Mesmo que o longa "Um Episódio na Vida de um Catador de Ferro Velho" esteja apenas refazendo algo real que aconteceu, a sensação de querer ficar bravo com a equipe de filmagem, para que ajudem as pessoas que estão sofrendo ali precisando de uma ajuda financeira para resolver o problema, é imensa e a todo momento me via irritado com a situação toda. Ou seja, o diretor Danis Tanovic foi sensacional nesse quesito, transformando o longa quase que em um documentário de acompanhamento de uma família que viveu um dos seus piores momentos da vida, e ao trabalhar com as pessoas reais que sofreram tudo, ao invés de colocar atores, podem até dizer que ficou amador de certa forma, mas lhe garanto que o impacto foi bem maior na consciência das pessoas, para que as mesmas depois discutam sobre o sistema de saúde em geral, e o quão duro é o sofrimento de uma pessoa que é jogada quando não pode pagar algo.
O filme nos mostra que a família Mujic, de origem cigana, vive na periferia dos centros urbanos na Bósnia e Herzegovina. O pai Nazif vive de catar metais de carros velhos e vendê-los a um ferro-velho. A mãe Senada mantém a casa arrumada, cozinha e cuida de suas duas filhas pequenas. Um dia, ela sente uma dor aguda no abdômen. Na clínica, lhe dizem que há algo errado com o bebê que ela está esperando: "ele está morto". Ela está em risco de septicemia e deve ser operada imediatamente. Mas Senada não tem seguro médico e a operação vai custar muito mais do que a família pode pagar. O chefe do hospital se recusa a tratá-la. Começa uma corrida contra o tempo.
Não posso dizer que é um longa perfeito, pois o diretor trabalhou exageradamente no conceito de parecer realmente algo mais jornalístico de denúncia em si, que de certa forma acaba cansando um pouco, e por não termos atores que conhecem de interpretação e saber para onde olhar para dar comoção acabamos por certos momentos até reclamando do amadorismo de algumas cenas. Mas é inegável o acerto do diretor Danis Tanovic com a forma que escolheu retratar tudo, pois conseguiu fazer com um orçamento baixíssimo de apenas 50 mil euros, um longa bem trabalhado, aonde a crítica funciona e ao mesmo tempo ficar com características artísticas suficientes para comover o público que não sai da sessão sem ficar pensando em tudo que viu, e ainda ganhar o prêmio do júri e Urso de Prata no Festival de Berlim em 2013. Ou seja, a sabedoria de ângulos do diretor compensou em diversos momentos a falta de habilidade da família e dos amigos com as câmeras.
Poderia falar mal de diversos pontos no quesito interpretativo, como exageradas olhadas para as câmeras, alguns momentos de forçar tristeza, outras caras de nada, mas como não são atores, mas sim os personagens reais apenas refazendo o que aconteceu com eles, o que posso dizer apenas que a solução funcionou para o estilo que o diretor desejava, e só, portanto se você tiver alguma ideia desse estilo, pense duas vezes antes de não trabalhar com atores reais.
Sobre o conceito cenográfico visual, o que dá para falar de cara é que o lugar onde a família mora é literalmente uma vila nada bonita, no meio do nada, próximo a usinas perigosas e que é muito frio, somente isso que o longa nos demonstra, e claro que por ser uma família que depende exclusivamente do dinheiro da venda de ferro velho, são bem pobres. Ou seja, foi passado completamente a ideia do longa e como é a verdade das pessoas, pois repito o que o diretor quis com seu roteiro foi refazer o acontecimento, então não necessitou praticamente de criar nada, o que pode economizar em todos os sentidos. O grande feito da trama e com certeza aonde foi gasto mais dinheiro está na equipe de fotografia, pois usou artimanhas excelentes para não ficar falso as pessoas sendo elas mesmas, e ainda assim ter câmeras em pontos chaves para determinar bem o andamento da história de modo que parecesse estar acontecendo no momento junto com as câmeras, ou seja, o melhor do filme ficou por conta da sabedoria de como fazer cada momento.
Enfim, é um filme que de certa forma, mesmo dando tudo certo acaba nos deprimindo um pouco, pois é triste ver como a vida é dura com algumas pessoas, mas como sempre digo, nem todo longa foi feito para se divertir, e aqui a intenção é a de fazer denuncia e que os espectadores pensem bastante sobre como é o sistema de saúde no seu país, se você como médico o que faria no lugar, você como pessoa se acontecesse com você o que acabaria fazendo. Acredito que a solução que a família fez foi a mais bem pensada e "correta" para resolver, dando a minha opinião sobre o assunto, talvez pediria algum empréstimo bancário, mas é a forma de cada um pensar. Portanto a minha opinião agora sobre o longa é que deve ser visto por muitos para refletir, e se alguém necessitar de alguma indicação para algum debate sobre convênios médicos e sistema social de saúde, esse é o longa que deve fazer parte total da escolha. Fico por aqui agora, mas temos mais um longa do Circuito Indie SESC Festival para conferir, então volto mais tarde com outro texto.
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