É engraçado quando um longa começa com algum tipo de texto que já lhe entrega praticamente tudo o que esperar nos próximos 86 minutos e ainda assim você acabar ficando tenso com tudo que acaba acontecendo, e em "Apenas o Vento" logo de cara temos um explicativo gigante falando sobre o que aconteceu antes do que será passado no filme e frisa que mesmo sendo baseado em fatos reais não acabará sendo um documentário. Embora isso possa já ser tradicional e até ter virado clichê em alguns filmes, saber o embasamento inicial da trama, junto de uma cena logo no comecinho com os policiais numa das casas que ocorreu o crime, já nos deixa completamente aptos a saber exatamente o que os protagonistas querem nos passar e ao mesmo tempo que isso deixa um pouco triste, ficamos tensos pelo evidente resultado final. Em momento algum posso dizer que o longa é perfeito, muito pelo contrário, pois possui um dos defeitos que mais me irrita em alguns filmes artísticos, a falta da iluminação falsa para realçar cenas escuras, que irei falar mais adiante sobre isso, mas é um filme que trabalhou tudo tão bem para mostrar a vida sofrida dessas pessoas que merece respeito e ser visto por quem gosta de um suspense simples mais eficiente.
O longa nos mostra que em uma aldeia húngara, as notícias sobre o assassinato de famílias pobres de origem cigana se espalham rapidamente. Ninguém se manifesta sobre a possível identidade dos assassinos e os crimes parecem ter motivação racial. Mari mora com seu pai inválido e os dois filhos em um barraco, localizado em um bosque fora da cidade. Ela faz malabarismos com seus dois empregos e tenta manter sua rotina em meio à ansiedade da ameça de violência. A adolescente Anna tenta se concentrar em seu trabalho escolar, mas o jovem Rió está preocupado com outras coisas. Ele esta se preparando...
O diretor foi esperto ao trabalhar com ciganos reais da cidade e não forçar para que o filme ficasse caricato, mas sim mostrando a dura realidade sofrida por eles seja no trabalho, ou até mesmo com preconceitos diante dos demais nas escolas e até andando pela cidade por não serem iguais aos moradores. Porém um grande erro, ou talvez um acerto grandioso caso essa fosse a ideia original do diretor, foi contar o final para pessoas que não eram atores, e assim com eles já sabendo como deveriam interagir, entregaram muito facilmente todo o andamento da trama, o que acabou sendo um pouco deprimente, mas de forma alguma atrapalha a tensão que o longa cria, muito pelo contrário aumenta até um pouco por saber o decorrer das coisas e com a câmera bem próxima dos protagonistas acabamos mais ligados a eles, mesmo não conhecendo nada além do que é visto em cena. Ou seja, de certa forma o trabalho de Benedek Fliegauf no texto e na direção acaba sendo algo bem interessante de acompanhar, que alguns podem até não gostar de um longa mais sujo, mas o resultado impressiona com certos pormenores.
No quesito interpretativo nem dá para falar muito de cada um, afinal como disse nenhum é ator realmente, são ciganos reais que o diretor e a equipe encontraram durante uma viagem de um ano por escolas e acampamentos do país, então o que posso ressaltar é a garra do garotinho Lajos Sárkány que foi expressivo e bem colocado em todas as suas cenas, talvez se atrever menos em algumas cenas acabaria chamando mais atenção, mas ainda assim foi muito bem. A expressividade ao mesmo tempo triste e batalhadora de Katalin Toldi que faz a mãe com todo o sofrimento característico que necessitava, mas emocionaria mais se nas cenas que pensa durante o trabalho esmiuçasse mais esforço. E a garota Gyöngyi Lendvai foi a que mais entregou seu desânimo ao saber tudo que ocorreria, então nas suas cenas da escola e com a outra garotinha já vemos ela sem muita perspectiva, o que poderia ser mais impactante, mas de forma alguma isso atrapalhou o andar do filme, muito pelo contrário, pois já vamos com ela sabendo de tudo. Os demais apenas poderia ter sido mais trabalhados os policiais, pois evidentemente sendo os únicos "atores" deveriam ter sido mais irônicos e não olhado tanto para a câmera como fizeram.
No contexto visual, o diretor novamente ataca com um estilo quase que documental, o que ele afirma não ser sua vontade, mas ao mostrar os jovens sempre sujos, se banhando com quase nada de água, comendo o básico do básico, vivendo em casebres e sendo completamente desprezados com elementos cênicos claros para mostrar essa vivência, ele não só acerta a mão, como coloca toda a equipe dentro de quase uma reportagem ambulante bem marcada e pontuada para o realismo, e isso soa tão bem que por pouco não deixa o longa perfeito nesse contexto. E por que não ficou perfeito? Aí entra uma das coisas que mais reclamo nos filmes artísticos que insistem em apelar que não deve se usar iluminação falsa em cena para compor o ambiente, ou seja, se eles moram no limbo aonde nada tem muita iluminação, o filme vai ser rodado assim! E como sabemos bem, esses longas acabam passando em salas que não possuem os melhores projetores do mundo, ou seja, não existe compensação de branco, ou seja explicando melhor, o filme fica extremamente escuro e na maioria das cenas quase não vemos nada. Isso aumenta a tensão? Sim! Mas atrapalha toda a concepção artística que o filme foi pensado, então esse pormenor atrapalha e muito a ideia total do filme, e caso algum dia você for fazer um longa, pense bem sobre isso, e caso você vá assistir ao longa na sua casa, aumente bem o brilho para tentar dar algum contraste e ver melhor as cenas.
Enfim, um filme bem interessante que vale ser assistido, e fará com que você fique ansioso torcendo por um final diferente, mesmo já sabendo tudo que vai rolar logo de cara, mas a tensão dessa revelação é compensada com estilo pelo diretor, então vale a recomendação. Fico por aqui agora, mas volto com o texto do último longa do Circuito Indie SESC Festival 2015. Então abraços e até daqui a pouco.
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