Ao mesmo tempo em que fico muito feliz por ver produtoras pequenas conseguirem lançar seus longas comercialmente por todo o Brasil, fico também extremamente desapontado por banalizarem uma história que poderia ser de um potencial interessante, já que proveio de um curta feito no Canadá pelo diretor, e ao ser transformado em longa "Sobrevivente Urbano" virou uma enrolação sem limites, onde ninguém está preocupado com o conteúdo final da história, pois os atores fingem fazer caras que nem eles sabem o porquê estão fazendo, a montagem utilizou inúmeras imagens de arquivo aéreo para tentar conectar partes "teoricamente" sem nexos e a direção se perdeu ao não saber o que fazer de um roteiro simples, mas que poderia sim virar longa, porém com um trabalho gigantesco em cima, e preferencialmente escrito por outra pessoa que não ele próprio.
O filme nos mostra que saindo do trabalho, Daniel flagra o famoso jornalista Erick Mayer sendo ameaçado por um grupo de criminosos. Ele registra a cena com seu celular e, após ser surpreendido, torna-se alvo do líder da gangue, Tony, e do delegado Cesar Romero. Difamado e perseguido, Daniel precisa encontrar uma forma de salvar a esposa, sequestrada pelos bandidos, e tem apenas um amigo como aliado.
Se você leu a sinopse acima, acrescente muitas imagens inúteis, cenas dignas de uma novela bem ruim, e pronto, não será necessário perder 110 minutos da sua vida para conferir o longa. Um fator totalmente explicável sobre o maior erro da trama é o diretor pegar algo seu, um curta que filmou no Canadá, e ele mesmo recriar a história alongando apenas, e antes que me perguntem, não vi o curta, mas é notável a característica de enrolação de tempo, pois não temos uma história desenvolvida, mas sim pedaços de história que se juntarmos eliminando a encheção de linguiça não daria nem 70 minutos, e dessa forma acabaria nem sendo considerado longa-metragem, sendo classificado como um média. O diretor José Claudio Silva errou feio na condução da trama, já que o que vemos são os atores perdidos em cena, e alguns até saindo do plano convincente que deveria ser para que o filme se encaixasse ao menos em uma realidade, mesmo que abstrata. Ou seja, a ideia foi considerável, mas a execução completa falhou e muito.
O nível das atuações é tão fraco que não consigo relevar algo que seja útil falar deles, mesmo das coisas ruins que cada um aprontou, mas vamos lá. Toni Garrido ao menos aparenta estar mais gordo, afinal na última vez que o vi cantando achei que fosse voar, e aqui como ator mostrou que ainda canta bem, pois nem em milênios teríamos um chefe de quadrilha tão burro que pega a arma na mão e pensaria em algo senão mandar pro espaço quem quer que seja que estivesse na sua frente. Carlos Bonow tem tanta expressão que nos assusta com seu Erick, pois há momentos que deveria estar com cara de choro e se faz de bêbado, em seguida precisa se desesperar e está com sorriso irônico na face, ou seja, se alguém conseguir entender seu personagem sem ser pela trama explicada pode ser considerado gênio. André Di Mauro fez a escola "Tom & Jerry" de fuga com o seu Daniel, pois corre, corre, corre e acaba sendo pego ao lado de onde saiu, na outra cena, fica pulando de pilar em pilar e acaba no mesmo lugar, assim não dá para torcer para ele, além de sua cara de raiva ser tão fraca quanto os momentos em que conversa com a filha. Luciano Szafir não mostrou seus anos de atuação na trama, aparentando que fez seu Delegado de forma tão contraditória e sem satisfação com o papel que acaba ficando até chato suas cenas, além de que o erro ridículo de figurino para ele e seus policiais com distintivos pendurados no estilo americano de ser ficou péssimo. Liége Müller fazendo a esposa de Daniel, nas cenas de dramaticidade dá risada pedindo socorro, nem vou falar mais nada dela que só isso já mataria qualquer coisa boa que tivesse feito, mas não fez, então melhor nem falar muito. Déo Garcez mostra que seu Marcos é quase um hacker múltiplo com tudo que consegue fazer, além de adorar closes grudando sua cara quase sempre na câmera, ou seja, uma maluquice total. Bom se os protagonistas já foram desse nível, imaginem os secundários e figurantes, o destaque negativo fica para as recepcionistas inúteis e bobas.
