Não posso em momento algum dizer que "Chappie" é um longa perfeito, mas a proposta de um longa familiar e ao mesmo tempo cheio de ação e violência é tão bem feito, que mesmo que o diretor mostre o seu estilo repetido mais uma vez, o que não julgo um erro, mas sim prova que segue um ideal lógico e próprio, acaba sendo uma diversão inteligente e cheia de nuances policias que agrada e por incrível que pareça até me remeteu a diversos outros bons filmes policiais das antigas, e como muitos sabem esse é um gênero que ou você gosta do que é mostrado ou odeia de vez, e o que nos é entregue aqui foi bem usado no conceito de ao mesmo tempo ser popular e ter sacadas próprias para os mais invocados não reclamar da falta de existencialismo. Ou seja, pipoca + pensamento ideológico + diversão + robôs = filme interessante para ser assistido e discutido.
Em um futuro próximo, a África do Sul decidiu substituir os seus policiais humanos por uma frota de robôs ultra resistentes e dotados de inteligência artificial. O criador destes modelos, o brilhante cientista Deon, sonha em embutir emoções nos robôs, mas a diretora da empresa de segurança desaprova a ideia. Um dia, ele rouba um modelo defeituoso e faz experiências nele, até conseguir criar Chappie, um robô capaz de pensar e aprender por conta própria. Mas Chappie é roubado por um grupo de ladrões que precisa da ajuda para um assalto a banco. Quando Vincent, um engenheiro rival de Deon, decide sabotar as experiências do colega de trabalho, a segurança do país e o futuro de Chappie correm riscos.
O filme que é inspirado no primeiro curta-metragem do diretor Neill BlomKamp "Tetra Vaal" consegue trabalhar bem no misto de comédia/drama ácido com crítica social que já vimos em outros longas do diretor, e isso é interessante para mostrar que o diretor definiu com poucos filmes já qual vai ser o seu estilo, então os que estão somente reclamando dele insistir nas características presentes em "Distrito 9", "Elysium" e agora em "Chappie", reclamem também com outros diretores que colocam sempre os mesmos elementos ocultos, reclamem com a Pixar que sempre coloca os mesmos números escondidos e por aí vai, pois o diretor segue a linha que desejar, e com certeza o resultado aqui pode não ser uma perfeição, mas diverte demais e comove também em diversos momentos, fazendo homenagens em diversos atos à outros filmes que envolvem robôs e até sendo irônico ao colocar um dos atores que vem sendo considerado como um dos maiores heróis da atualidade, como um vilão forçado e rebelde ao mesmo tempo. E nessa junção de ideias, o diretor e roteirista soube trabalhar os fatores de uma das maneiras mais bem escolhidas que é através dos diálogos mais acentuados, optando por menos cenas longas e cheias de história para uma ação mais rítmica, cheia de gírias e palavrões que agradará bastante a todos que forem dispostos a curtir o filme.
