maior falta que o velhinho tem e sente, afinal chega uma idade que os filhos e os netos se vão, as alegrias acabam virando somente reclamações, e o que sobra é um monte de pensamentos, aí qualquer coisa que apareça pode se tornar uma bomba para criar vida e querer fazer tudo. A beleza da trama que Alexander Payne nos colocou é um misto de diversos fatores, pois não temos um roteiro rebuscado, mas sim diálogos precisos e perfeitos, que no encaixe de ótimos atores e alinhados com um ritmo na medida, pois um pouco pra baixo ficaria monótono e um pouco pra cima perderia o brilho, tivemos um resultado único de ver que vai nos levando e envolvendo como se fôssemos o filho de Woody, a cada momento que passa somos mais David que tudo, e duvido que qualquer um ao final não faria o mesmo, abrilhantando demais a história toda. Não temos planos rebuscados, a ideia do tradicional funcionou muito bem para que o filme tivesse a condução certa, com um objetivo único, envolver e só, mas aí deixo a pergunta: alguém queria mais do que isso?
Trabalhar com essa quantidade de feras da terceira idade deve ter sido um prazer imenso para o diretor, pois não é necessário dizer a eles o que fazer, mas sim fazer o que eles lhe disserem, e é notável a dedicação de cada ator para o filme, vivenciando tudo como se fosse a própria história deles, as indicações de cada um foi mais do que merecida, e posso falar que mereceriam muito mais prêmios do que levaram. Bruce Dern incorporou aqueles senhores que são persistentes no que querem, e seus trejeitos foram incríveis, de forma que não dá para dizer que ele não é o Woody, e ao ver que o papel foi tão concorrido, a escolha é notória ao ver que o ator soube ser sentimental sem abusar de emoções, trabalhando mais com a verdade do que algo que fluísse como imaginário. June Squibb fez cada cena sua como algo único no cinema, e aos 85 anos merecia totalmente o prêmio de melhor atriz no Oscar, mas levou outros prêmios, e é incrível ver seu dinamismo e boa entonação na forma que impõe seu texto, agradando perfeitamente em tudo que faz, principalmente do segundo ato pra frente. Will Forte começa de forma estranha o filme e inicialmente não nos convence, mas vai crescendo tanto na trama, que da mesma forma que vai descobrindo tudo e se envolvendo mais com o pai, acabamos nos envolvendo com ele, e sai da trama de forma perfeita e linda, e o melhor sem forçar expressão em momento algum, ou seja, agiu corretamente incorporando o personagem. Daria para falar muito de cada estilo de pessoa do filme, mas ficaria até chato, já que o melhor é conhecer cada um pessoalmente adentrando à trama, então só vale destacar a cena da sala com os diversos irmãos de Woody todos no mesmo estilo, e a raiva que o personagem de Stacy Keach com seu Ed acaba nos passando.
Por ser praticamente um road-movie, as paisagens ao redor acabam dando a nuance do filme, mas ao chegar na cidade onde foi criado, o protagonista acaba vivenciando nos lugares as suas lembranças, então cada objeto cênico mantém a cidadela exatamente como era há muitos anos atrás, e mesmo que esses elementos não sejam tão importantes para a trama, para o personagem em si acaba tendo em sua memória quase que visões de toda sua vida, e isso é visto nos olhos do protagonista de uma forma incrível, além claro do objeto cênico mais precioso que é a carta com toda sua simbologia que dá contexto ao filme. Muitos ficaram perguntando o porquê do diretor fazer o longa em preto e branco, inclusive eu, mas confesso que aconteceu algo tão estranho, que não consigo imaginar ele colorido, pois a vivência que a trama nos coloca é tão única que a falta de cores passa a ser parte da narrativa, dando sensações variadas como a falta de vida do protagonista, entre muitos outros que podemos pensar, e o contraste que o diretor de fotografia conseguiu foi algo tão perfeito que me recuso a ver a cópia colorizada que estão pensando em fazer.
Enfim, é um excelente filme que agradou muito, mereceu cada uma das 6 indicações ao Oscar que teve (Filme, Ator, Atriz Coadjuvante, Fotografia, Diretor e Roteiro), pena que não tenha levado nenhum. A única coisa que tenho a pontuar seria a falta de mostrar, talvez em flashbacks algumas situações vividas pelos personagens, não apenas citá-las, pois só o jornal mostrado ficou sendo muito pouco por tudo que é dito. Porém tirando esse detalhe, é sem dúvida um dos melhores filmes do ano, principalmente no contexto artístico. Bem é isso pessoal, fica a recomendação para quem for de Ribeirão Preto, que ele estará passando nesta quinta(02/10) às 19hs e na sexta(03/10) as 21:30 no 12° Festival de Cinema de Ribeirão Preto que está sendo exibido no Cinemark Novo Shopping. Estarei conferindo todos os demais filmes e postando aqui o que achei deles, além claro das estreias da semana que estarei intercalando com o Festival. Então fico por aqui agora, mas voltarei várias vezes nessa semana. Abraços e até breve.
Filmaço...muito bom!!
ResponderExcluirFaltou você comentar da cena do compressor...a parte mais legal do filme!! rs
Eder do céu... só de lembrar da cena eu já começo a rir aqui... realmente sensacional a cena. Abração!
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