Alguns filmes já nos dizem a que vieram logo no começo, outros nos apresentam aos poucos seus elementos e vão crescendo durante sua exibição. Com a série "Jogos Vorazes", por já ser três livros fechados antes mesmo do lançamento do primeiro filme, já os leitores e fãs sabiam desde o princípio que era o novo caça-níquel da Lionsgate pelos EUA e da Paris Filmes no Brasil, isso é um fato e ninguém pode negar, afinal o livro é totalmente voltado ao público adolescente que ou gosta ou não gosta de algo, mas aqui arrumou muitos fãs. Dito isso, e sabendo que produtores mais do que amam dinheiro, era fato que a moda de três filmes apenas nunca iria acontecer, sendo dividido sua última parte sempre em dois, ou quem sabe até mais, aqui no caso serão dois. Agora com "A Esperança - Parte 1", o que mais deve agradar principalmente os fãs é que com a divisão do livro em dois filmes, a história será contada em minúcias, quase que palavra por palavra, e os não-fãs do livro, mas fãs da série de filmes talvez podem amar ou odiar o longa, pois aqueles que esperarem muita ação, como ocorreu nos dois primeiros filmes, talvez a decepção seja grande, mas aqueles que forem sem esperar nada, como foi o meu caso, podem até se impressionar e emocionar com diversas partes do longa, pois um fato é completamente notável nele, e que iniciei esse parágrafo dizendo, pois agora o filme finalmente atinge uma maturidade na trama digno de prender a atenção, e mesmo com diversos clichês, a ideologia revolucionária ganha motivos mais contundentes e incita o público a pensar como a protagonista, o que é interessantíssimo de acompanhar, e mais abaixo falarei mais de alguns personagens e elementos que ajudaram a fazer desse filme que empesteou todas as salas do planeta a não ser o fiasco do ano, já que meio mundo estava esperando ele.
O filme nos mostra que após ser resgatada do Massacre Quaternário pela resistência ao governo tirânico do presidente Snow, Katniss Everdeen está abalada. Temerosa e sem confiança, ela agora vive no Distrito 13 ao lado da mãe e da irmã, Prim. A presidente Alma Coin e Plutarch Heavensbee querem que Katniss assuma o papel do tordo, o símbolo que a resistência precisa para mobilizar a população. Após uma certa relutância, Katniss aceita a proposta desde que a resistência se comprometa a resgatar Peeta Mellark e os demais Vitoriosos, mantidos prisioneiros pela Capital.
Antes de mais nada ressalto mais uma vez, não li e nem lerei os livros tão cedo acabe a saga no cinema, afinal comecei por lá e vou terminar por lá, e além disso estou longe de ser um grande fã da saga, fui hoje assistir completamente sem expectativa alguma, muito pelo contrário, bravo por só ter ele nos cinemas do interior, mas isso não vem ao caso no momento. Dito isso, a sabedoria dos três longas até agora foi pontuar leves críticas à sociedade, embutidas nas mensagens que os protagonistas representam, e os roteiros foram esmiuçados para envolver cada espectador em cada um dos filmes, apenas para citar uma desse novo, não há quem não se comova com a cena, piegas e clichê, do hospital do Distrito 8, ao ver a protagonista entrar ali, todo mundo já sabe o que vai ocorrer e como vai deslanchar a cena, mesmo quem nem sequer passou perto do livro, mas a cena em si arrepia e comove, dando início à todas as demais cenas, ao menos mais umas três que conseguem o mesmo feitio. Uma mudança completamente notável, já no segundo filme foi no quesito direção, já que no primeiro filme tivemos Gary Ross e desde o ano passado no segundo, terceiro e quarto tivemos e teremos Francis Lawrence que além de mais experiente, conseguiu trabalhar os filmes de uma forma mais crua e envolvente, fazendo com que a trama não ficasse somente na ação, e dependesse disso para envolver, mas sim que a ação desenvolvesse com base em tudo ao redor, o que fez do filme algo que não apenas os leitores dos livros acabaram viciando, mas sim muitos outros que gostem do estilo que é proposto dentro dos filmes. Se no ano passado já havíamos envolvido tanto com a trama, mas ficado bravo por acabar no momento mais dramático da trama, esse ano, já por saber que iria ser quebrado em dois, o choque não foi tão grande, mas que dá uma certa raiva de algo que está pronto só ser exibido daqui um ano, isso enraivece com certeza. E da mesma forma que no longa é trabalhado a propaganda como sendo a alma do negócio, como ente manipulador, essa jogada de marketing de dois filmes acaba fazendo o mesmo que ocorre com os protagonistas, criando mais vínculo à trama por novos e novos espectadores.
