Conheço muita gente por aí que fala que gosta de comédia, mas só ri das papagaiadas que vemos em besteiróis por aí, mas o dia que conseguir ver uma boa comédia dramática e se divertir pra valer vai reclamar de tudo que os outros costumam entregar com facilidade. Digo isso, pois mesmo sendo classificado como comédia, o que costumaria dar ao menos uma sessão com diversas pessoas, hoje ao assistir "Não Olhe Para Trás" fiquei assustado com somente eu e mais uma pessoa na sala, que por sinal também é do ramo, daí me veio os questionamentos: "não fizeram divulgação do longa?", "o público não gosta de bons filmes com atores clássicos?", ou "será que o público só gosta de besteiróis e não sabe o que é uma boa comédia dramática?". Mas tirando essas dúvidas que espero que evaporem com o resultado das bilheterias depois poderei finalizar elas sabendo que o problema foi apenas por aqui, que ninguém mais anda suportando o Cinemark que nunca traz nada legendado, e vive de problemas, então quando tem algo o povo já fica com medo. O que posso adiantar do longa é que se você não era fã do Al Pacino antes desse filme, o que duvido, afinal o ator sempre foi excelente em tudo que já fez, prepare-se para se emocionar com um personagem hilário e bem trabalhado do ator num longa que mostra através de fatos reais, ao menos um pouco como diz logo no início do filme, que as vezes descobrir algo que mudaria sua vida pode dar uma certa divergência na cabeça, mas certos atos vão sempre predominar e mudar os erros do passado não é algo que se faz em apenas alguns minutos.
O longa nos mostra que Danny Collins é um músico muito popular, que vive há mais de 30 anos sem compor uma música sequer, apenas reprisando os seus maiores sucessos. Cansado da rotina de drogas e excessos, ele descobre uma carta que John Lennon escreveu para ele há décadas, mas que nunca tinha chegado às suas mãos. Inspirado pelas palavras do músico, Danny decide interromper a carreira e tentar reatar com o filho já adulto, que ele nunca conheceu.
Depois de escrever diversos roteiros de animações e comédias bem desenvolvidas no quesito argumentativo e algumas falharem na direção cênica, Dan Fogelman resolveu sair de trás da papelada e ir para trás das câmeras para dirigir seu primeiro longa, claro que escrito também por ele, baseado em alguns fatos reais que são mostrados depois durante os créditos finais, e o jovem acabou saindo muito bem ao pegar um diretor experientíssimo para protagonizar e desenvolver junto com ele uma história envolvente e gostosa de acompanhar, além de musicada com qualidade e pontuada por boas sacadas divertidas, que claro funcionam num tom de humor nada apelativo, que por vezes somente entendendo realmente a piada acabamos rindo, e isso é algo muito legal de acontecer, pois nos força a entrosar com os personagens para não apenas rirmos de qualquer besteira que apareça na tela. Ou seja, o longa foi todo trabalhado de forma a convencer o espectador que Pacino é um cantor super rico e famoso que resolveu mudar sua vida de ponta cabeça para resolver os problemas do passado. Claro que após ler isso você deve estar falando que já viu esse estilo de história umas mil vezes e que muito do que é mostrado vai acabar caindo como clichê, mas a similaridade dos fatos apenas serviu de molde para o diretor novato, pois ele soube não apelar em momento algum para os fatos engraçados desse estilo de comédia, abusando mais do ator que do conteúdo, e assim o acerto foi na mosca.
