O cinema argentino atual é tão cheio de estilos e misturas acertadas, que praticamente quando um longa é lançado, já vamos ao cinema certos de que iremos sair maravilhados com o que veremos, ainda mais quando está presente Ricardo Darín que já virou um ícone dos longas do país. Mas a real sensação que ficamos após ver "Sétimo" é tão decepcionante que foi preciso rever o trailer para lembrar o porquê desejava tanto ver esse filme, pois até possui bons momentos na trama, mas falta tanto envolvimento para criar a tensão que aliado à um final chulo, a impressão é de que acabamos de ver o último capítulo de uma novela que mostrou mais do que deveria no comercial e ao terminar falamos: "mas só isso!". E assim algo que teria tudo para criar uma situação realmente elaborada e cheia de possíveis indagações, resulta no simples, banal e tradicional de um suspense policial leve até demais.
A história contada pelo filme nos mostra que todos os dias, Sebastián e seus dois filhos, Luna e Luca fazem a mesma brincadeira. Eles apostam quem vai do sétimo andar ao térreo de forma mais rápida: o pai, no elevador, ou as crianças, de escada. Sebastián sempre ganha o jogo, mas quando, um dia, seus filhos desaparecem durante a "corrida", sem deixar pistas, e ele não vai medir esforços para recuperá-los.
Durante a primeira parte da história, todas as hipóteses que o protagonista imagina de ter acontecido com as crianças são excelentes, e dariam nuances interessantíssimas para a trama, mas o problema do roteiro foi querer trabalhar com o óbvio não sendo tão evidente e falhar feio nessa questão, numa daquelas tentativas de brincadeiras infantis: "você achou que descobriu, mas não é isso, desencane, e verá que era isso mesmo". Não posso dizer que esse estilo é um formato incoerente ou ruim, mas a falta de tensão que o diretor e roteirista do filme Patxi Amezcua deixou de criar é o que mais incomoda, pois se ele amarrasse a trama de maneira que todos já estivessem comendo suas unhas no final, até que a reclamação não seria tanta, mas da forma apresentada, olhamos pra tela e falamos: "mas só isso!". E pasmem, não é um filme longo, com 88 minutos tudo é contado, explicado, resolvido e solucionado de maneira que ao ser entregue o trabalho filmado para o editor com a ideia que queria ser passada, ele com toda certeza olhou e se questionou se teria um média-metragem nas mãos ao invés do que deveria entregar para a distribuição, pois com a história do jeito que foi criada, daria completamente para desenvolver o filme em 40-50 minutos com uma facilidade incrível e até talvez sairia melhor do que o que nos foi passado nos cinemas, mas aí não daria para ganhar dinheiro, e como ganhou, pois só na Argentina foi visto por mais de 1 milhão de espectadores, e assim ficamos conhecendo que lá também existem os picaretas do cinema enlatado, como temos por aqui.
Sobre a atuação, o que posso falar sem pestanejar é que o roteiro não conseguiu fazer que Darín nos entregasse nem metade do que sabe fazer, pois em momento algum o ator mostra impacto na sua expressão, e tirando uma ou duas cenas que aparentou desespero, nas demais tudo o que ocorria aparentava ser quase que algo cotidiano, e isso não podemos falar que foi falha do ator, mas sim da direção em não pontuar o que desejava em cada cena, e principalmente nas inflexões do roteiro, e assim, o principal ator argentino ficou tão comum quanto qualquer outro que aparecesse em cena, mas como vou falar de outros aqui, você verá que ainda tivemos alguns piores. Osvaldo Santoro faz o policial Rosales de uma expressividade tão falha que nem se o papel fosse de Nicolas Cage teria sido tão absurdo quanto os problemas que tivemos em suas cenas, desde falta de percepção de olhares, passando por incredibilidade nos diálogos, e isso com apenas 3 a 4 aparições no filme todo, ou seja, completamente fora de encaixe. Belén Rueda nos entrega uma Délia estranha demais, que inicialmente parece um amor de pessoa, mesmo pedindo o divórcio, mas prontamente arrumada como se fosse a um encontro como subjetiva o ex-marido, e na cena seguinte, como forma de desespero aparece mais descabelada do que se tivesse sido lavada num lava-jato, aonde isso é chorar, entrar em crise e tudo mais, a atriz não era boa o suficiente para comover com expressões e precisaram alterar o visual dela? Das cenas finais dela então é decepcionante falar mais ainda. Mas sem dúvida alguma o prêmio de a expressão de não saber o que está fazendo ali fica para Luis Ziembrowski, aonde seu porteiro parece estar horas desesperado, outrora sem rumo, e sempre com uma cara de choro incrível, além de alguns diálogos tão risíveis que não amarravam a dramaticidade da trama de forma alguma, ou seja, lastimável. As crianças Abel e Charo Dolz Doval, que são irmãos na vida real também, até soaram sutis e engraçadinhos nas poucas cenas que aparecem, mas infelizmente não foram orientados para passar uma química familiar com os protagonistas, e isso soou bem falso em alguns momentos.
Visualmente, o longa poderia ser dificílimo, já que um prédio com ao menos sete andares e muitos apartamentos por andar, se quisessem que o protagonista entrasse em cada um deles para investigar, o que seria totalmente possível, com o protagonista descobrindo segredos obscuros de cada um dos moradores e possíveis motivos para que tivessem sequestrado seus filhos, a equipe de arte estaria completamente numa enrascada, mas se completassem com louvor iria ser daqueles filmes para aplaudir de pé, mas não tudo é muito óbvio, entra em dois ou três apartamentos simples e tradicionais, o apartamento da família também não é desenvolvido, o dinheiro é entregue num estacionamento básico de tudo, nada que chamasse atenção alguma, de modo que ficamos olhando sempre esperando um detalhe para investigarmos junto do protagonista e a cada minuto que passa nos decepcionamos mais e mais com tudo na tela. No quesito fotográfico, até tentam enfeitar alguns momentos trabalhando com sombras e nuances, mas esquecem de todo o restante para criar o clima de tensão, não trabalhando bem as cenas escuras, não destacando os personagens que precisavam ser destacados em cada cena, fazendo o básico bem feito apenas para que o filme não falhasse nos contra-planos, mas isso é o mínimo que daria para esperar de algo profissional, então saiu errado também.
Enfim, não sei se fui com tanta sede ao pote esperando algo que o trailer deixou de certa forma bem desesperador, ou se por gostar demais do cinema argentino, a decepção por ver algo tão próximo de uma novela brasileira fraca acabou evidenciando tanto os defeitos da trama para esse Coelho, mas o que sei é que o resultado ficou tão mediano que se recomendar esse longa para algum amigo que não tenha visto nenhuma obra de arte argentina é capaz de que a pessoa classifique o cinema de lá no mesmo nível que está o nosso brasileiro, o que com certeza não é verdade. Então dê preferência para outros filmes que a garantia de ficar mais feliz é alta ao invés de se decepcionar com esse que usou apenas o ator para chamar público. Acabei vendo o longa em Araraquara, já que em Ribeirão Preto acabou não estreando, agora sei que por sorte dos demais amigos que não irão gastar com ele nos cinemas. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas amanhã volto com outro Sétimo, agora "O Sétimo Filho", então abraços e até breve.
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