Uma coisa que assusta no cinema brasileiro é o tempo que demoram para lançar comercialmente um filme, de forma que alguns atores acabam morrendo e de certa forma acaba sendo até estranho quando lançam e você vê ele lá firme e forte. Com "O Duelo" aconteceu exatamente isso, pois produzido em 2012, só chegou aos cinemas agora com Wilker já embaixo de sete palmos de terra. Mas isso acontece também com filmes de outros países, então nem vem ao caso, mas falar sobre o filme aí com certeza é fazer o pobre se remexer no túmulo, pois é triste a adaptação do livro de Jorge Amado, não pela história em si, e muito menos pela produção muito bem feita, mas com diversos problemas técnicos como trilha sonora completamente fora de rumo e atores forçando tudo no melhor estilo novelesco de ser, o resultado final mais parece uma minissérie de homenagem da Globo, mesmo não sendo deles a obra, ao artista do que um filme que valha a pena mesmo ser assistido.
O filme nos mostra que o comandante Vasco Moscoso de Aragão está cansado da sua vida aventureira em alto mar, e busca um lugar tranquilo para viver. É assim que ele chega até a vila de Periperi, uma cidadezinha costeira, e logo conquista a todos no local. Aragão ganha a admiração dos homens que se juntam para ouvir suas histórias fantásticas, e conquista as mulheres, com seus ares românticos da Europa. Só que o fiscal Chico Pacheco, até então o homem mais admirado da cidade, desconfia de Aragão e começa a investigar a vida do forasteiro, querendo saber se tudo que ele diz é verdade ou não.
A história é até bem interessante e divertida, de modo que a adaptação do livro "Os Velhos Marinheiros ou O Capitão-de-longo-curso” de José de Alencar ganha de modo fantasioso uma produção bem rica, cheia de efeitos digitais e que acabou virando algo envolvente impondo a cada mentira contada tudo vai se aumentando e chegamos ao ponto maioral aonde as mentiras acabam modificadas mais uma vez e tudo começa a cair. A direção e o roteiro de Marcos Jorge, mais conhecido por "Estômago", é num contexto geral até que bem feita, pois conseguiu montar de forma bem divertida e extremamente bem produzida um longa caricato, porém se tivesse feito apenas metade da boa direção de atores do seu longa mais conhecido, a comédia aqui seria inteligente e agradável, mas como optou por algo mais novelesco, acabou beirando um "Zorra Total" com mais história, aonde Wilker só fez por gritar e os demais não sabiam para aonde olhar.
Já que falei sobre a bagunça na atuação vamos falar um pouco individualmente começando por José Wilker, que como gostava de fazer, curtiu muito com tudo, aparentando estar feliz por xingar e falar milhões de palavrões para tentar desmascarar o comandante protagonista, e sempre do seu jeitinho até contou bem com eloquência a história, mas poderia ser um personagem mais envolvente que nos colocasse mais a favor dele do que apenas um agitador com seu Chico Pacheco. Joaquim de Almeida trabalhou bastante para viver o personagem principal nas duas épocas que se passa o filme, sendo o galã em ambas as idades e um mentiroso de mão cheia, mas nos momentos que era para demonstrar desânimo com a cabeça baixa ficou parecendo aquelas crianças pequenas que você põe de castigo e emburra, e isso com certeza não era o esperado dele. Claudia Raia fazendo praticamente 3 visuais diferentes no mesmo personagem foi bem engraçado e caiu bem, mostrando que mesmo não tendo tantos diálogos conseguiu encaixar bem na trama, sendo a melhor em cena com sua Carol. Marcio Garcia teve uma participação típica para mostrar que no Brasil tudo se dá um jeitinho, até conseguir títulos, mas sua atuação foi um pouco frouxa, fazendo carão em todas as cenas e incomodando muito com isso. E para fechar Patrícia Pillar como a pianista Clotilde mostrou que ou arrumamos um daqueles pianos que tocam sozinhos para gravar a cena, ou não damos close nas mãos, a música tocando (algo nada a ver com sons que saem do piano, mas vou falar mais disso nas trilhas) e seus dedos dedilhando algo completamente diferente, ou seja, péssima atuação nesse quesito, mas ao menos nos diálogos mostrou que ainda é afiada no modo interpretativo dos textos. Do restante, melhor me abster de falar mais mal ainda.
Agora o melhor ponto do filme sem dúvida alguma ficou por conta da produção artística que trabalhou e muito para criar um visual incrível para a trama, sendo bem cheia de elementos cênicos e com muita dinâmica no mar, claro que para isso usaram muita computação gráfica com cenas utilizando um chroma-key meio estranho em alguns momentos, e nessas cenas os efeitos digitais foram os que mais falharam, talvez se ficassem só com a cenografia comum mesmo, o resultado seria mais agradável. A grande sacada ficou por misturar as cenas das histórias contadas com o que está acontecendo mixando dois cenários em um, o que deu um certo charme para a produção. E a cena destaque em quesito de montagem cênica com certeza ficou para após a tempestade. A fotografia cometeu alguns pequenos deslizes iluminando algumas cenas demais, mas como disse o longa trabalhou com muita computação gráfica e como no Brasil isso é algo que usamos muito pouco, o erro foi que ao dar muita luz para que o efeito funcionasse, acabou estourando demais e estragando tudo.
Agora o desastre completo do filme ficou por conta da escolha das trilhas sonoras que completamente fora do contexto da cena hora tocando música alta demais sem mixar com as vozes dos personagens parecia brigar conosco, e raramente serviam para dar vida ao filme, isso é um erro que não tem como questionar, pois não é feito na hora da gravação, podendo olhar a cena e ver se encaixa ou não o que foi escolhido, e não convenceu, não divertiu e nem serviu para questionar algo, que são as funções de uma boa trilha, ou seja, lastimável. Além disso, quando uma música serve de encaixe na cena, por exemplo no momento em que Patricia Pillar toca piano, todos sabemos o barulho que um piano faz, e me entra praticamente um solo de guitarra ao fundo, com as mãos dela tocando algo completamente diferente do que estamos ouvindo, aí nem que o filme fosse uma paródia completa de algo seria aceitável.
Enfim, o filme realmente poderia ser interessante, divertido e agradável, mas contém tantos erros bobos que não dá para recomendar o filme, talvez sirva para ver uma história que provavelmente você leu na época do vestibular no passado como os livros de Jorge Amado sempre caiam nas provas, mas tudo ocorre de forma tão absurda que nem se quisessem jogar para a comédia de absurdo conseguiriam. Fico por aqui agora, mas volto em breve com mais uma das estreias dessa semana, então abraços e até lá pessoal.
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