Elaborado como uma minissérie em 4 capítulos, "O Pequeno Quinquin" veio para a Mostra Internacional de cinema como um "longa" de 200 minutos, devido principalmente a alguns dos capítulos serem tão sem conteúdo que com o estilo de filmes e séries que estamos acostumados seria capaz de muitos verem um só e desistir de todo o restante. O longa num contexto maior até nos intriga de forma a ficarmos sempre curiosos com quem é o assassino, ou até mesmo fazer com que refletíssemos sobre a infância no interior ser um mundo de explorações, mas o que deu tantos prêmios ao diretor em outros filmes que é a forma calma de segurar o expectador, aqui foi abusada demais e talvez algumas tesouradas na edição faria algo mais dinâmico e conclusivo de forma a interessar mais e até mesmo vender comercialmente o filme. Além disso já deixou um sobreaviso aqui, se você não sabe francês, grude na tela, pois a fonte da legenda está absurdamente horrível de conseguir ler pela finura e cor de contraste com as paisagens do cenário.
O filme nos mostra que um mistério está instigando o capitão da polícia alemã, Van der Weyden, e seu parceiro Carpentier: uma vaca foi morta e preenchida com restos humanos, e deixada em um galpão abandonado após a Segunda Guerra Mundial. Enquanto investigam o mistério, são perseguidos pelo pequeno Quinquin, um jovem que adora criar confusões com seus amigos.
O diretor e roteirista Bruno Dumont tem uma boa mão, isso é notável no filme, pois com um cenário bem trabalhado para mostrar o interior complexo e cheio de mistérios, mas mesmo a emissora original pedindo uma segunda temporada da minissérie, o que podemos dizer do primeiro e segundo episódio, respectivamente chamados de "A Besta Humana" e "Coração do Mal", é que eles soaram bem mais como uma apresentação enrolada dos personagens que pouco nos envolve e muito pelo contrário, cansam pela exaustão de cenas alongadas sem a menor necessidade, de forma que poderiam ser resumidos esses quase 100 minutos em algo por volta de 30 minutos facilmente. Já os dois últimos episódios, "O Diabo Encarnado" e "Deus é Grande", conseguem fazer todo o desenvolvimento da trama e instigar o espectador no melhor estilo das novelas que colocam o mistério de quem matou e porquê matou, funcionando de certa forma, mas como no estilo francês cru, os diretores não gostam de entregar o que acham realmente, somos deixados apenas com as indagações na cabeça para discutir com amigos e tirar nossas próprias conclusões. Ou seja, ao final de quase 4 horas entre intervalos dos episódios e suas exibições, saímos da sessão sem saber o que levou tudo em consideração, e pensando se valeu a pena mesmo ficar sentado todo esse tempo com o que nos foi entregue.
No quesito atuação, o que vemos na tela varia desde boas expressões com os jovens até tiques estranhos com os mais experientes. Por exemplo, Bernard Pruvost faz de seu capitão de polícia, um personagem tão bizarro que chega a assustar em diversos momentos, tornando tudo tão enigmático que não dá para confiar em nada de sua investigação, além disso, o ator tem tantos tiques quanto você possa imaginar, o que faz dele quase um suspeito se fosse algo possível de imaginar. Philippe Jore em alguns momentos faz parecer seu tenente um personagem fora da trama, mas algumas sacadas bem colocadas até faz com que volte a realidade do filme, poderia sem menos imparcial que agradaria mais o personagem, e a atuação poderia também ser menos boba para envolver também. O jovem Alane Delhaye é uma grata surpresa com seu Quinquin, pois trabalha tanto olhares quanto expressões mais adultas para um adolescente, mas claro sem perder a ternura e as bagunças que todo adolescente de interior acaba aprontando, uma boa aposta para os filmes franceses do futuro. Lucy Caron é uma incógnita como atriz, pois teve episódios que a jovem demonstrou habilidades e envolvimentos expressivos, mas em outros pareceu tão longe da interpretação que fez de sua Eve, aquelas adolescentes que não sabemos o que quer da vida. Lisa Hartmann fez de sua Aurélie, uma personagem meio insossa, mas sua cantoria ficou interessante pra trama, de forma que até acabamos achando que ela é apenas uma cantora que colocaram no filme para vender alguns CDs, pois a cada duas cenas, em três ela canta. A maioria dos personagens tem algum envolvimento na trama, mas como ou morrem ou apenas entram na cena para alguma ligação não conseguimos nos envolver com eles, porém temos de destacar as loucuras de Jason Cirot com seu Dani dando desespero com os vários rodopios e com um olhar medonho para deixar os espectadores em sua maioria pensando se foi ele ou não o assassino.
O visual da trama é totalmente interiorano e o diretor não economizou nas cenas abertas para valorizar bem as locações escolhidas. Agora os elementos cênicos acabam sendo usados tão contra a trama que mesmo os personagens vivendo num lugar onde há diversos elementos de guerra perdidos pelos campos, ninguém usa eles como algo que dê um valor para o filme, acabando sendo apenas apresentados e não dando nenhum sentido interessante, o que quebra bem a direção de arte por trabalhar bem, mas não ser colocado como deveria dentro do roteiro. A fotografia veio com uma proposta meio turva com pouca definição de cores, o que não nos envolve nem destaca nada na trama, e já que o filme possui muito verde pelas locações, a claridade natural acaba sendo até exagerada demais, e um rebatedor mais escuro agradaria mais.
Enfim, pelo resultado final não dá para classificar como um filme, mas também como minissérie ficou algo falho pelo que falei dos episódios iniciais, mas como os últimos funcionaram tão bem para deixar os questionamentos subir na mente do espectador, acaba que a meta principal do envolvimento é cumprida e as quase 4 horas não saem tão improdutivas assim. Recomendo ver em casa com bastante tempo, podendo realçar as legendas, e acelerando os momentos não tão úteis assim da trama, que com certeza o resultado será bem melhor. Bem é isso pessoal, encerro a semana cinematográfica aqui, mas como a próxima começa mais cedo na quarta-feira com o filme que deve ser praticamente único na semana, então já vou começar a lamentar por aqui mesmo, então abraços e até lá.
1 comentários:
Filme genial. Fazia tempo que não via uma comédia tão poderosa e com temática tão pertinente, ainda mais com o calderão efervecente que se encontra a Fraça.
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