O gênero western é um dos que menos são lançados filmes atualmente, ao contrário de uma época gloriosa em que tinha ao menos 1 filme do estilo por semana praticamente, e o mais engraçado é que quando falamos do estilo sempre lembramos mais dos western spaghetti, que eram extremamente divertidos, ou daqueles em que todo mundo morria com muitos tiros e duelos, de forma que não consigo lembrar de ter visto nenhum filme tão melancólico como é "Dívida de Honra", aonde Tommy Lee Jones resolveu gastar todas as funções do cinema para retratar a loucura como um mal tenebroso durante um "road-movie" no velho-oeste americano.
O longa nos situa no Território de Nebraska, em 1854, aonde três mulheres que enlouqueceram são confiadas à guarda de Mary Bee Cuddy, uma pioneira forte e independente, mas que guarda uma profunda mágoa devido à solidão que sente. A caminho do Iowa, onde as mulheres poderão encontrar refúgio, Mary Bee encontra Georges Briggs, um vagabundo que ela salva de uma morte eminente e que concorda ajudá-la em sua missão. Os dois decidem unir forças para enfrentar juntos os perigos que rondam as vastas extensões da fronteira americana.
Baseado no livro "The Homesman" de Glendon Swarthout, Tommy se juntou com outros roteiristas para desenvolver a história para o cinema e também optou por dirigir e ser protagonista dela, assim sendo ocupa praticamente todos os espaços do filme na frente e atrás das câmeras. Digo isso não como algo bom, pois mesmo ele sendo um excelente ator que sabe bem o que deseja fazer, há certos pontos da trama que poderiam ser mais desenvolvidos, já que temos uma introdução correta, porém um pouco confusa, aonde nos é mostrado a loucura das mulheres, mas sem muita explicação do motivo exato que as deixou assim, depois surge o personagem do protagonista com uma história mais aberta ainda que fica parecendo o longa ser uma continuação de algo, e não é, em seguida temos um miolo com uma cenografia incrível, alguns momentos bem dramatizados e feitos com primor, mas ao virar para o clímax e fechamento temos uma quebra de percurso meio dura demais que parece não ser adequada para a história, além de um aceleramento com tudo que vinha num ritmo bem pontuado. Ou seja, poderiam ter trabalhado melhor para termos uma história homogênea e aí sim seria um longa memorável, mas do jeito que foi garanto que daqui há algumas horas nem vou lembrar de ter visto ele, mesmo sendo bom, mas com nada que fique marcado na lembrança.
No quesito atuação, Tommy com seu ar mau-humorado que já conhecemos caiu muito bem para o personagem principal da trama e conseguiu incorporar tudo que o personagem Briggs tinha de melhor e de pior para a tela, sua composição de voz também ficou bem interessante de acompanhar. Todos imaginavam que Hilary Swank decolaria logo após seu segundo Oscar com "Menina de Ouro", mas por não ser um rostinho tão bonito, sempre lhe cai papéis mais rústicos e aqui como esse era o mote da protagonista Mary Bee Cuddy, a atriz conseguiu assimilar e dar seu ar próprio e garra para a personagem, talvez esperássemos um final mais adequado para ela, e algo a mais de sua última cena, que não consegui enxergar se foi erro de corte ou de roteiro mesmo, mas no geral as feições que doou foram acertadas e interessantes de ver. As demais atrizes que ficam reclusas na carroça não temos muito o que falar senão que realmente passaram toda a loucura nas expressões, seja gritando, berrando ou até mesmo fazendo caras de desânimo mórbido e isso com certeza deve ter sido muito bem trabalhado com laboratórios antes para incorporarem, então temos de dar os parabéns para Miranda Otto, Sonja Richter e Grace Gummer pelo que fizeram com suas personagens. E apenas para fechar literalmente Meryl Streep faz uma aparição bem colocada como a mulher do pastor, Altha Carter e assim voltar a atuar com seu grande amigo Jones.
O que mais me instiga em westerns, afinal já pude produzir 3 curtas do gênero, é o conceito visual da direção de arte e de fotografia, pois sempre com muitos elementos em tons marrons, figurinos marcantes e cenografia bem trabalhada para contextualizar a situação que vivem os personagens são tão clássicos que não tem como errar e mesmo tudo aparentando sujeira ainda tem seu charme, aqui como o longa é quase um road-movie passando por invernos rígidos, índios e até mesmo desertos sem fim, tiveram ainda muito capricho em deixar o ar marcante também na sonoplastia, e tudo isso juntou em algo primoroso e bem trabalhado com diversos elementos cênicos para impressionar e marcar cada cena individualmente, e ao entrar em Iowa, já temos o choque de mudança total dos hábitos e qualidade de vida que dá outra nuance para que a técnica mude tanto os personagens quanto o contexto da história. Com uma fotografia bem suja, mas lindíssima sempre trabalhando na maior parte com planos abertíssimos para mostrar o contexto visual que se enquadra o longa, o filme ganha nuances próprias e desenvolve bem, procurando ousar somente em alguns sombreados nas cenas noturnas, mas ainda assim mantendo todo o contexto gráfico que um bom western pede.
Além de trilhas orquestradas seguindo o contexto que o filme pedia, os dois protagonistas ainda tiveram, como se já não tivessem feito muita coisa, a oportunidade de cantar também na trama, então temos Swank e Jones cantando cada um duas a três canções no filme, e foram afinados e deram um certo charme para as músicas, mas independente de caber no contexto da trama, poderia ter sido colocado de outra forma.
Enfim, é um longa que os fãs do gênero com certeza gostarão do resultado final que lhes é entregue com a produção, mas de forma melancólica não é algo que saímos empolgados da sessão do cinema com o que vimos, tudo parece pesado e dramático demais, que a sensação é de que poderia ser uma trama completamente diferente que traria o mesmo resultado perfeito e ainda deixaria a trama gostosa de ser assistida várias vezes, como costumava acontecer com a maioria dos clássicos do gênero, e mesmo tendo diversos elementos marcantes, não garanto lembrar desse filme daqui a pouco se alguém me perguntar o que achei dele. Mas como disse, se você gosta do gênero, com certeza vale a pena conferir, principalmente pela bela fotografia e arte entregues pela trama. Fico por aqui hoje, mas para fechar a semana cinematográfica ainda faltam 2 longas da Mostra Golpe Sulamericano do SESC para conferir, então abraços e até breve pessoal.
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