Embora já tenha muitos anos de carreira, Al Pacino não se joga em qualquer filme, pois procura aceitar somente roteiros que acredite que possa dar o seu máximo, e o que nos entrega aqui é algo muito bem feito, cheio de expressividade no seu Danny Collins e além disso soube doar até um pouco da sua carreira para o personagem ao mostrar que fez muitas repetições de papéis, mas agora procura sempre algo em que possa inovar, por exemplo teve de aprender mais sobre como tocar piano, cantar e dançar para o estilo que o personagem pedia, e fez muito bem em todos os atos do protagonista. A química que Annette Bening entrega para sua Mary é tão gostosa de acompanhar que assim como o protagonista acaba se tornando um grande amigo dela, nós também embarcamos no mesmo ritmo e acabamos vivenciando cada uma das suas conversas como se fôssemos parte de um grupo, e ela nos joga essa fidelidade gostosa com suas expressões, o que é ótimo para o filme e mostra que ainda a atriz tem muito a viver em sua brilhante carreira. Jennifer Garner é uma atriz interessante e agrada em vários filmes que é colocada, mas aqui fez algumas expressões de espanto tão fortes com sua Samantha que parece sempre estar vendo um fantasma nas cenas junto do protagonista e não as muda mesmo depois de estar mais próxima dele, poderia ter trabalhado outras nuances, mas felizmente isso não chega a atrapalha. Bobby Cannavale não é daqueles que costuma nos impressionar, mas trabalhou tão bem o seu Tom que ficamos até impressionados com a dramaticidade que conseguiu passar para o personagem, e dessa forma acabou parecendo que agora realmente vai decolar depois de papéis fracos e ruins. Christopher Plummer também agrada bastante nas poucas cenas de seu Frank entregando uma atuação de sintonia ímpar com os demais e mostrando que mesmo muito velho ainda tem mais expressões na manga que muitos outros novatos. A garotinha Giselle Eisenberg foi assustadora como falou desesperadamente mostrando o problema da personagem como algo bem feito nas telonas e isso é incrível de ver, eu não consegui achar seu parentesco com Jesse Eisenberg, mas falou num ritmo tão frenético quanto o ator em "A Rede Social" e "Rio" que até parece ser filha dele. Os demais atores até se encaixam bem nos seus momentos, mas são apenas rostos bem encaixados que acabam desenrolando uma ou outra cena para que o protagonista feche ela.
É interessante observar a boa produção dos cenários dos shows com detalhes em cada elemento cênico importante para o decorrer da trama e a equipe cênica procurou não fazer nada deslumbrante, mas sempre coerente e envolvente com o estilo do filme. Outro detalhe bem empregado foram os figurinos inusitados que o personagem principal usa que acaba dando um tom meio vintage e que ele não saiu do tempo que começou sua carreira. O hotel também caiu como uma luva para a história para mostrar o momento de pensamento da carreira e ao irmos para o detalhamento técnico das casas do protagonista e da família do filho, somos realçados com o que importam para determinar o estilo da família e assim situar com cada ponto da trama. A fotografia ficou um pouco escura para segurar a dramaticidade, mas nada que atrapalhasse de vermos os detalhes como citei, e isso funciona bem em comédias dramáticas para conter o ritmo cênico e não virar um pastelão desenfreado.
O filme fala sobre situações envolvendo músicas, mas não chega a virar um musical, o que é bom, pois poderia ficar meio fora de tom, então para dar um ritmo interessante na trama e condizente com o que se passa, foram usadas diversas músicas de John Lennon tocando de fundo em diversos momentos e assim vamos numa boa toada com o longa, afinal suas canções não eram nem aceleradas demais, nem lentas a ponto de cansar, então vale a pena prestar atenção no fundo sonoro também. Mas o que vai realmente marcar o longa e fazer com que sempre nos venha a mente quando falarmos dele, é a canção "Hey Baby Doll, What's Going On" que foi interpretada por Al Pacino em vários momentos do filme, tocando também em fundo algumas vezes e possui uma letra tão viciante que saímos da sessão cantando ela por um bom tempo, e mostra que as aula de canto, dança e piano que Pacino fez para desenvolver as habilidades do personagem valeram realmente o tempo empregado.
Enfim, é um excelente filme que agradará bastante a todos que forem assistir, emocionando e fazendo rir na mesma proporção. Talvez tiraria alguns momentos forçados e desnecessários nas cenas junto de Katarina Cas que fez uma Sophie fraquinha demais, mas somente isso para não darmos a nota máxima para o filme. Então se você gosta de boas comédias que não usam de apelações para fazer você rir, e ainda trabalha uma dramaticidade envolvente que somente os bons atores sabem nos entregar, vá conferir que é garantido a satisfação após o longa que agrada tanto no contexto familiar quanto pessoal. Bem é isso pessoal, ainda hoje confiro mais um musical misto com documentário, portanto volto mais tarde para falar o que achei dele. Então até mais pessoal.
2 comentários:
Muito bom seu texto. Qual a trilha sonora?
Olá Ana, obrigado!! Segue um link da trilha: http://www.songonlyrics.net/soundtracks/danny-collins-soundtrack-list.html
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