Falando com Deuses

11/12/2014 01:41:00 AM |

Quando um filme envolve religiosidade já é algo que complique falar sobre, afinal não é uma coisa tão fácil de dizer, pois uns acreditam mais, outros menos e tudo que se possa falar acaba levando em conta também a forma que o dono do texto pensa. No filme "Falando com Deuses", o diretor mexicano Guillermo Arriaga fez uma das coisas mais malucas possíveis, pois pegou um diretor de cada país, para falar de uma religião em específico e não apenas de uma forma mensurável em seu país, mas de forma a vivenciar o momento, e o resultado embora seja estranho, pois algumas religiões se conectam mais com o público, outras tiveram seus curtas mais bem trabalhados, mas num contexto geral, o que podemos retirar em essência é que o exercício feito nos mostra que mais do que crer ou não em uma religião, a simbologia de um ente maior é o que vale, fazendo com que até mesmo o curta sobre o ateísmo passe uma credibilidade para o diretor, no caso quem criou o experimento que foi Arriaga.

O longa coletivo explora a relação entre diferentes culturas e religiões. Espiritualidade aborígene, catolicismo, islamismo, judaísmo, budismo e xintoísmo, cristianismo ortodoxo, umbanda, hinduísmo, assim como o ateísmo encontram expressão no filme. Baseado numa ideia de Guillermo Arriaga e com os episódios organizados por Mario Vargas Llosa, o filme apresenta diferentes perspectivas sobre a religiosidade, um fenômeno especificamente humano.

Particularmente acabamos nos conectando melhor com três ou quatro dos episódios, o espanhol católico, não por ser a religião mais conhecida, mas pela forma cômica e caricata que o diretor Álex de La Iglesia abusou, fazendo com que o espectador entre mais no clima; o curta australiano feito por Warwick Thornton sobre a espiritualidade aborígene nos leva para uma outra dimensão, conectando os laços familiares como algo maior do que a matéria gananciosa da vida, e livrando do material a mulher acaba tendo algo melhor para passar para seu filho, ao menos foi o que me mostrou o longa; o islamismo feito por Bahman Ghobadi foi bem representado também mais pela comicidade dos gêmeos siameses do que pela religiosidade em si, e o jovem ator acabou puxando a trama quase mais que os protagonistas; e o próprio Guillermo Arriaga com seu ateísmo acabou finalizando de uma forma mais crua, por mostrar que até mesmo quem não crê em nada, acaba ficando na dúvida quando algo que não consegue explicar por meios científicos ocorre na sua frente, e isso deu um fechamento fenomenal para o longa.

Já que não vou falar de atuação hoje, afinal são pessoas demais e ninguém chama a atenção, vamos falar também dos demais curtas que por um outro lado acabaram nem destacando tanto a religiosidade, e muito menos fazendo com que o público se conectasse com eles, para começar o brasileiro umbandista de Hector Babenco, que fez toda uma viagem com um pato nada a ver para a trama, que tentou fechar com a umbanda para cumprir a missão, infelizmente falhando feio; o judaísmo mostrado pelas mãos de Amos Gitai foi grosseiro, quase uma violência generalizada para conectar as guerras religiosas em que vivem as pessoas de Israel; o hinduísmo mostrado pela indiana Mira Nair ficou bacana por mostrar as diversas divindades, mas ficou algo um pouco absurdo demais ao misturar briga de família com as divindades, precisaria ser algo maior para ser mais trabalhado; o budismo que o japonês Hideo Nakata, que é mais acostumado com filmes de terror foi algo chocante demais para ser digerido em 10-15 minutos, e mostrou mais o desespero da perda do que a religiosidade em si; e o cristianismo ortodoxo feito pelo sério Emir Kusturica foi bem mostrado com a ideia do carregar pedras para um novo começo, mas é algo que também exigiria algo maior e menos cansativo para que o público se envolvesse.

No quesito visual todos tiveram seus bons e maus momentos, mas o destaque em quesito de produção com certeza ficou por conta de Arriaga que fez chover sangue em lugares improváveis e que com muita certeza deram um trabalho imenso. E no quesito fotográfico o australiano bateu um bolão com paisagens cruas e que nos deram um misticismo impecável.

Dessa vez fui mais técnico nos comentários, mas são 9 curtas e falar muito sobre cada um acabaria até atrapalhando mais do que ajudando. O composto completo é interessante como um todo e talvez o que melhoraria seria os ritmos dos filmes, que há momentos em que parece não engrenar. Esse foi o primeiro de uma quadrilogia de temas que serão apresentados, claro com esse sendo o mais polêmico pelo que diz o diretor principal. Então o jeito é aguardar o que mais virá por aí. Recomendo ele mais como uma reflexão sobre as religiões do que como filme em si, afinal todos algum dia já pararam para analisar as diferenças entre fé, religião e o templo em si, inclusive eu como trabalho de conclusão, que quem tiver vontade de ver segue o link e está no meu portifólio aqui no site também. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, na próxima semana o interior foi muito boicotado de estreias, vindo apenas dois filmes mais um da Mostra, então aparecerei bem pouco por aqui, então abraços e até breve.


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