Visualmente, as locações foram num nível até que aceitável, mas longe de conseguir agradar, tanto que foi necessário muito material extra aéreo para suprir os intervalos das cenas, e isso é uma falha grotesca para equipe que não preparou o cenário para que a trama se deslanchasse ali. Não temos praticamente nenhum elemento cênico contundente senão o telefone que foi usado na filmagem, e mesmo sendo algo importante, não deram a relevância que poderia para o objeto. A equipe de fotografia ficou com um medo monstruoso de não usar filtros e transformar o longa em um novelão, e com isso acabou errando demais com as nuances escolhidas, não trabalhando cores em nenhuma cena e deixando que o público decidisse qual cena valesse prestar atenção, e dessa forma com o final até daria para ter uma outra opinião sobre a trama, mas onde deveriam ter dado ênfase com a iluminação, acabaram esquecendo de focalizar.
Já vi partes sonoras estragarem um filme, e trilhas que deram ao menos uma segunda chance para uma trama, mas piorar algo que já estava ruim foi a primeira vez. As canções tocadas até envolvem e trazem algum sentido para a trama, mas as orquestradas escolhidas ficaram parecendo que foi comprado um HD de trilhas e saíram jogando na trama aleatoriamente, não tendo nada combinando com nada na cena, ou seja, uma bagunça total.
Enfim, não sei se por ter sido o último dia dele na cidade, a sessão estava totalmente vazia mesmo no dia mais barato do cinema, tendo apenas esse Coelho aqui assistindo ao filme, e em parte fico feliz com isso, pois mais ninguém acabou jogando dinheiro fora e saindo do cinema com mais convicção de que o cinema brasileiro não presta, o que já desmenti em diversos outros longas que considerei bons e excelentes, mas aqui já deixo claro para quem ver em cartaz na sua cidade que fuja dessa bomba, pois não vale a pena sair de casa para ver isso. Como disse no começo fico feliz por uma produtora/distribuidora pequena conseguir lançar no mercado comercial hiper-competitivo que temos seu longa, mas poderiam ao menos ter dado uma caprichada a mais. Fico por aqui agora, mas não consegui fechar a semana cinematográfica, de forma que acabei deixando um longa dessa para a próxima, mas em breve já irei conferir e falar sobre ele, então abraços e até breve pessoal.
PS: A nota vai apenas pela força de vontade e o sucesso na distribuição, pois tirando isso, o restante não valeria nem 1 coelho.
Caro Fernando,
ResponderExcluirMeu nome é José Claudio, escritor e diretor de SOBREVIVENTE URBANO, não tenho nenhum problema em aceitar "criticas", afinal, o filme é publico e se tem o direito de gostar ou não, mas sinceramente acho que apesar de achar perda de tempo deveria assistir o filme outra vez, afinal algumas colocações suas foram totalmente infundadas, típico de quem não prestou atenção no filme.
Primeiro de tudo, o filme não foi apenas pegar o curta e "encher linguiça" para alongar, afinal tem muitas outras tramas e variáveis que não haviam no curta metragem, afinal nem sei se assistiu ao curta!!!
Quando diz "ninguém está preocupado com o final da história", acho que realmente não deve ter prestado atenção ao filme, ou pode não ter entendido, mas a história é o ponto mais forte do filme, tendo sido elogiado por pessoas do ramo da Tv e cinema.
Como disse, aceito críticas, voce pode dizer que a trilha sonora não combinou com o filme, que a atuação dos atores não "convenciam", que tem muitas cenas de stockshot e por aí vai, mas não "meter o pau" discaradamente com opiniões sem fundamento.
Um exemplo disso é que voce diz que o André di Mauro, corre, corre e é pego no mesmo lugar. Caso voce não conheça o shopping Downtown onde foi feita a cena da perseguição, não deveria falar antes de se informar, pois as 4 entradas da parte de trás do Shopping são praticamente iguais mas não são as mesmas. O mesmo acontece quando diz que ele pula de pilar em pilar e acaba no mesmo lugar.
