A dureza das cenas podem chocar, afinal quando se mexe com drogas tudo passa a não ter limites, mas o que o diretor nos mostra é algo que vai muito além disso, é mostrar que numa terça sem leis, o limite desse consegue ficar ainda pior. Em "Heli" ficamos passos a cada cena que passa e junto de um ritmo extremamente rígido e lento que o diretor quis propositalmente causar a sensação de junto com o protagonista buscar por respostas melhores, o espectador entra em uma agonia constante com tudo que nos é entregue, mas posso confessar que se você não for um exímio amante de filmes extremamente artísticos a chance do choque ser nulo é altíssimo.
O filme nos situa em Guanajuato, México. Estela é uma garota de 12 anos que está namorando às escondidas com Beto, um jovem recruta. Ele a pressiona para que tenham relações sexuais, mas ela sempre recusa a iniciativa. Um dia, Beto esconde na caixa d'água da casa de Estela alguns pacotes com cocaína, que deveriam ter sido queimados pelo exército. Sua ideia é vender a droga e, com o dinheiro, deixar a cidade e se casar com Estela. Entretanto, os planos vão por água abaixo quando os militares que desviaram a droga descobrem quem roubou os pacotes.
O diretor Amat Escalante ganhou como Melhor Diretor no Festival de Cannes em 2013 principalmente por saber dar essa característica crua para a trama, pois outros diretores acabariam tratando o roteiro como uma história de tráfico envolvendo uma família no meio, mas de forma bem simplória, enquanto ele optou por ir quase para dentro da mente do protagonista é fazermos parte disso de modo que ficou duro é forte com precisão, não apenas sendo jogados na tela com imagens, mas usando do contexto para abranger toda a situação que desejava causar.
Os protagonistas de certo modo foram amadores na forma de interpretação, afinal para quase todos o longa foi o primeiro trabalho de atuação, mas como o que se pedia era um pouco disso, o resultado acaba sendo interessante de ver devido o impacto que foi causado. Armando Espitia que interpreta Heli foi levado à trabalhar sobre pressão clara de uma maneira rígida comparada a outros do mesmo estilo, mas isso foi bom para dar mais veracidade ao papel e pela forma que o diretor nos coloca quase que junto do pensamento dele, a interpretação calma e aberta ficou de certa maneira bem dirigida e interessante. Andrea Vergara fez suas cenas iniciais de uma maneira tão fraca para o que suas cenas pediam, que chega a dar dó de não saber para onde deve olhar, mas foi melhorando nas últimas cenas de modo que passou a ser interessante seu olhar mais introspectivo. Linda González aparentemente foi jogada na trama, não combinando de maneira alguma como uma esposa ou qualquer coisa do tipo, parecendo mais uma namorada que foi escolhida para ter as cenas mais quentes com o protagonista para não deixar que outra fizesse as cenas, mas no quesito interpretação foi um enfeite de cena. Não costumo julgar beleza de atores, mas Reina Torres foi uma apelação bizarra para o papel da detetive Maribel, chega a ser estranho a um nível de bizarrice que nem dá para avaliar, e para piorar, o papel também vai ficando ainda mais sem noção alguma de modo que sua última cena é lastimável o que faz. Juan Eduardo Palacios foi extremamente corajoso ao permitir o estilo de cenas logo em seu primeiro papel no cinema, colocando nudez ao nível máximo juntamente com uma tortura mostrada sem pudores algum, de maneira que pode até ganhar outros papéis pelo que fez ali, mas se tivesse interpretado com expressões melhores acabaria sendo lembrado não apenas pela cena, mas sim como um ator. Mas o ponto forte no quesito atuação fica para a forma assustadora da tortura do cartel com as crianças participando de tudo ali assistindo mesmo sem saber o porquê estavam batendo, e isso mostrou que os atores realmente foram bem dirigidos para mostrar como um país sem leis funciona.
A direção de arte trabalhou bem a aridez desértica dos cenários impregnando juntamente os poucos, mas chamativos elementos cênicos para funcionar bem de modo a mostrar a simplicidade das famílias e tudo o que ocorria ali. E além disso conseguiram manter a sintonia cênica com o que queriam mostrar no rigor da tortura para que isso causasse de certa maneira um certo choque nos espectadores. A câmera forçou em demasia o conceito psicológico da trama ao ficar diversas vezes paradas na mesma cena sem que nada quase acontecesse e tivesse para acontecer, então dessa maneira foram enfáticos ao controlar a iluminação para que não cansasse a vista e o resultado fosse coeso.
Enfim é um longa interessante, mesmo que forçado demais para causar, claro que isso foi o que fez do longa ganhador de diversos prêmios, mas quem não tiver estômago para as cenas mais duras e paciência para as cenas mais lentas, com certeza vai acabar desistindo de ver ele até o final, que sendo algo completamente fora dos padrões comerciais, é totalmente aberto para quem quiser pensar e fazer seu próprio final da história. Fico por aqui agora, mas ainda irei falar do outro longa do Circuito Indie Festival do Sesc dessa noite, então abraços e até daqui a pouco.
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