Assim como temos alguns filmes que nos levam a refletir sobre algo, existem muitos filmes sobre a reflexão dos personagens protagonistas. Alguns acabam sendo simples demais, e outros afloram ideologias que saímos da sessão pensando qual o rumo que realmente desejamos tomar em nossas vidas. Com "Livre", ao mesmo tempo que vemos a luta dura da personagem em seguir caminhando quando todo o peso não apenas da mala lhe sobrecarrega, mas tudo que já sofreu em sua mente, e esse é o mais pesado fardo sem dúvida alguma, também embarcamos junto nessa aventura por um caminho cheio de dificuldades, e assim, temos noções de coisas interessantes que um filme pode atingir e agradar como poucos já fizeram.
O filme nos mostra que depois da morte de sua mãe, Cheryl Strayed se afasta da família, passa usar heroína e seu casamento desmorona. Quatro anos depois, aos 26 anos, ela toma a decisão mais impulsiva de sua vida: caminhar mais de 1500 quilômetros pela costa do oceano Pacífico em busca de autoconhecimento.
Como o roteiro é baseado no livro que a personagem escreveu após fazer a trilha contando suas passagens, não temos nada que seja muito fora de algo realístico, e isso foi interessante da parte do roteirista Nick Hornby, pois ele como escritor de livros de ficção, poderia facilmente adaptar livremente o longa e deixar com uma cara mais comercial, pois um aspecto que com certeza quem não for acostumado com road-movies introspectivos vai reclamar é do ritmo da trama, e dessa vez não podemos culpar nem a trilha sonora, muito menos o diretor, já que a sintetização do filme necessita desse ritmo mais calmo mixando os momentos que a personagem quer se livrar juntamente com a experiência que vai ganhando com os obstáculos e as pessoas que vai conhecendo no caminho. E se existe algum diretor bom para trabalhar esse diálogo personagem/protagonista/filme/espectador é Jean-Marc Valeé que fez o excelente "Clube de Compra Dallas" no ano passado e agora soube colocar uma atriz que só vinha fazendo comedinhas e romances no eixo novamente para tentar a voltar ser a garota que ganhou o Oscar e diversos prêmios em 2005, não por menos agora está novamente indicada à quase todos os prêmios pela atuação. O que ele trabalhou nela foi algo interessante de se ver diretores fazendo ultimamente, que é não apenas comandar a câmera, mas deixar o ator quase maluco, no caso aqui cabe algumas curiosidades, como a proibição de espelhos para a protagonista, colocar uma mala realmente pesada para o caminhar ser coerente, entre outros detalhes que são notáveis no decorrer do filme, claro que sabemos que a atriz não andou realmente os 1500 quilômetros, mas ao menos sofreu um pouquinho, mesmo sendo produtora do filme.
Temos diversos atores que passam pelo caminho da protagonista, mas acabam sendo apenas momentos isolados para determinar o desenvolvimento da personagem, portanto vale somente falarmos de Reese Witherspoon que em momento algum nos lembra qualquer personagem bobinho que fez nos últimos anos, parecendo que amadureceu do nada surgindo como uma nova pessoa, conseguindo se soltar plenamente frente às câmeras e desenvolvendo todo um simbolismo, claro que ela não foi boba de escolher o personagem sem saber de tudo, tanto que recusou diversos outros grandes filmes para desenvolver a protagonista e fazer o filme com toda a pompa necessária, e isso já lhe valeu novamente a indicação à todos os prêmios de atuação que tanto desejava, se vai ganhar já é outra história, afinal esse ano a categoria está bem dura, mas ao menos mostrou que se algum diretor tiver algo intimista, ela está disposta a sair dos romances levinhos. Além dela, Laura Dern também fez belas cenas como a mãe da protagonista e em diversos momentos consegue comover o espectador com seu jeito e claro com o desenrolar da trama acabamos sabendo mais detalhes da personagem, o que ainda dá um tom maior para a saga da jovem, de forma que junto de Reese também conseguiu sua indicação ao Oscar.
Como é uma trilha que realmente existe, assim como Santiago de Compostela, o PCT (Pacific Crest Tale) é composto por lugares incríveis visualmente, e isso a direção de arte fez questão de escolher os melhores pontos para parar e fazer as cenas mais alongadas, e assim abrilhantar ainda mais o filme, e como a bolsa da jovem está cheia de itens, os objetos cênicos passam a ter diversas importâncias no delongar da história, como disse no início apenas um deles, de deixar o peso mental e estrutural, e além disso, as cenas envolvendo os machucados são bem fortes e chegam até a chocar em alguns momentos, a primeira já é um belo início para mostrar a que veio o filme, ou seja, passou dali, pode crer que aguenta tudo. A fotografia ficou bem trabalhada por adequar os diversos momentos climáticos dentro das cores e gamas de paletas para representar bem a chuva de emoções, a noite assustadora, o sol escaldante, o frio das ideias e claro a vida alegre de uma paisagem, de maneira que podemos somente num único filme estudar tudo e mais um pouco das formas de escolher ângulos e tons para representar cada situação.
/Um bom road-movie é composto de ótimas trilhas, sempre, e aqui não seria diferente, onde surgem canções indies e totalmente compatíveis com cada situação que envolve o momento em que a personagem está inserida, claro que o destaque fica por conta de Simon & Garfunkel que tocam a todo momento e fica em nossa cabeça após a sessão, mas vale após assistir, dar uma conferida na trilha completa que está muito boa.
Enfim, um trabalho perfeito que só não foi melhor por um único detalhe, ficou real demais, e isso num filme mesmo que envolva momentos de sofrimento e boas atuações acaba sendo uma falha, já que faltou explorar o detalhe intimista que só a ficção caberia dizer, e ficarmos falando impossível a pessoa passar por isso, e esse detalhe custou ao diretor e ao filme não conseguir ser indicado em outras categorias, deixando apenas para as damas a sorte de tentar algum prêmio, o que não deixa de ser algo bom, mas se tivessem apelado, mesmo que em um mísero detalhe, talvez ela rolar um barranco ou coisa do tipo, com certeza todos estariam falando que era o melhor filme do ano. Ainda assim, claro que recomendo o longa para todos, tanto para verem a história real da personagem, quanto para pensar em suas vidas, e claro, os mais malucos pensarem em fazer a trilha de 1500 km a pé daqui a algum tempo, apenas não contém comigo para isso. Bem dessa forma, encerro a semana cinematográfica já aguardando por uma nova que promete ser bem recheada e inicia na próxima quinta, então abraços e até lá pessoal.
2 comentários:
Que filminho fraco. Começa e termina sem um clímax. É tudo muito linear e sem nada que empolgue.
Amigo, melhor repensar o que é linear pra você, pois o filme vai pra frente e pra trás a todo momento, sem linearidade quase que nenhuma!! Abraços!
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