quarta-feira, 5 de novembro de 2014

O Segredo das Águas

Quando vamos à um Festival ou Mostra de Cinema já sabemos que geralmente o que nos será apresentado são filmes diferenciados, ou seja, que não foram feitos para serem vistos de uma forma comercial, e "O Segredo das Águas" é mais do que a prova nata desse estilo, pois é um filme muito bonito, com uma temática interessante, uma linguagem poética e cheia de simbolismos, mas que se você tiver ele para ver em casa num DVD ou mesmo na TV com 10 minutos você já não suporta a lentidão e acaba mudando de canal ou desligando o player, e mais que isso, se você ainda insiste e continua vendo, começa a dormir facilmente pois o longa demora entre 80 a 90 minutos para engrenar, deixando para os 30 minutos finais sua sintetização bem colocada, mas que ou você vai gostar muito de tudo que viu, ou vai odiar, dificilmente ficando no meio do muro com o que a diretora japonesa Naomi Kawase nos entrega.

O filme nos mostra que na ilha japonesa de Amami-Oshima, as tradições envolvendo a natureza são eternas. Durante uma noite de danças tradicionais em agosto, Kaito, de 16 anos, descobre um cadáver flutuando no mar. Sua namorada, Kyoko, vai tentar ajudá-lo a compreender essa misteriosa descoberta. Juntos, Kaito e Kyoko aprenderão o que é se tornar um adulto, experimentando as delicadas relações entre vida, morte e amor.

Um ponto que mais agrada no filme é a sensibilidade do roteiro, pois a história poderia ser contada de inúmeras formas, mas a diretora e roteirista optou pelo lado mais sentimental e simbólico das coisas, fazendo com que cada coisa mostrada no filme, mesmo que quase matando o espectador de sono pela lentidão da câmera quase parada, tenha um valor incrível para o entendimento do contexto do filme. Essa vivência que o longa passa é algo bem poético e quem for mais persistente é capaz de gostar do que vê, mas quem preferir um longa mais explicativo é capaz que ache o filme tedioso demais.

A atuação dos protagonistas podemos dizer que foi algo que fico bem a desejar, talvez por ser uma língua que não conseguimos distinguir uma entonação mais sensual, o relacionamento entre os protagonistas acaba parecendo mais artificial que tudo. Nijirô Murakami se esforçou mais na cena que fica nervoso e ali pareceu estar com mais vontade de atuar, mas suas demais cenas são irritantes com suas facetas artísticas. Jun Yoshinaga foi mais saidinha e agradou em diversos momentos mais agitados, porém as cenas junto da morte de sua mãe precisaria aprender expressões mais de tristeza e menos de nojo, que ficou muito feio de ver as caras que fazia enquanto os demais cantavam. O foco é mais nos dois, porém Makiko Watanabe como a mãe do protagonista teve algumas cenas bem interessantes de expressão, mas todos possuem um defeito tão bobo nas interpretações de ficarem quase estátuas quando outros estão em cena colocando seus textos que incomoda demais.

O visual da ilha é algo que impressiona por conter elementos bem chamativos e ela passa a ser quase que a protagonista da história ao invés dos atores mesmo, e isso é bacana pois dá vida simbólica às intempéries da natureza e tira a dos humanos, o que acaba nos envolvendo bastante dentro da proposta do longa. Claro que para isso, temos de viajar bem no significado de cada elemento da natureza mostrado e alguns podem acabar nem percebendo tanto isso, mas se levarmos em conta o próprio nome do filme no Brasil já é uma ajuda significativa para isso. A fotografia foi bem encaixada, mas confesso que alguns planos que a diretora opta por usar o primeiro plano cansou em demasia, pois o espectador não faz parte do filme e isso poderia ser muito mais bem usado se colocasse outro ponto de vista, além de uma iluminação pouco cadenciada deixou de evidenciar muita coisa importante.

Enfim, é um filme mais sentimental e experimental do que algo que você assiste e sai curtindo com o que viu, então como disse no início, ou você vai adorar ou odiar o longa. Gostei da proposta, mas confesso que fiquei muito incomodado com o ritmo, então isso pesou demais na meu gosto particular de filmes. Claro que é inegável um bom filme, mas por muito pouco não dormi na sessão. Bem é isso, fico por aqui agora, mas nessa quarta temos mais um filme da Itinerância da 38ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo no SESC Ribeirão Preto, então abraços e até mais tarde.


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