Infância Clandestina

3/10/2015 11:53:00 PM |

Durante o mês de Março, irão aparecer aqui no site algumas críticas de filmes não tão recentes, mas que devido à pouca distribuição acabaram não passando no interior, e agora com a Mostra Golpe Sulamericano do SESC, poderei conferir alguns longas que mostram um pouco do que ocorreu nos anos 60, 70 e 80 pela América do Sul. E nessa época algumas ideologias foram extremamente perversas com a vida de algumas pessoas, fazendo com que eles perdessem suas vidas em guerrilhas e suas crianças perdessem os momentos bons da infância principalmente devido à seguirem seus pais nas loucuras que viviam, e no filme "Infância Clandestina", mesmo que de uma forma mais leve, isso é mostrado num misto de drama, com o uso de algumas técnicas artísticas mesclando desenho, rotoscopia e claro boa atuação, mas a equipe se preocupou pouco com a iluminação, e já que os protagonistas são clandestinos, tudo é escuro demais, e muito das principais cenas se perdem frente ao que não é mostrado.

O filme nos situa na Argentina, em 1979, onde da mesma forma que seu pai (César Troncoso), sua mãe e seu querido tio Beto, Juan leva uma vida clandestina. Fora do berço familiar ele é conhecido por um outro nome, Ernesto, e precisa manter as aparências pelo bem da família, que luta contra a ditadura militar que governa o país. Tudo corre bem, até ele se apaixonar por Maria, uma colega de escola. Sonhando com voos mais altos ao seu lado, ele passa por cima das rígidas regras familiares para poder ficar mais tempo com ela.

Em seu primeiro longa metragem de ficção Benjamín Ávila foi incisivo ao trabalhar com um tema que não é muito fácil representar, afinal a ditadura militar ainda é um processo que remói o pensamento de muitas pessoas, e mexer com isso nem sempre vai arrumar pessoas dispostas a desembolsar verba para os recursos que a trama necessita, e isso é algo que fica evidente na produção do longa, pois tudo é muito simples e não chega a compôr os cenários, de forma que precisaram apelar em demasia para uma fotografia mais escurecida, o que acabou também atrapalhando um pouco toda a beleza que a história poderia desenvolver mesmo tendo base em algo que é duro e rígido. Claro que essas nuances o público consegue retirar com um pouco de análise da trama, mas se mostrado no filme, o impacto seria completamente outro, Com ângulos que também não colaboraram muito, o filme tem um desenrolar interessante, mas a cada cena deixa um gostinho de quero mais que poderia ser completamente sanado se fosse alguém mais experiente na direção. Mas se temos algo a dizer de completamente positivo, foi a técnica de desenhos empregadas para elucidar trechos que poderiam ser mais violentos, e acabaram dando um tom mais explicativo, sem ser forçado.

Dos atores, o jovem Teo Gutiérrez Romero até se dá bem com a câmera, mas faltou um pouco mais de orientação expressiva para que sua estreia no cinema como Juan/Ernersto não fosse sutil demais, de tal maneira que a história iremos guardar do filme, mas o jovem infelizmente nunca mais vou lembrar do que fez, de tão fraquinho que foram seus semblantes. Em compensação Natalia Oreiro foi impactante em diversas cenas com sua Cristina/Charo, tendo ênfase na maior parte dos diálogos e expressando sempre com olhares incisivos, suas cenas com o garoto, cantando e com a mãe foram as melhores do filme. Ernesto Alterio trabalhou bem a personalidade daquele tio que gostamos muito e nos dá conselhos que levamos para a vida toda, fazendo seu personagem Beto ser o ponto marcante no longa, e isso acaba sendo raro em personagens coadjuvantes, mas valem muito para o ator que consegue o feitio. César Troncoso já com sua rispidez característica das pessoas fissuradas pela guerrilha acaba sendo forçado demais e chega a beirar a maluquice com seu Horacio/Daniel, mas como as pessoas que fazem isso são dessa forma, até que incorporou bem o personagem e só temos a temer viver com pessoas assim, mas não precisaria de certas cenas para isso.

Como disse no começo do texto, o filme até foi bem retratado visualmente para demonstrar o ano em que se passa, mas foi falho em elementos cênicos demais, ou foram omitidos demais pela escuridão da fotografia, claro que quiseram passar todo o lance dos personagens serem clandestinos e viverem escondidos, mas isso não é motivo algum para não usar ao menos algo que iluminasse o recinto de forma correta e mostrasse tudo que tinha no galpão para ser usado. Valendo destacar nesse quesito apenas a cena do carro com as duas crianças, que foi a mais simbólica e interessante trabalhada dentro de um conceito visual. E dessa forma a fotografia foi o ponto mais falho do longa com certeza, que se tivessem trabalhado melhor, faria o longa ser um clássico épico sobre a ditadura.

Enfim, é um longa cheio de simbolismos e que consegue representar bem a época da ditadura na Argentina, talvez apenas alguns ajustes técnicos fariam o longa ser perfeito. Claro que muitos filmes já nos mostraram a visão dos adultos sobre a época, e dessa forma o acerto é ainda maior já que o ponto de vista do longa é de uma criança. Ou seja, é um filme bacana que se relevarmos os principais erros, agrada ainda mais, mas se pesarmos eles talvez seja motivo de muita reclamação, e assim sendo vou ficar com uma nota mediana, mas recomendando ele para todos que quiserem saber um pouco mais de como um golpe atrapalha a vida do povo. Fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais estreias da próxima semana e se der certo outro filme que também não apareceu em Ribeirão na data de estreia, então abraços e até breve pessoal. Ah e lembrando que quem for de Araraquara, amanhã(11/03) estarei no SESC às 20hs para um bate-papo sobre crítica.



2 comentários:

Unknown disse...

O director Benjamin Avila fez um grande trabalho com este filme. Bons atores, entre os quais estão a Natalia Oreiro, Cesar Troncoso, Ernesto Alteiro. Eu acho que as boas atuações combinar com uma grande história.

Fernando Coelho disse...

Ola Itzel, realmente o trabalho do diretor foi bem visto nos atores, mas ele poderia ter pegado um pouco mais forte com alguns dos jovens para impactar mais, mas ainda assim um trabalho que vale muito a pena ser visto! Abraços!!

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