O Cuco e O Burro

12/01/2014 12:46:00 AM |

É interessante quando vemos um filme que envolva a nossa área, que é a produção, e sabemos que no mundo existem diversos roteiristas malucos, mas só de pensar no nível que uma pessoa pode chegar para querer que sua história ganhe vida, já me deixa apreensivo. E o que o filme "O Cuco e O Burro" passa não é somente um susto para produtores, mas sim para todos que conseguem ter uma visão de até que ponto uma mente humana consegue pensar em fazer atos inapropriados para conseguir atingir seus objetos. Claro que nem todos são tão malucos para chegarem ao ponto de sequestrar, matar e tudo mais, mas o choque que o filme vai causando com a loucura absurda dos protagonistas é tão interessante de ver que o resultado final é excelente.

O filme nos mostra que após perder sua mãe, Conrad resolve criar um filme sobre a vida e relação de seus pais. Ele produz um roteiro e consegue fazer contato com uma emissora de TV, onde conhece Stuckradt, um produtor que se mostra muito animado com o seu projeto. Após cinco anos de troca de e-mails e longas esperas, Conrad percebe que seu filme nunca vai sair. Então, junto de seu pai, ele decide sequestrar Stuckradt.

Pra quem conhece um pouco do mundo do cinema e da TV, sabe que nem tudo que é escrito acaba entrando no ar, muita coisa acaba ficando engavetada e sabe lá depois de muitos anos, talvez abram a gaveta e vejam que um projeto bom se adaptado pode virar um sucesso. E muitos roteiristas acabam ficando muitas vezes irritados com isso, pois nem sempre você é um escritor de sucesso que consegue se manter aguardando um ou outro livro/roteiro fazer sucesso, e essa piração é tão maluca de ver no filme que acabamos ao mesmo tempo que chocando com as cenas, se divertindo com o que é passado, e isso é estranho demais, pois se divertir com mortes e torturas é assustador demais, mas ocorre com o filme que é muito bem dirigido por Andreas Arnsted que em seu segundo longa já vem com essa ideologia totalmente maluca. Com planos bem fechados para dar fobia e claro manter o tino da trama, o diretor foi sábio em utilizar também bem a locação, não precisando se estender tanto para chamar atenção e essa proposta ficou bem interessante com o andar do filme.

No quesito atuação, embora os personagens sejam bem desenvolvidos, nenhum dos atores chega a despontar dentro da percepção da trama, e isso é algo que faltou bastante para que o filme fosse perfeito. Thilo Prothmann faz de seu Conrad um personagem meio que psicopata, meio burro demais, e usando da ideologia do nome do filme, ficamos pensando se é proposital ou se o ator está oscilando demais na interpretação do personagem, como é um ator que nunca vi nenhuma produção, o que posso dizer é apenas nesse filme e seus trejeitos foram falhos. Em compensação Jan Henrik Stahlberg fez de seu Stuckradt um produtor nato, daqueles que tentam arrumar sempre um jeito de fugir das coisas que se envolveu de uma forma diferenciada, mas nem sempre é o melhor jeito, e o ator mandou muito bem em todas as cenas, até mesmo nas mais fortes. Joost Siedhoff faz o pai do protagonista e assusta demais pela forma rude que deu ao personagem, não conseguimos nos contentar com seu amor pela ideologia do filho, ficando mais próximo de um criminoso que de alguém desesperado mesmo, e o ator fez bem para que em momento algum sentíssemos compaixão pelo personagem.

Visualmente o longa tem uma direção de arte minuciosa, que não economizou com objetos cênicos para que mesmo num lugar pequeno de pouca visibilidade tudo pudesse ser presenciado, e isso é bacana de ver, pois o filme embora bem simples, foi trabalhado com minúcias características de uma grande produção, e esses elementos mesmo que apresentados logo de cara, a cada cena se mostram bem importantes para o deslanchar da história. A fotografia usou um tom avermelhado demais para as cenas do porão e ali ficou parecendo quase uma masmorra, e isso não acredito que foi intencional, já que nas cenas posteriores passa a ter uma relação mais amorosa ali, e o tom se manteve, e nas demais cenas tivemos brilho demais, ou seja, poderiam ter caprichado mais na iluminação que agradaria bastante.

Enfim, é um filme que até possui alguns defeitos técnicos, mas que pela loucura total do roteiro e por mostrar nuances interessantes, acabou sendo uma grande surpresa para fechar a Itinerância da Mostra Internacional por aqui, então quem perdeu, quando sair nas locadoras, afinal não tem cara de ser um filme que será lançado comercialmente, recomendo que pelo menos os amigos da área assistam para ver a loucura que pode chegar num roteirista desesperado, e os demais para que possam também conhecer a mente maluca de alguém do cinema. Bem é isso pessoal, encerro a semana cinematográfica por aqui, dessa vez até que tivemos uma boa quantidade, mas ficamos na torcida para que a próxima venha melhor ainda, então abraços e até breve.


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