sexta-feira, 3 de outubro de 2014

O Melhor Lance

Estou pensando seriamente no que vou escrever aqui hoje, pois como dizem os policiais nos filmes quando vão prender alguém: "tudo que disser poderá ser usado contra você em um tribunal", e se eu falar qualquer detalhe de "O Melhor Lance" irei quebrar exatamente tudo o que me deixou com o queixo no chão ao final do filme. Claro que não é um longa que você vai chegar, sentar na primeira fila e já sair adorando, pois o mercado de leilões e obras de arte convenhamos que é algo chato demais, mas conforme vamos pisando em ovos com tudo que vai ocorrendo, o longa nos envolve e assim como um equipamento mostrado nas cenas finais, dá uma volta de 360° ao quadrado. E isso meus amigos, só quem assistir poderá ver o quão bom é ser surpreendido com um final totalmente inesperado.

O filme nos mostra que no mundo dos leilões de arte e antiguidades de alta qualidade, Virgil Oldman é um conhecido e apreciado especialista em arte. Ele é contratado por uma jovem herdeira, Claire Ibbetson, para leiloar a grande coleção de obras de arte deixada por seus pais. Mas, por alguma razão, Claire sempre se recusa a ser vista pessoalmente. Robert, que ajuda Virgil a restaurar e montar algumas peças mecânicas antigas que encontra na casa da moça, também lhe dá conselhos sobre como ganhar sua confiança e lidar com os sentimentos que tem em relação a ela.

O interessante do roteiro é que diferente da maioria dos suspenses que nos vai dando migalhas para termos o pão inteiro ao final, aqui o diretor e roteirista Giuseppe Tornatore prefere nos situar muito bem dentro do mundo das obras de arte e do feitio de leilões, alinhando em segundo plano o conhecimento das mulheres pelo jovem engenheiro que acaba dando diversas dicas de conquista para o velho que só teve mulheres pagando ao amigo. E o mais complexo é que todo esse envolvimento acaba tirando o foco completamente do que poderia talvez ser pego facilmente, mas que por questões éticas esse Coelho que vos digita deixará que cada um pegue a situação e digo mais, recomendo que todos que forem assistir, entre no clima que o diretor nos empurra, para ser surpreendido, ao invés de tentar matar toda a charada logo de cara, pois realmente o diferencial do filme ficou por conta da surpresa.

Falar das atuações aqui é algo tão delicioso quanto assistir ao filme, pois Geoffrey Rush nos presenteia com um show de interpretação, mostrando que sabe ser rude, alegre, emotivo, fanático e desesperado em um único filme, e melhor, dando um estilo diferente para cada momento, ou seja, um ator mais que completo que merecia completamente ser lembrado nas premiações pelo que fez aqui, de forma que conseguimos começar o filme odiando ele, no meio estamos amando junto com ele e torcendo para que tudo dê certo, e ao final ficamos igual ele fica (quase escapei novamente, segura o spoiler Coelho). Jim Sturgess soube dosar momentos engraçados no melhor estilho "Hitch - Conselheiro Amoroso" e com diálogos interessantes acaba agradando bastante no que faz, talvez alguns momentos seus poderiam ser de uma comicidade menor para a trama ficar mais séria, mas funcionaram bem como quebra do drama, além de que o ator fez tudo muito bem no seu papel. Sylvia Hoeks trabalhou com o mistério em mais da metade do filme, sendo apenas uma voz e alguns olhares, mas ao sair do quarto impostou seu corpo pra trama e fez uma interpretação mais dramática ainda, sabendo pontuar suas falas e olhares como se não necessitasse aparecer em momento algum, saindo melhor ainda com isso. Donald Sutherland fez tão poucas cenas aqui, que valeria mais tempo de tela, pois seus momentos junto do protagonista são hilários e o ator é muito bom no que faz, claro que tivemos algumas cenas que dá raiva do seu jeito de ser, mas é o papel, então se ele conseguiu isso, é mérito de sua atuação. Dos demais personagens, a maioria aparece para ligar as pontas e não prestamos quase atenção nenhuma neles, mas deveríamos além dos protagonistas que estão a todo momento nos enganando na mistura do que é verdadeiro e o que não é, afinal isso é o que todos acabam reparando em obras de arte, e assim vale destacar claro o caseiro Philip Jackson que aqui entra em substituição ao tradicional mordomo dos filmes de suspense, e faz bem seu papel tirando que algumas cenas ele manca, e em outras apenas falha com um dos pés, e a pequena moça expiadora de janela Kiruna Stamell que é quase um robô numérico, mas que lá pro final iremos saber mais sobre sua importância.

Como estamos falando de um filme que envolve mobílias antigas e obras de arte, não temos como não observar o trabalho impecável da direção de arte que se não enfartaram para fazer tudo o que lhe foi encomendado, podem fazer qualquer filme agora que será moleza, temos réplicas mais variadas possíveis de quadros famosos, muita mobília trabalhada, elementos cênicos para ninguém reclamar da falta de nada, além claro dos elementos-chave do filme que ficaram por conta do robô e das peças que foram montando todo o quebra-cabeça (vou parar de falar aqui, senão daqui a pouco entrego mais algo). A fotografia trabalhou bem com o tom avermelhado quase marrom, mas longe do sépia, e isso se deve ao estilo artístico das pinturas e obras de arte, mas o tom cinza cairia bem aqui também para ajudar um pouco mais na tensão, porém como o diretor optou em nos enganar, a tensão foi deixada somente pro final, e aí o tom vira outro.

Enfim, muitos vão me xingar, afinal acho que nunca escrevi um texto tão confuso, mas já são 2 da madrugada e acredito que não soltei spoilers demais, como disse tentem ver o filme da forma envolvente que o diretor tentou e conseguiu nos enganar, pois se for armado como um investigador nato é capaz de não sair tão satisfeito com a trama. Claro que recomendo demais ele, e quem puder e quiser discutir depois, só enviar perguntas aqui ao lado no contato que contar spoiler nos comentários fica chato pra quem vai ver ainda. Então fico por aqui agora, mas ainda hoje confiro uma das estreias da semana, e no sábado já estou de volta com o Festival de Cinema de Ribeirão Preto, lembrando que esse filme irá passar hoje às 19hs no Cinemark, então quem quiser corre pra lá. Abraços e até breve pessoal.


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