O Melhor de Mim

11/02/2014 02:38:00 AM |

Se existe um estilo mentiroso é o tal romance, pois a perfeição dos fatos criados por um roteirista é algo tão ficcional que fantasia a mente de todos que vão assistir com expectativas e faz com que alguns chorem, outros saiam da sala do cinema aos suspiros e por aí vai. E se existe um rei da fantasia encomendada esse pode ser chamado pelo nome de Nicholas Sparks, afinal já vi muitas mentes criativas, mas escrever o tanto de livro romântico que esse cara faz não vai existir outro tão cedo, de forma que já podiam colocar logo o nome dele no Guinness para ver se reduz a velocidade. E como seus livros sempre são campeões de vendas, por que não adaptar todos para o cinema? É claro que ele foi bobo apenas uma vez vendendo os direitos e agora é produtor dos demais, ganhando bem mais, então se você já assistiu a qualquer outro, pode ir com a mesma expectativa para "O Melhor de Mim" que não irá lhe desapontar, colocando os mesmos clichês, os mesmos pontos de virada, as mesmas mentiradas e peraí, um final diferente do tradicional! Ou ao menos quase, já que ainda deixou um leve resquício da tradicionalidade, porém conseguiu comover com algo um pouco diferente. Não é o filme que mais fará as moças chorarem, se tivesse sido o protagonista original com certeza teríamos uma correnteza nos cinemas, mas ao menos é um filme bem feito.

O filme mostra a história dos estudantes Amanda Collier e Dawson Cole, que se apaixonaram na primavera de 1984. Eles eram extremamente diferentes, mas sentiam que o amor seria capaz de romper com todas as convenções de Oriental, a pequena cidade em que moravam. Ele encontrava em Amanda forças para sair do mundo da criminalidade que sua família vivia, e ela via nele a oportunidade de ser livre. Mas os dois foram separados após o último verão escolar. Vinte e um anos depois eles se reencontram no velório do homem que um dia abrigou Dawson, acobertou o namoro do casal e acabou se tornando o melhor amigo dos dois. O bom homem deixou algumas cartas que fará o casal reviver momentos únicos e quem sabe mudar o resto da vida para sempre.

O diretor Michael Hoffman trabalhou bem ao intercalar os anos em que os jovens são adolescentes com os adultos e nesse mix, já conhecendo o estilo de história que o escritor nos entrega já ficamos aguardando qual foi o motivo da separação e quando isso vai aparecer no filme. Mas embora esse clichê seja tão forte em suas tramas, a sabedoria do diretor em trabalhar as nuances de cada casal de uma forma separada acabou ficando interessante, e trabalhando sempre com muita luminosidade, os planos se tornaram quase que um conto de fadas perfeccionista demais, porém com o andamento da história nem tudo acaba em flores e isto acaba agradando bem no formato proposto. Claro que estamos diante de um romance, então as cenas mais ríspidas acabam bobas demais, porém da mesma forma o diretor transformou a história em sua ao dar vertentes mais lúdicas à trama e conseguindo dessa maneira fazer com que pessoas que não sejam tão fãs do estilo prendesse a atenção em tudo que será mostrado.

Quanto da atuação, uma curiosidade é que o papel principal era para ser de Paul Walker, que morreu pouco antes das filmagens, e incrivelmente James Marsden está com o mesmo corte, barba e até trejeitos de Paul, o que é assustador em diversas cenas. Porém James não faz feio como protagonista e com olhares sempre apaixonados deu um tom interessante para o personagem principal que o acabou diferenciando de sua versão mais jovem, claro que 20 anos muda uma pessoa, mas poderiam ter mostrado algumas cenas de um para o outro para agirem mais ou menos de forma semelhante. E falando de Luke Bracey, o jovem ator trabalhou bem as nuances mais tímidas e com isso envolve os espectadores para ter pena dele, e com um carisma meio baixo, o ator precisaria chamar um pouco mais a responsabilidade para si, o que deve aprender com o tempo, já que está no começo da carreira, claro que o diretor que não é bobo nem nada já o colocou sem camisa para chamar atenção das jovens leitoras de Sparks, mas isso é de praxe. Em contraponto nas mulheres tivemos exatamente o inverso com Michelle Monaghan sendo mais retraída e com expressões mais esparsas, porém fazendo tudo muito bem para o papel, até incorporando demais a personagem em certos momentos. Enquanto Liana Liberato fez a garota que não perde tempo esperando os jovens tímidos chegar nela, atacando deliberadamente, e seu jeito fogoso encanta com uma beleza interessante que poderia se tornar até chatinha demais, mas acaba agradando bastante. Dos demais personagens Gerard McRaney consegue ser duro e interessante, agradando com sua versão paternalista sobre o garoto, fazendo com que seu Tuck seja alguém para quem torceríamos numa segunda fase caso não soubéssemos que estava morto, e Sean Bridgers fazendo o pai do protagonista consegue ser aquele antagonista que passamos a desejar todo tipo de mal, pelas coisas ruins que acaba fazendo, ou seja, incorporou bem o personagem.

Visualmente, escolheram locações muito interessantes e bonitas de se ver, e ficou notório o trabalho com as plantas que tiveram nas duas fazes, algo que dá um trabalho imenso para a equipe de arte. Poderiam ter trabalhado mais elementos cênicos, mas optaram pela cenografia mais ampla, usando as locações como parte da história, e isso funciona bem quando temos épocas diferentes nas mesmas locações, para não errar tanto com continuísmo. E falando em continuísmo temos erros grosseiros em relação à capota de carro conversível que hora aparece aberta, e na cena seguinte está fechada, logo depois aberta novamente, isso é algo totalmente proibido e estraga qualquer cena. Além de a equipe de fotografia querer brilhar demais colocando luzes aonde não existe, por exemplo na cena noturna que o protagonista coloca uma música no carro, os faróis acendem, até aí ok, mas eles dançam na frente do carro, com luzes vindo de todos os ângulos possíveis, de onde veio tanta luz num lago que não tem nada? A fotografia não pecou apenas nessa cena, pois abusando demais de iluminação aonde não deveria, quis dar contraluzes estranhos e o filme de romance quase virou uma comédia com cenas que deveriam ser adocicadas e temos quase um dia ensolarado.

Com boas canções românticas bem escolhidas, a trilha sonora nos envolve e cai bem para o ritmo da trama, mas senti falta do famoso pianinho melódico para puxar o choro dos espectadores, claro que seria mais um clichê para contabilizar no filme, mas ao menos a dramatização romantizada funcionaria mais do que apenas canções que nos remetiam ao local onde o filme se passa.

Enfim, é um filme gostoso de assistir, e assim como todo filme baseado nos livros de Sparks pode passar em qualquer horário que conseguimos ver na TV tranquilamente e dá para perder algumas horinhas vendo eles, mas poderiam ter errado menos que teríamos um longa mais interessante, mesmo que lotado de cenas costumeiras do cinema. Bem é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas ainda falta ver um longa que ficou da semana passada e dessa já encerro por aqui, já que a maioria dessa semana eram artísticos e acabaram não vindo para o interior. Então abraços e até breve.


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