As Aventuras do Avião Vermelho

12/14/2014 01:53:00 AM |

O gênero das animações é um dos que mais gasta tempo de desenvolvimento no mundo, e com isso altas quantias são desembolsadas, por isso alguns países não se arriscam tanto nele, mas com as tecnologias ficando mais acessíveis, alguns criam coragem e passam anos para fazer um filme razoável apenas, e o Brasil é um deles que tem até aparecido com bons exemplos, mas alguns acabam ficando bem abaixo do que se considera satisfatório. O longa "As Aventuras do Avião Vermelho" demorou cerca de 10 anos para ser produzido e lançado, e cometeu o erro mais básico do gênero, não acertar o público alvo, pois com uma história exageradamente infantil até agradaria os pequenos, visto que ela é bem cativante para eles, tem cores para todo o lado para chamar a atenção, mas abusou da cultura sulista com gírias próprias que muitos nem vão imaginar o que é, além de não ter um traço de desenho mais realista, que a garotada anda preferindo ultimamente. Então temos um filme que até contém uma mensagem bacana, mas não amarra a garotada na poltrona de jeito algum, e como já disse em outros filmes do estilo, pra mim se não segura o público alvo na poltrona, é falha total.

O filme nos mostra que o travesso Fernandinho tem 8 anos e após perder a mãe, acaba se tornando um garoto solitário, sem amigos e com problemas de relacionamento com o pai. Sem saber como lidar com o filho, o pai tenta ganhar a atenção do garoto com presentes. Mas nada funciona até que um livro de sua infância lhe devolve a alegria. Fernandinho mergulha no universo do livro e decide que precisa de um avião para salvar o Capitão Tormenta, personagem da obra, que está preso no Kamchatka. Nessa jornada, Fernandinho descobre a importância da leitura e do amor de seu pai.

A síntese do filme é bem bonita, com mensagens motivacionais, incentivos à leitura, cenas com muitas referências e até uma diversão minimalista contextualizada, mas por estarmos acostumados com longas mais bem desenhados e com nuances quase realistas, o resultado aqui peca demais, É garantia quase que total que as crianças com um pouco mais de 6 anos acabem ficando entediadas com a produção. Não digo que é algo ruim o trabalho feito pelos diretores Frederico Pinto e José Maia, mas faltou ou dar um tom mais adolescente na história de Érico Veríssimo ou ao menos ter encarado uma realidade mais forte e trabalhado com um estilo de animação mais visceral do que o 2D simples sem profundidade alguma nos desenhos. Que aí sim, poderíamos afirmar que o Brasil entrou de cabeça mesmo no gênero das animações. E além disso poderiam ter trabalhado o roteiro com diálogos menos culturalizados do estado onde vivem, pois ficamos com um longa que só é divertido por lá, apenas para exemplificar numa da cenas o protagonista fala: "ficar mais tri" ao que qualquer lugar falaria "mais legal", "mais bacana" ou qualquer outro expressão, menos o pessoal do sul.

Os personagens são divertidos ao menos e caricatos, fazendo com que da mesma forma que ocorre lá fora que os personagens possuem visual semelhante ao do dublador, aqui o pessoal se preocupou também, então o bonequinho negro do protagonista é dublado por Lázaro Ramos, a empregada por Zezeh Barbosa, e assim ocorre com outros. E se formos a fundo até nos afeiçoamos com alguns feitos deles, pois são bacaninhas e as crianças mais novas vão até ficar contentes de ver os bichinhos comendo nuvens e dançando na lua. O protagonista é aquele garoto que todos conhecem, bagunceiro master e que é raro ficar parado. O aviãozinho poderia ser menos bobo que envolveria mais, mas repito, o longa foi 100% desenvolvido para crianças, então nem Milton Gonçalves conseguiu fazer algo mais envolvente e carismático.

A modelagem artística não é muito elaborada, portanto não espere ver um desenho do estilo que passa na TV e muito menos os tradicionais do cinema, mas se tem um ponto em que acertaram foi na colorização dos personagens e cenários, pois aqui o excesso de cores funciona como um imã para a garotada, e quanto mais coisa brilhando para todos os lados, mais eles gostam. Então até mesmo nas cenas onde temos quase que aquelas revistas para colorir, com o fundo pintado e o desenho principal apenas em listras, acabou funcionando bem.

E algo bem bacana de ver, ou melhor ouvir, ficou por conta da trilha sonora original, que não quis usar praticamente nenhuma canção conhecida, e isso é bom, pois a música AUL é bem colocada, que quem perceber a letra invertida vai rir muito, e as demais deram ritmo bem colocado para que ao menos a trama não ficasse tediosa.

Enfim, se você tem crianças bem novas, talvez seja uma boa opção para levar elas, mas se for daquelas crianças que já está na fase dos porquês, fuja e leve para outro longa que com certeza a discussão vai ser grande junto com as comparações. Valeu ao menos para ver que o Brasil já tem equipe pensando bem nas animações, só falta desenvolver mais como tem acontecido em outros países, que nem queremos chegar nos EUA, mas se beirar a Bélgica já estarei completamente feliz. Bem é isso meus amigos, encerro a semana cinematográfica por aqui, e vamos torcer para que a próxima semana venha bem recheada para termos nossas comemorações de fim de ano bem alegres. Então abraços e até breve.


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