É engraçado ver como o diretor é bom na direção de cenas, mas as vezes nas interpretações dos atores acaba faltando um pouco de exigência, por exemplo, sabemos que Hugh Jackman é um ator excepcional e que trabalha muito seu modo expressivo, mas aqui ficou tão apagado como um semi-vilão, que mesmo usando de seu sotaque australiano original, não conseguiu que ficássemos reparando nas suas cenas, e por serem bem poucas acaba quase como um coadjuvante de luxo, sendo que não era essa a intenção do personagem. Desde que estrelou "Quem Quer Ser Um Milionário", Dev Patel cresceu muito tanto fisicamente quanto na sua forma de atuar, e vem agradando bastante nos seus trabalhos, e aqui não foi diferente ao mostrar ao mesmo tempo empolgação para com sua criação quanto temor pelos momentos mais tensos, e isso mostra que a chance de ficar cada vez mais perfeito é grande e com isso iremos sempre acompanhar ele torcendo para agradar como fez aqui e em todos os outros filmes que tem aparecido e trabalhando bem. Agora um ponto majestoso ficou a cargo da equipe de computação gráfica para os movimentos de Chappie, mas sem sombras de dúvida a dublagem de Sharlto Copley caiu como uma luva para o robô que encaixou bons trejeitos, expressões de bebê ao aprender as coisas e tudo para agradar demais o contexto do filme. Até a estranha mas boa atuação dos dois rappers sul-africanos que estreiam no cinema Ninja e Yolandi Visser foi bem encaixada na trama e ambos acabaram saindo bem no contexto que o filme pedia, claro que se tivéssemos alguns atores profissionais no lugar a atenção seria outra, mas no geral souberam dar conta do recado no que pediam as cenas. Em compensação a famosa Sigourney Weaver já não anda chamando tanta atenção por fazer bons papéis e aqui ela saiu melhor na cena que fica nervosa e bebe do que nas outras que tenta forçar como uma chefe bélica durona, que acabou soando bem falso, mas como seu papel é bem secundário até que não atrapalhou tanto. Ficarei na expectativa de fazerem um segundo filme, agora de forma bem diferente sem dizer o que acontece para não estragar a sessão de ninguém, mas acredito muito no potencial dos atores e principalmente do diretor.
Sobre o visual da trama, Joanesburgo já é conhecida como uma cidade meio bagunçada, e com um visual meio futurístico tomado pelo caos, e olha que o longa se passa em 2016, ficou tudo ainda mais bagunçado e estranho, mas ainda assim o longa agrada nesse quesito, pois souberam trabalhar com as locações para dar a temática que cada um dos personagens vivem, ou seja, tudo foi bem encaixado nas cenas que são cheias de tecnologia, que falhou em algumas situações absurdas, mas no contexto artístico foi algo muito bonito de se ver, mas nas que envolviam o quesito familiar e partiam para um princípio mais filosóficos com o robô, a tensão ajuda na criação dos elementos ao redor para formar o cenário completo. A fotografia foi toda puxada para um tom mais azulado com cores mais escuras para dar um certo teor dramático para a trama, e isso ficou muito bacana de ver, pois o longa poderia ser mais alegre se optassem por outras cores, mas preferiram enfatizar a dureza cênica e o drama do personagem principal. No geral temos bons efeitos que agradam, mas poderiam ter forçado menos nas explosões para soar menos falso em algumas cenas, mas no geral a computação gráfica toda agradou bastante ao se mixar com as cenas reais.
Com uma trilha sonora de primeiro nível aonde Hans Zimmer dá seu show tradicional, e com canções originais dos rappers protagonistas Ninja e Yolandi, o longa acabou ficando bem dentro da proposta gangster queriam atingir, e assim o ritmo não chega a cansar em momento algum, mesmo tendo diversos momentos aonde a filosofia paira e deixa fluir, de forma que nem vemos as duas horas de filme passar, e saímos ainda com a canção-tema final na cabeça com tudo que foi passado no longa dentro da letra.
Enfim é um excelente filme que diverte demais e agrada bastante, talvez corrigindo um ou outro detalhe acabaria mais perfeito, mas o resultado final é empolgante e vale muito a pena ser conferido. Como disse para um amigo, muitos vão sempre destruir o trabalho de alguns diretores que criaram algo genial no começo de suas carreiras, mas temos de abolir que "Distrito 9" foi feito e não vai ser refeito uma cópia, então o diretor vai apenas colocar nuances que mostrem sua técnica usada lá e cada vez vai inovar ou copiar um ou outro detalhe, então vá ver esse que é muito bem feito e saia feliz com o que verá, pois a diversão é garantida. Só faço uma ressalva, pois mesmo sabendo que alguns gostam de ver filmes dublados, recomendo demais que veja esse legendado, pois com a quantidade de palavrões bem encaixados na trama, fico com um medo imenso disso ter sido perdido na dublagem nacional. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje que já está bem tarde, mas volto mais a noite com outro longa que irei conferir, então abraços e até breve.
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