O Abutre

1/09/2015 12:58:00 AM |

Alguns filmes não conseguimos definir com outra palavra senão genial, mas com "O Abutre" essa mesma palavra se transforma em tantas outras que me vi inconformado com 90% das cenas colocando a mão na cabeça e pensando como alguém faz isso, e tudo é tão possível, afinal realmente existem pessoas como Lou, não tão loucas, mas que fazem o mesmo estilo de "jornalismo", que o filme toma rumos tão interessantes que vamos nos sufocando, rindo, se desesperando sem saber para onde o diretor conseguirá acabar. Além disso, o longa não funciona apenas como mostrar a loucura de uma "profissão", mas também como funciona alguns modos de carreira em empresas, contendo toda as frases de efeito que chefes passam para os funcionários e aí, assistam o filme e tirem suas próprias conclusões, afinal tudo bem que o longa estreou em 2014 no Brasil, mas como só veio agora para o interior, já está como sério candidato a melhor desse ano pra mim.

O filme nos mostra que Lou Bloom é um jovem determinado que sempre está em busca de fortes emoções. Um dia, quase por acaso, Lou descobre o mundo em alta velocidade do jornalismo sensacionalista, onde equipes de filmagem freelances gravam imagens de crimes e acidentes chocantes para depois vendê-las para telejornais. Em busca das cenas perfeitas, ele é capaz de arriscar a sua e a vida de outras pessoas.

Após escrever excelentes roteiros, Dan Gilroy finalmente decidiu dirigir um, quiçá o melhor, dos seus roteiros aqui, pois ao desenvolver um personagem tão complexo dentro de uma trama dura, suja e nada convencional, ele soube com a delicadeza de um cirurgião, ir inserindo o teor pesado do personagem na mesma velocidade que o público começa a ter carisma por ele, e isso é algo que ficamos irritadíssimos, pois não tem como gostar de uma pessoa do estilo do protagonista, e ao final, estamos completamente envoltos na torcida para que ele seja o mais bem sucedido em tudo que vá fazer, de forma que ao dizer a frase que encabeça o pôster, só falta levantar da poltrona e aplaudir, pois essa é a sensação que o filme nos remete. Outra grande sacada foi ter aproveitado as imagens das câmeras usadas nas filmagens, pois completamente diferente de efeitos de edição, quem é da área sabe que cada câmera tem sua própria gramatura de filmagem, e isso é nítido e bem aplicado nas imagens fortes exibidas nos noticiários, o que acabou ficando bem bacana de ver.

Sobre a atuação, falar de Jake Gyllenhaal como Lou Bloom é algo que não tem como, tem de ir ao cinema e ver, o cara emagreceu violentamente para entrar no personagem, socou espelho mesmo tendo de levar pontos e muito mais que se contar estraga com o filme, e como disse ao falar do texto, seu personagem é incrível, cheio de nuances, nos convencendo de que aquele é o jeito correto de ser, e tudo entra perfeitamente no que é feito por ele, não vi ainda as demais atuações que concorrem ao Globo de Ouro no Domingo, mas se ele ganhar ficarei extremamente feliz. Rene Russo faz de sua Nina ao mesmo tempo uma mulher sedutora e durona no contexto exato que a personagem pede, claro que alguns podem até falar que ganhou o papel por ser esposa do diretor, mas ela fez tão bem o personagem com bons trejeitos, que o mérito das cenas mais envolventes podemos dizer que foi todo seu, mas ainda acho que algumas cenas poderiam ter sido melhores desenvolvidas junto com o protagonista. Não conhecia o ator inglês Riz Ahmed, mas fez tão bem seu papel do estagiário Rick, se saindo exatamente como a maioria dos estagiários acabam sofrendo nas empresas, claro que seu serviço aqui é bem mais maluco, que fica uma dica procurar mais filmes dele para ver se manda bem também. Bill Paxton tem duas ou três boas cenas como Joe, um concorrente direto do sucesso do protagonista, mas seu olhar em sua última cena daria um longa de terror de arrepiar muita gente. E pra finalizar, Michael Hyatt faz uma detetive daquelas que qualquer um se declararia culpado com medo de levar uma porrada, mandando muito bem na sua última cena, mas na primeira poderia ter sido mais improviso e menos texto decorado. Um fator interessante da produção é que como foi gravado praticamente dentro mesmo de uma emissora, muitos personagens conhecidos da TV fazem pequenas pontas mesmo para o filme, então caso já tenha visto jornalismo internacional com certeza alguns rostos serão reconhecidos.

As cenas dentro de estúdio são meio travadas, já que por ser um estúdio de TV jornalística não tem muito o que inventar, apenas acertaram em não criar, utilizando algo mais verdadeiro, e quem for da área vai se familiarizar com muitos equipamentos, formas de edição e tudo mais, e quem não conhece verá um pouco mais do assunto que tantos gostam. Agora se nesse ali foram simples demais, nas cenas de acidentes e crimes, a equipe não economizou sangue e visual para ser mostrado, trabalhando muito bem para tudo ser o mais crível possível, e sufocar na excelente perseguição do bandido, onde além do aspecto visual ficar muito bem colocado, a equipe de fotografia trabalhou com um primor para que as sombras nos envolvessem e não ficassem falsas de modo algum, chegando a diversos momentos acabarem quase que claustrofóbicos.

Enfim, é daqueles filmes que vai ser bem difícil você ver alguém falar mal dele, talvez um ou outro comentário sobre o ritmo lento inicial, mas que serviu bem para mostrar o crescimento e conhecimento da causa pelo personagem principal, e isso é totalmente necessário dentro da proposta do filme, então repito, vá ao cinema conferir pois garanto que ver em casa, parando para muita coisa e numa tela que não cause o efeito claustrofóbico não vai ser o mesmo impacto, e filmes bons merecem ser vistos no cinema. O longa demorou um pouco para vir para o interior, então é capaz que muitos já até tenham visto na pirataria, mas quem for de Ribeirão Preto, fica uma excelente dica para conferir no fim de semana. Bem, é isso pessoal, hoje à noite confiro mais um longa e volto para contar o que achei dele, então abraços e até breve.


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