Quando fala do Tony, já se vê que não entendeu o filme, afinal o personagem dele, apesar de ser chefe de uma gang, tem um tom de humor, por isso ele não morre nunca e também não atira na hora certa, parecendo um fraco, mas é proposital, caso não tenha entendido.
Não vou me alongar, pois acho que já entendeu o meu recado. Perca um tempinho e assista o filme de novo, pois as vezes vemos tanta coisa ruim que quando algo bom aparece não se percebe por estarmos embotados e já sem sensibilidade para distinguir entre coisas boas ou ruins.
Pra finalizar, a trilha sonora não foi comprada em nenhum HD ou na internet, foi composta por mim, Maestro formado na Berklee (USA), tenho sinfonias gravadas na Austria e fiz trilha para novelas e minisséries. Além disso tem o Marcelo Cabral, produtor musical da Record e Dominique de Witte, um artista Franco-Canadense. Então acho melhor fazer suas críticas de forma mais profissional ou quem vai parecer TOM & JERRY será voce.
P.s. Estudei cinema no Canadá, foram dois anos em que trabalhei em todas as áreas de uma produção cinematográfica, portanto tenho conhecimento e experiência para saber o que está certo ou errado em meu próprio filme.
Gosto não se discuti mas técnica sim.
José Claudio Silva
Maestro e Cineasta
Olá José Claudio, como você mesmo disse gosto não se discute! E infelizmente não gostei praticamente de nada do que vi. E para falar de técnica posso dizer com propriedade, afinal não sou jornalista, muito pelo contrário, fiz faculdade de cinema, sou produtor antes mesmo de crítico e tenho não 1 mas 10 curtas que produzi e 1 que dirigi inclusive, os quais aceitei todas as críticas possíveis sobre eles, afinal sempre prezei por boa técnica em todos, e ouvi muito sobre eles.
ResponderExcluirAcabei fazendo críticas por viver mais dentro de um cinema do que na minha própria casa, ou seja, vejo mais filmes do que muitos parentes meus.
E conversando sobre seu filme com o gerente do único cinema que passou na cidade, das 19 pessoas que assistiram em 1 semana que ficou em cartaz, somente eu e mais 2 ficaram até o fim, ou seja, assisti prestando muita atenção.
Se você ler outras críticas minhas verá que o que menos gosto é falar mal dos longas nacionais, afinal por ser produtor nunca sei o dia de amanhã, e quem sabe posso até trabalhar com os diretores que critiquei, mas confesso, que seu longa possui defeitos incríveis, alguns você sanou no comentário, explicando sobre o shopping que desconheço, sobre a personalidade que quis passar para o personagem do Tony, sobre as composições esquisitas e tudo mais. Mas como você afirma que apenas não gostei do longa, cada um acha o que quer.
Abraços!
Obrigado pela atenção pois lhe respondi também em consideração profissional
ResponderExcluirJosé Claudio
Coelho, eu fui um dos 2 que assistiram o filme até o fim. E me entristece, mas tenho que concordar com você em absolutamente tudo o que disse. Também torço muito pelo cinema nacional independente, mas não é "passando a mão na cabeça" que vamos resolver o problema do nosso cinema. O roteiro deste filme é provavelmente o pior que já chegou a uma sala de cinema do Brasil, a fotografia é pavorosa, e as atuações foram muito prejudicadas por uma edição amadora. O diretor acumulou várias funções e, como diz o ditado, quem faz tudo não faz nada bem. O mais incrível é que o José Cláudio é um músico com um trabalho significativo, e nem a música se salvou nessa confusão...
ResponderExcluirFico na torcida para na próxima produção ele usar essa experiência como aprendizado, e delegar as funções. Cinema é trabalho coletivo!
Mais um sobrevivente do filme que aparece por aqui! Pois é amigo anônimo, coloque nome que é chato demais falar amigo anônimo, ainda sonho que um dia nossa produção cinematográfica não vire uma indústria como muitos querem, mas tenha ao menos todos os gêneros e façam bons trabalhos, afinal temos excelentes profissionais que acabam indo para fora por não ter serviço aqui, então o dia que tivermos a galera fazendo bonito nas telonas, o público com certeza irá aplaudir e apoiar o cinema nacional, mas ainda acho que temos que parar de engatinhar e ir andando apoiando pelas paredes! Abraços!
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