Antes de mais nada, assim como eu saí dando bordoadas na tradução literal do título "The Physician" para "O Físico", utilizei dos serviços de pesquisa do meu amigo quase historiador Cardoso Junior para poder dizer que na Idade Média, o médico ou curandeiro da corte real era chamado de físico, então aqui com o deslanchar da história e já ficando com um mini-spoiler no ar, a tradução não foi tão em vã, aliás o próprio livro que foi base para o filme foi traduzido aqui assim também. Dito isso, o que mais posso adiantar antes de explanar cada parte no texto abaixo é que é um filme de cenografia riquíssima, onde os personagens não omitem detalhes de quão precária era a medicina naquela época, mas com ótimas atuações, temos um panorama crível e bem elaborado de tudo que tentam nos passar. O único porém que cito é que quem não for forte para ver umas doencinhas feias, não coma durante o filme.
O filme nos situa na Inglaterra, século XI. Ainda criança, Rob vê sua mãe morrer em decorrência da "doença do lado". O garoto cresce sob os cuidados de Bader, o barbeiro local, que vende bebidas que prometem curar doenças. Ao crescer, Rob aprende tudo o que Bader sabe sobre cuidar de pessoas doentes, mas ele sonha em saber mais. Após Bader passar por uma operação nos olhos, Rob descobre que na Pérsia há um médico famoso, Ibn Sina, que coordena um hospital, algo impensável na Inglaterra. Para aprender com ele, Rob aceita não apenas fazer uma longa viagem rumo à Ásia mas também esconde o fato de ser cristão, já que apenas judeus e árabes podem entrar na Pérsia.
Para quem gosta de filmes que envolvam História esse é um prato cheio, já a produção foi impecável com a cenografia, e moldou um Oriente Médio bem interessante, bem como também uma Europa jogada às traças no início do filme. O roteiro em si, possui alguns furos e alguns clichês exagerados, mas nada que quem for disposto à assistir um filme e se envolver com ele consiga relevar, afinal como já disse em alguns textos se você se envolver com a trama não vai ser defeitos que vão lhe tirar o prazer de estar assistindo ao filme. Acredito sim, que o texto do livro de Noah Gordon deva ser de uma precisão cirúrgica, pois se somente em quase duas horas (sim, o filme foi reduzido no Brasil, de 150 minutos para 119 minutos, sabe-se lá por quais razões) conseguimos ver tudo que é passado pelo roteirista Jan Berger, então é algo que valha a pena ser lido para enxergar mais detalhes da trama. O diretor Philipp Stölzl trabalhou a história um pouco acelerada demais, e isso funciona mas chegamos ao final um pouco cansados com tanta informação, que poderia ter sido diluída mais proporcionalmente, não enrolando tanto em algumas firulas desnecessárias, e trabalhando mais os pontos cruciais da trama. Claro que o longa por ser da escola alemã de cinema, algo que não é muito comum de aparecer pelos cinemas daqui, temos uma leve estranheza com as cenas mais impactantes, que preferem manter e serem apedrejados, do que cortar fora para ter algo mais light, mas isso com o andamento do filme fica bem em segundo plano e acostumamos com o que estamos vendo.
Outro fator que fez do filme algo meio duro por aqui, é a falta de atores mais conhecidos, pois tirando Ben Kingsley e Stellan Skarsgård que todos já viram nas telonas inúmeras vezes, o restante é praticamente carinhas novas por aqui, mas longe de ser ruim, todos mostraram um jeito diferente e interessante de atuar, que se pegar o estilo é capaz de gostar bastante. O protagonista Tom Payne tem um semblante de boa postura e engajado nos trejeitos consegue segurar a trama nos pontos mais duros, porém quando precisou dialogar demais sentimos uma falta de força para com o papel que representava, já com seus 32 anos poderia ter despontado mais facilmente, então não garanto que vá explodir mais para frente, visto que agora sendo protagonista não decolou, fica mais difícil no futuro. Stellan Skarsgård deu um tom cômico gostoso para o início e fim da trama, sendo fanfarrão e bem trabalhado no figurino manteve sua linha forte e soube dosar as cenas em que esteve para não saírem do clima, afinal sendo um barbeiro, médico mais precário das antigas, poderia fazer cenas tão duras quanto quisessem, e ele saberia fazer também. Ben Kingsley é um dos melhores atores há muito tempo, pois qualquer papel que lhe é entregue, ele retorna com uma qualidade melhor que a esperada, e aqui como mentor de diversos alunos do seu curso de Física ou Medicina como preferir, apesar de que no seu curso não abriam ninguém por ser contra às leis religiosas da época, ele simplesmente humaniza o papel que poderia ser algo completamente diferente, mas caiu como uma luva em suas mãos. Olivier Martinez faz um Xá ou Shah bem no estilo me ame ou eu te mato, e suas cenas são muito engraçadas e bem colocadas na trama, seus olhares são fortes, mas poderiam ter alongado mais sua participação na tela. Emma Rigby não é daquelas mulheres que alguém brigaria feio por ela, e muito menos a compraria, ainda mais com a atuação fraquinha que teve no longa, ficando jogada bem em segundo plano, apenas como meta do protagonista.
Bem, como todo épico temos cenografias gigantescas, cenários bem trabalhados e figurinos impecáveis para contar até mais história que o próprio roteiro e diálogos, e nesse quesito o filme não falha em uma agulha sequer, mostrando objetos toscos que eram usados para "curar" as pessoas, colocaram já em pauta o início das guerras no Islã e tudo mais que poderiam trabalhar visualmente num único filme, Com diversos elementos cênicos, em cada cena podemos nos remeter o detalhamento para um ângulo apenas, e isso funciona, pois mesmo tendo diversos pontos para observar numa única cena, o elemento principal está bem destacado para funcionar o andamento do filme. A fotografia usou demais o filtro avermelhado e isso deixou o tom da trama quase que como um campo de batalha, e se fosse para pontuar erros, consideraria esse o maior defeito, claro que em longas épicos abusam de colorações, mas aqui caberia melhor um sépia amarronzado que o vermelho.
Enfim, é um filme muito bem feito que quem quiser achar erros dá para brincar por horas a fio, mas quem estiver interessado em curtir uma boa trama também sairá muito satisfeito da sessão. Recomendo bem ele principalmente para os amigos médicos que como disse uma senhora que estava na fileira atrás da minha de quinta até hoje ela já assistiu 3 vezes apenas para dar mais valor à tudo que ela tem a disposição dela na profissão hoje, então deixo a cargo dele a recomendação maior. Bem é isso pessoal, encerro hoje essa semana cinematográfica curta, mas feliz por termos um final de semana com filmes que valeram a pena conferir, agora é descansar da correria que foi as duas últimas semanas, e aguardar o que virá na próxima. Então abraços e até quinta pessoal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...