Ida

4/07/2015 08:56:00 PM |

É bacana de ver quando diretores atuais querem fazer um bom filme nos moldes antigos, utilizando da mesma fotografia, mesmos planos e até trabalhando o estilo de atuação dos personagens para que a ideologia se permeie no que ele deseja. E com "Ida", o resultado da busca por se autoconhecer da protagonista é saber por quais votos irá abdicar, o diretor Pawel Pawlikowski conseguiu nos levar junto com ele nessa fórmula bonita, mas que só envolve aqueles que estiverem dispostos a embarcar, pois senão o cansaço pelo ritmo calmo demais pode acabar dominando dentro da fotografia em preto e branco maravilhosa.

O filme nos mostra que a jovem noviça Anna está pronta para prestar seus votos e se tornar freira, só que antes disso, por insistência da Madre Superiora, vai visitar a única familiar restante: tia Wanda, uma mulher cínica e mundana, defensora do Partido Comunista, que revela segredos sobre o seu passado. O nome real de Anna é Ida, e sua família era judia, capturada e morta pelos nazistas. Após essa revelação, as duas resolvem partir em uma jornada de autoconhecimento, para descobrir o real desfecho da história da família e onde cada uma delas pertence na sociedade.

O longa conseguiu vencer os diversos prêmios que concorreu principalmente pelo fato de ser coerente com a proposta de um longa voltado para os moldes antigos, pois não é algo trabalhado e que dê um certo carisma para a trama, mas sim algo mais charmoso e visual dentro da tratativa de conhecimento da personagem principal de como foram seus pais, da vida pecaminosa que a tia possuía e realmente saber o porquê deve abrir mão de tudo por Deus, já que antes não teve nada para conhecer já que sempre viveu no convento. Com essa ideologia em mente, o diretor e roteirista Pawel Pawlikowski se baseou numa história da própria família, já que a vó morreu em Auschwitz para criar e dirigir de uma forma bem interessante toda a proposta que tinha em mente, e felizmente saiu de forma satisfatória o resultado, mesmo que em alguns momentos nos sentíssemos meio que fora da época aonde estamos vivendo e nos transportássemos para a época que o longa tenta nos passar.

Sobre a atuação, é interessante saber que Agata Trzebuchowska é ateísta e nunca havia feito nenhum filme antes de fazer a noviça protagonista, sendo apenas uma estudante que foi escolhida em um café por um amigo do diretor para fazer o teste e acabou encaixando perfeitamente para o papel com um semblante meio perdido em nuances, mas dentro sempre dá proposta. Enquanto Agata Kulesza já trabalhou uma expressão mais forte é vivida para dar toda a característica que a tia tinha de ter passado pelo que foi a Guerra e perdido muita coisa que lhe tinha sido importante, em alguns momentos seus suspiros nos impactam na mesma perspectiva dos olhares e isso é incrível. Dos demais personagens a maioria acaba sendo de ligação com tudo que ocorre, mas o jovem que entra como um rosto bonito e pecaminoso para testar a freira foi algo bem colocado e Dawid Ogrodnik soube fazer bem o papel.

Sobre o visual da trama, como tudo foi pensado pá manter a inocência da personagem principal, junto de algo bem simplista para não destoar do conceito que a direção quis passar, tanto pela freira, quanto pelo país arrasado ainda pela Guerra que aconteceu. E assim, os elementos acabam bem simples, aparecendo somente quando realmente importam e agradando de uma maneira bem tranquila para ressaltar sem destoar. E claro, que trabalhando uma fotografia maravilhosa toda em preto e branco, o longa garantiu diversas indicações para ele nessa categoria também, não ganhando apenas por motivos de escolha pessoal dos votantes, mas que trabalhou completamente com sombras e luzes para ressaltar as características marcantes de cada momento e personagem de maneira inusitada e gostosa de ver, um luxo total para remeter as características que víamos em muitos clássicos PB.

Enfim, um filme totalmente previsível, mas que com um ar vintage bem interessante e agradável consegue fazer com que caíssemos no gosto por ele, e mais do que isso, prendesse nossa atenção para com seus curtos 80 minutos, de uma maneira que vai parecer com certeza que você pegou e alugou para assistir um daqueles filmes dos anos 70 que tudo era ao mesmo tempo engraçadinho e dramático sem poder determinar o quanto mais pende para cada lado. Ou seja, recomendo ele com certeza afinal ganhou diversos prêmios como Melhor Longa Estrangeiro de diversos países e principalmente para ver algo diferenciado sem ser amalucado demais. Fico por aqui agora, mas daqui a pouco tem mais um filme do Circuito Indie Festival do SESC, então abraços e até daqui a pouco pessoal.


 

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