O longa "Deixe a Luz Acesa" seria mais um filme tradicionalmente comum por mostrar dramas envolvendo relacionamentos, com a rotina tradicional de romance, drogas, álcool, brigas, retornos e tudo mais durante quase uma década se não fosse um detalhe, ao invés de termos o que todos filmes usam como protagonistas sendo um homem e uma mulher, aqui temos dois homens. Ou seja, de um longa tradicional que Richard Linklater nos entregaria temos algo de Ira Sachs que vai do nada à lugar algum, com a ideia do relacionamento problemático, e claro que dessa forma vai dividir bem as opiniões, pois o público mais acostumado com relacionamentos desse estilo cheio de idas e vindas vai achar até que bonitinho se ver retratado na tela do cinema, mas os demais vão sair da sessão se perguntando o porquê alguém faria um longa sem clímax, ou mote real para existência, e assim, embora seja um filme bem feito, cheio de boas canções e uma atuação bem feita, acaba sendo fraco demais.
O filme nos mostra a trajetória emocional e sexual percorrida por dois homens que vivem experiências de amor, dependência e amizade. O documentarista Erik e o enrustido advogado Paul se conhecem casualmente em Nova Iorque. O que a princípio poderia ser apenas um encontro sexual fortuito, torna-se um relacionamento sério. Quer individualmente, quer como casal, Erik e Paul vivem intensamente todo tipo de riscos -- compulsivamente e incitados pelas drogas e pelo sexo. Numa relação de quase uma década, marcada por altos e baixos e por padrões disfuncionais, Erik procura negociar os seus limites, enquanto busca a sua verdade.
O longa nos remete a todo momento a expectativa de que algo vai acontecer, de que vamos ter um clímax para o filme, mas o rodeio dos personagens acaba sendo sempre pobre frente à ideologia do diretor e roteirista Ira Sachs ao tentar mostrar que o relacionamento homossexual é igual a qualquer outro heterossexual, com problemas de drogas, álcool, necessidades de carinho e tudo mais, mas chegamos ao ponto de falar: cadê o motivo do filme existir? O longa se desenrola em 101 minutos cansativos e repetitivos que abusam da inteligência do espectador mais comum. Claro que repito, em momento algum não podemos falar que é uma relação bonitinha e que muitos torceriam pelo investimento de um na recuperação do outro e que vivessem felizes pela eternidade, podendo a qualquer momento substituir o protagonista por uma mulher e ver o filme como um longa totalmente tradicionalista, mas o resultado geral é tão banal que é quase como se qualquer conhecido seu chegasse lhe contando como é o relacionamento dele dia a dia, e para isso existe um rede social que muitos até fazem isso, portanto o longa não entrega nada, possui algumas cenas mais picantes, mas nada que assuste uma pessoa comum, e por mais bem feito que seja tecnicamente é algo que só teve as premiações que teve por não ser tradicional.
Sobre as atuações dos protagonistas, não conhecia Thure Lindhardt de outros filmes, por sempre fazer papéis pequenos, mas seu Erik foi tão bem desenvolvido na trama, que consigo ver ele em diversos outros bons papéis, por mesmo trabalhando o lado gay menos forçado, conseguiu encaixar como alguém comum que ao menos sabe o que quer e com boa expressividade acaba chamando atenção. Enquanto Zachary Booth já trabalha mais com olhares fora de cena para não ser mais contundente com seu Paul e de certa maneira repete tanto a mesma forma de atuar que cansamos literalmente dele, e o que poderia ser mais visceral no romance dos dois acaba sendo até bobo demais em diversos momentos pela atuação um pouco afoita do rapaz. Os demais personagens acabam sempre aparecendo para dar o conforto após um "pé-na-bunda" ou alguma depressão dos protagonistas, e claro também nos encontros sexuais deles com outros homens, mas nenhum chega a dar alguma expressão interessante para trama, somente funcionando como algumas esquetes rápidas e cômicas ou como alívio de tensão mesmo, ou seja, ninguém quis puxar a responsabilidade para si.
No conceito artístico visual o longa trabalhou bem com a cenografia mais intimista e cheia de objetos ricos na formatação dos ambientes, de modo que o que podemos falar é que o bom gosto refinado dos protagonistas estão impregnados por onde quer que olhássemos, e isso mostrou que a equipe artística quis mostrar serviço do começo ao fim, não falhando sequer em um cenário que apareça na tela, e isso é legal de ver, pois alguns longas mais simples costumam falhar justamente nesse quesito, o que aqui acaba sendo o melhor de ver. E junto com uma boa cenografia, a equipe de fotografia optou por um filtro mais denso tanto na captação quanto na edição, o que deu ao filme uma textura mais trabalhada e assim dar uma classe que somente nos longas mais antigos costumávamos ver, e para isso usou-se também o nome do filme empregando iluminações bem pontuadas para dar o contraste necessário para o que desejavam, ou seja, um longa rico em técnicas.
No quesito musical, também tivemos canções bem bonitas que foram escolhidas na medida certa para desenvolver a trama, claro que como disse o longa é um enrosco só no conceito da história, então nem que colocassem músicas agitadíssimas, o filme teria um ritmo gostoso de acompanhar, mas em alguns momentos a escolha é tão envolvente e gostosa de ouvir que aparentemente por alguns instantes o filme se torna agradável e parece que vai seguir, mas em seguida tudo retorna à estaca zero e nem que o nosso cantor favorito entrasse com a trilha inteira salvaria.
Enfim, com toda certeza teremos com certeza muitos que vão falar bem do filme pelo conceito que disse de mostrar que relacionamentos homossexuais também possuem os mesmos problemas dos heterossexuais, mas tirando esse detalhe, vai ser raro alguém falar que se apaixonou pelo filme pela história passada, e como falei, repito, que temos técnica extremamente bem empregada na produção, mas de técnica temos muitos outros bons para ver, então faltou o longa decidir um rumo e atacar nele. Bem é isso pessoal, acabo aqui minha cobertura do Circuito Indie SEC Festival 2015, que possibilitou que víssemos diversos filmes que não apareceram na cidade, então fica já a dica para que no próximo todos confiram os bons e, alguns não tão bons, filmes que ao menos vão servir para discussões futuras. Fico por aqui hoje encerrando essa que foi uma semana cinematográfica com poucos filmes, mas já me preparando para a próxima que vem bem recheada, então abraços e até breve pessoal.
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