Alguns filmes nacionais recorrem à trabalhar de forma tão alternativa que nem ficamos confusos com o que é mostrado, ficamos mais é indignados com o desenvolvimento de uma trama não indo para lugar algum, e isso acontece com uma certa frequência que ao pensarmos no estilo que querem mostrar se torna até um nicho de mercado, o da arte abstrata ou melhor cinema abstrato, feito para que somente o diretor/roteirista expresse apenas suas angústias e faça um filme somente si, com um âmbito de não fazer um filme bom apenas, mas fazer diversos fracos até morrer, como é dito inclusive em uma das cenas do longa "A Memória Que Me Contam", aonde uma das personagens diz que faz a conta de quanto tempo de vida ainda tem e se preocupa com quantos filmes ainda tem para entregar. Ou seja, além de se autocriticar, o filme nos mostra de uma forma altamente cansativa praticamente nada, com diversas coisas acontecendo, mostrando as angústias e motivos de reflexões para imaginarem se valeu ou não fazer a guerrilha, mas sem um rumo interessante a seguir que empolgue o público.
O filme nos mostra que a ex-guerrilheira Ana, ícone do movimento de esquerda, é o último elo entre um grupo de amigos que resistiu à ditadura militar no Brasil. Com a iminente morte da amiga, eles se reencontram na sala de espera de um hospital. Entre eles está Irene, uma diretora de cinema que sente-se perdida diante da iminente morte da amiga e que precisa ainda lidar com a inesperada prisão de Paolo, seu marido, acusado de ter matado duas pessoas em um atentado terrorista ocorrido décadas atrás na Itália.
Pode parecer que lendo a sinopse você entenda um pouco mais do que a diretora e roteirista Lucia Murat quis nos mostrar, mas durante a exibição o longa acaba sendo um pouco desconexo e não se desenvolve de forma heterogênea aparentando ser diversas pessoas apenas falando sobre como foi sua vida na época da guerrilha, se o motivo foi cumprido e como Ana era importante para conectar todos eles, e de forma bem utópica, tudo acaba não se conectando, ficando bem vago no ar e em diversos momentos me vi perguntando aonde eles querem chegar com isso, e não chegam. A diretora também abusou de planos diferenciados a cada cena sem alongar os diálogos, então a aparência do longa lembra bem a dinâmica vista em uma novela, com trechos quebrados demais que não dão sentido algum para a ideologia que foi escolhida para seguir, ou seja, cansa mais do que mostra algo que interesse, e olha que a temática poderia ser desenvolvida de forma incrível que agradaria demais.
Como no longa não temos nenhum despontamento de atuações, é algo difícil até de analisar individualmente cada um, mas nas cenas em que aparece meio que como um fantasma para discutir com seus companheiros Simone Spoladore consegue demonstrar bem a expressão de alguém que foi torturada e guerrilheira das mais fortes, transformando sua Ana em um ícone como todos ali reverenciavam ela, mas aí é que entra um dos grandes problemas, que na maioria das cenas ela não está ali para discutir com os outros personagens, então seria mais agradável se tivesse como forma de pensamento a discussão, sem que os demais olhassem diretamente para ela. Irene Ravache até se sai bem como uma diretora de cinema que dá palestras e está preocupada mais com a quantidade do que com a qualidade de filmes que irá fazer, e isso é algo que se vê muito entre diversos diretores por aí, funcionando duplamente como crítica e por ela atuar de um jeito tão autoritário com os demais personagens coube também olhar a arrogância que alguns do meio também são, caiu bem o desenvolvimento, além das cenas mais doces aonde conseguiu mostrar sutileza, ou seja, foi bem completa. Estamos acostumados a ver Otávio Augusto fazendo comédia e aqui com um personagem mais falador e rebelde, acabamos estranhando um pouco o que faz, de forma que não conseguimos simpatizar por seu personagem Ricardo, talvez precisasse de mais tempo ou contar mais sua história, mas acabou deslocado. O problema maior com Franco Nero foi a falta de legendas, pois como ele e o seu Paolo são italianos, somente quem entende bem o idioma vai entender as cenas, do restante foi quase como se tivesse ali falando sobre sua vida com bom expressionismo e só. Dos demais, uma ou outra interação acaba soando interessante, mas nada que chame muito a atenção, valendo destacar mais o personagem de Miguel Thiré por mostrar que hoje a homossexualidade é algo mais normal, enquanto naquela época seria morte certa, daí a liberdade criativa junto de seu namorado artista caiu de forma interessante.
Visualmente o longa não possui muitos elementos cênicos para ser detalhado e isso soa bem como um desleixo da produção, pois somente a criatividade das arte contemporânea dos personagens gays foi usada para retratar algo, o restante como filmes que foram feitos de forma estranha, ou até mesmo um hospital não muito elaborado conseguiu mostrar o trabalho da equipe de arte. Quanto da fotografia, novamente entro na discussão de como é melhor mostrar uma cena noturna? Usar artifícios para criar alguma luz falsa na cena ou deixar como realmente é tudo escuro? A produção optou pelo segundo estilo, e em salas de mostras que não possuem projetores monstruosos para dar uma claridade extra fez com que o filme quase não fosse visto, já que a maior parte das cenas é de noite, então fica a dica para quem quer produzir algum filme que contenha cenas noturnas, sabendo que 90% dos filmes só serão exibidos em festivais e mostras, coloquem luz falsa e seja feliz induzindo que no cinema a falsidade é válida, pois é melhor ver a cena ignorando que não teria luz ali, do que acertar na iluminação inexistente e ninguém ver nada.
Da trilha sonora, me abstenho de comentar o trabalho de quem coloca apenas um ohohohohoh na maioria das cenas, a mesma cançãozinha cansativa o tempo inteiro eu teria vergonha de que colocassem meu nome nos créditos.
Enfim, a tentativa ideológica da trama é até considerável e daria um excelente filme, mas são tantos os erros e incoerências que como disse no Facebook, parece ser uma colcha de retalhos gigante com diversos pontos de vista e faltou linha e agulha para costurar tudo como um filme inteligente deveria ser. Não recomendo ele de forma alguma, e infelizmente esse acabou sendo até agora o pior filme da Mostra Golpe Sulamericano do SESC. Fico por aqui hoje, mas volto na Terça com mais um longa da Mostra, o meu último, já que os demais já conferi quando saíram comercialmente. Então abraços e até breve pessoal.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...