Acima das Nuvens

11/06/2014 12:30:00 AM |

Se existe um estilo cinematográfico que nos dá um nó na cabeça é quando os personagens de um filme são também atores, e o que dizer então quando são atores ensaiando uma peça dentro do filme com personagens que misturam o momento em que estão vivendo? Se você já ficou confuso somente com o início desse parágrafo a chance de se assustar com diversas cenas de "Acima das Nuvens" como a moça ao meu lado na sessão é altíssima, pois em diversos momentos ficamos na dúvida da mistura dos personagens se ainda estão ensaiando a peça, se realmente está acontecendo o mesmo da peça entre as protagonistas, qual a personalidade de cada uma, e essa brincadeira é maravilhosa de ver na tela, colocando as atrizes num misto de conflitos tão interessante que o filme deslancha sozinho, ficando realmente a história do longa em tão segundo plano que nem damos tanta importância mais para a peça que é mostrada no epílogo, claro que há duas situações excelentes ali, mas quase que não é necessário.

A sinopse do filme nos mostra que No ponto alto da carreira internacional de Maria Enders, ela é convidada para se apresentar em uma nova versão da peça que a tornou famosa vinte anos atrás. Na época, ela interpretou Sigrid, uma jovem sedutora que acaba levando sua chefe Helena ao suicídio. Agora, ela foi convidada para viver outro papel: o da madura Helena. Ela e sua assistente partem para os ensaios da peça em Sils Maria, uma região remota dos Alpes Suíços. A jovem estrela de Hollywood com tendência para escândalos está assumindo o papel de Sigrid, e Maria se encontra do outro lado do espelho, face a face com uma mulher ambiguamente encantadora que é, em essência, um reflexo perturbador de si mesma.

A montagem de um bom roteiro é imprescindível nesse estilo de filme, já que qualquer furo ou erro de pontuação numa única cena faria com que toda a trama se perdesse e fizesse com que o público desgostasse tanto quanto acaba se apaixonando pelas atrizes. Claro que o trabalho de Olivier Assayas é quase desprezado por ser um filme de atuação, onde as atrizes comandam mais o próprio longa, mas de forma alguma isso acontece, pois será eternamente lembrado como o diretor que conseguiu extrair o máximo de Kristen Stewart, que tanto era criticada por suas atuações fracas e aqui foi incrível na mesma proporção que a maravilhosa protagonista Binoche. Com planos de conjunto quase sempre enquadrando as duas protagonistas, acabamos privilegiados por acompanhar as passagens de texto de uma maneira totalmente diferenciada, o que acaba ganhando um charme pelas locações serem tão belas e bem encaixadas com a trama.

Falando mais sobre o elenco, não tem como não tecer diversos elogios ao que Juliette Binoche faz no filme, começando no melhor estilo de estrela internacional com nariz pra cima, mas vai desenvolvendo tanto a personalidade do personagem que em momento algum sabemos que rumo pode tomar, e isso é incrível de ver o que ela faz com um papel que seria até mais simples se olhar por outro ângulo. Kristen Stewart já chega de uma maneira completamente diferente, com um visual mais maduro e com uma interpretação bem dialogada com Binoche vai dando um crescente no personagem que com o seu final somos totalmente surpreendidos e de uma forma muito positiva por sinal, o que demonstra que pra quem já dizia que ela não tinha futuro começa a ver uma grande luz no final do túnel para a atriz. Chloë Grace Moretz na minha humilde opinião vai ser o grande destaque num futuro bem próximo, e aqui mesmo tendo um papel secundário, já que suas cenas não são tão encaixadas inicialmente na trama, consegue ser incrível no que faz agradando bastante e divertindo bastante também, só ficamos na torcida para que ela não vire o que faz no filme, pois está chegando na idade crítica onde as pequenas estrelas costumam se estragar.

A locação em Sils Maria é simples, mas dá um teor vivencial para a trama, como disse já várias vezes é um longa de atuações, então não temos praticamente nenhum elemento cênico que vá servir de elo para alguma cena, claro que o roteiro sempre na mão da personagem de Kristen é algo que alguns vão até falar que ela mais leu que interpretou, mas isso é apenas um detalhe que não chega a atrapalhar em nada na trama. O ar campal também deu um tom bem interessante para a fotografia que nas cenas externas optou por ampliar sempre o máximo que a lente permitia para termos um quadro completamente desenhado para ser vivenciado.

Enfim, uma trama impecável que agrada demais, claro que se quisermos pontuar um mísero defeito é o início um pouco pomposo demais que até a atriz aceitar o papel acaba tendo um ritmo meio cansativo, mas felizmente a engrenada é rápida e certeira. Vale com toda certeza conferir o longa assim que for lançado, já que na Mostra é apenas uma exibição, claro que ainda passará em outras cidades, mas em Ribeirão já foi. O lançamento oficial é dia 01 de Janeiro no Brasil, mas aí se virá para o interior já é outra conversa. Recomendo muito ele também para o pessoal que estuda Artes Cênicas, para ver como é bem feito um trabalho de atuação mista. Bem é isso pessoal fico por aqui agora, mas hoje ainda confiro alguma das estreias da semana, então abraços e até breve.

PS: A nota só não foi maior por sentir um ritmo ruim no início, e tirando o trio principal, os demais atores foram praticamente figurantes na trama, então não deveriam ter destacado algumas cenas, principalmente no início.


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