Embora ainda tenhamos muitos personagens em foco, a protagonista Jennifer Lawrence continua como maioral na trama, conseguindo mostrar a cada dia que passa que os prêmios que ganhou por outros filmes não desmerecem sua atuação em algo que necessite menos dramaticidade, muito pelo contrário, a jovem aqui faz uma gama de trejeitos bem mais complexa que em qualquer outro drama que lhe tenha dado prêmios. Julianne Moore faz de Alma Coin, uma presidente interessante que não sei como é no livro, mas me deixou com uma pulga atrás da orelha com sua rispidez, claro que isso chama responsabilidade para si em alguns momentos e isso ela como uma boa atriz fez muito bem em diversas cenas. Não vai ser dessa vez que vamos saber o que é ou não digital dentro da atuação de Philip Seymour Hoffman, pois como morreu faltando bem poucas cenas para serem feitas, a melhor opção de contra-planos apenas usando sua voz vai resolver muito o problema, e isso já é notado ao menos em 1 cena aqui, e ele como um bom ator fez das cenas gravadas tudo que poderia também enobrecer seu último trabalho. Liam "irmão do Thor" Hemsworth mostra serviço em algumas cenas, mas como seu papel não foi tão destacado em nenhum dos longas, ele continua sem conseguir um destaque que valha a pena lembrar de sua atuação, no seu momento solo até mandou bem na forma de sentimentos colocados, mas ainda assim é algo bem simplório. Falando nos momentos solos de gravações, a "diretora" de grande renome em Panem, Natalie Dormer chama atenção tanto pelo visual como pelos atos dentro do seu papel, quase que sendo uma diretora dos programas dominicais brasileiros, que ao ver sentimentalismo no ato, manda ligar a câmera e focar no dramão, de forma que ficou bem colocada essa sua sacada. Donald Sutherland continua como o presidente que todos "amamos" bem ironicamente, e sua forma pontual de interpretar é algo muito interessante de ver, acredito que vai ser mais importante no próximo filme, mas aqui já fez muito bem suas cenas. Josh Hutcherson com seu Peeta, e Stanley Tucci com seu Caesar, até foram bem nas poucas cenas que aparecem, mas quando o primeiro resolveu atuar mesmo pra valer, ficou pro próximo ano, e aí acredito que o bicho vai pegar. Sam Clafin com seu Finnick e Woody Harrelson com seu Haymitch até deram bons tons poéticos para suas falas, Clafin teve um tempo maior para desenvolver em segundo plano seu ato solo, mas Woody é chamativo aonde quer que passe, mesmo que seja em poucas cenas. Os demais na maior parte acabam apenas sendo encaixes para os protagonistas, mas vale destacar Mahershala Ali que com seu Boggs aparecendo em quase toda cena que a protagonista está, acabou sendo um ponto de referência e chamando atenção para o personagem, vamos ver se no próximo vai ser importante isso ou foi apenas sorte sua de tempo de tela, e Jeffrey Wright ficou com o prêmio hacker/cientista sabe tudo do filme, falando diversas coisas que ninguém nem sabe o que está ouvindo, mas acha bacana o que ele está fazendo.
Diferente dos outros dois filmes da série, agora como não temos mais tanto o campo de batalha, as cenas não foram tão computadorizadas, e isso acabou agradando mais, apesar que por ter inúmeros figurantes sempre em cena, a duplicação sempre aparece. Com elementos cênicos bem colocados em cada ato, a cenografia acabou chamando mais atenção por mostrar os contrastes de beleza e destruição que querem mostrar, e isso se evidencia bem logo após o ataque no Distrito 13, que mostra um antes e depois, além dos outros Distritos. Como não temos mais a riqueza da capital, a parte de figurino foi bem rebaixada, e é até motivo de piada com a personagem Effie, o que não deixou de ser bem encaixado na trama tanto no quesito cênico como no roteiro. Os jogos de cores da fotografia foi novamente algo que pontuou demais na trama, cabendo ao público distinguir as situações de forma tão fácil que nem precisaria de técnicas para saber, com azul nas cenas mais dramáticas chamando pro sentimentalismo das cenas onde a protagonista se vê aflita, o laranja puxado pro marrom nos momentos de mais ação e chegamos a ter o cinza para dar uma igualidade com a democracia dentro do Distrito 13.
Com uma trilha sonora envolvente, a trama deslancha bem fácil, e contando com uma música inédita da Lorde, além de clássicos de Coldplay, Arcade Fire, Taylor Swift, Maroon 5, não tem como não curtir tudo que é tocado durante a trama, o que acaba melhorando ainda mais o ritmo que sem esse envolvimento seria até mais lento.
Enfim, é um excelente filme, não posso classificar como o melhor do ano, mas com certeza figura entre os melhores. Como disse, quem for com muitas expectativas, esperando algo dinâmico como os anteriores e com muita ação, com toda certeza sairá da sala decepcionado, agora se você se envolver com a proposta de desenvolvimento dos personagens e da própria trama em si, com certeza ficará bem feliz com o que verá, mesmo os produtores nos enrolando por mais um ano para sabermos o desfecho da trama. Repito, deixe suas expectativas para o próximo, afinal todo mundo irá pra sessão sabendo que não vai acabar aqui, e que esse é o desenvolvimento inicial do ato final da trama toda, além de ser um filme mais maduro e com nuances mais para serem pensadas, tanto sobre a ideologia do filme mesmo, como com o que ocorre na vida real, ou seja, não é tão simples como parece e acabo recomendando mais ele por tudo isso que pode ser desenvolvido. Dei sorte de conseguir ir numa sessão onde não tinha tantos adolescentes berrantes, e isso melhorou o filme uns 500% pra mim, diferente do segundo, da mesma forma que outros filmes teens, onde o povo grita a cada cena, então quem não gostar de muita muvuca, procure essas salas mais caras ou sessões em horários diferentes, senão a gritaria pode atrapalhar também. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas no volto no Domingo com a Itinerância da Mostra, já que as demais estreias acabaram ficando sem vir para o interior. Então abraços e até breve.
PS: A redução da nota foi por dois motivos, da mesma forma que o anterior, por parar em uma cena chave, o que acaba enrolando demais a trama, e daria facilmente para ser um longa só de 150 minutos, e por exagerar em alguns clichês para emocionar o filme, e só isso, do resto é excelente.
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