Sabe aquele filme gostoso para assistir numa tarde, que te envolve com a lição de moral que passa, entretém com a ideologia dos personagens e diverte pelas boas situações que o diretor opta por mostrar? Essa poderia ser a definição completa da comédia francesa "A Família Bélier" que trabalha de forma tão interessante com a situação musical da filha que acaba rumando para o lado de um coral enquanto todos da família não podem nem lhe ouvir por serem surdos. E esse contraponto é trabalhado juntamente com a questão familiar de um modo bem tradicional, sem ter exageros para que ficássemos com pena da situação dos protagonistas e até mesmo no desenvolvimento de cada um dos personagens, de modo que mesmo sendo um longa bem levinho e até de certa forma adolescente demais, o diretor não deixa de colocar suas pontadas certeiras com o preconceito, as dúvidas da idade e tudo mais que ocorreria em qualquer família normal como diz o pôster. Portanto uma diversão bem completa que agrada na medida para quem gosta de comédias que realmente divertem sem apelações, o que é uma qualidade dos longas franceses.
O filme nos mostra que Paula é uma adolescente francesa que enfrenta todas as questões comuns de sua idade: o primeiro amor, os problemas na escola, as brigas com os pais... Mas a sua família tem algo diferente: seu pai, sua mãe e o irmão são surdos. É Paula quem administra a fazenda familiar, e que traduz a linguagem de sinais nas conversas com os vizinhos. Um dia, ela descobre ter o talento para o canto, podendo integrar uma escola prestigiosa em Paris. Mas como abandonar os pais e o irmão?
O diretor Eric Lartigau não nos entrega um longa filosófico, e olha que com a ideologia da trama seria totalmente possível isso, mas muito pelo contrário, ele optou por algo mais divertido e que agrada pela leveza das cenas, pela situação completa da trama que mesmo já tendo uma tonelada de longas que tratam do mesmo mote, as mudanças na adolescência, e embora exista o problema da surdez familiar e do uso da linguagem dos sinais funcionando como uma nuance a parte, ele soube não pesar sua mão e usando de artifícios bem comuns da comédia francesa divertir sem precedentes todos os espectadores do filme, e assim o desenrolar da trama envolve tanto musicalmente, quanto pelas excelentes três últimas cenas: apresentação da escola, apresentação para o pai e apresentação do concurso. E embora já tivesse escutado diversas vezes as 4 canções que tocam quase todo o filme, conhecer sua letra dentro do contexto do filme foi algo muito prazeroso e que agrada com toda certeza.
É interessante ver nesses filmes que envolvem momentos musicalizados a dúvida que permeia nossa mente, se a atriz realmente está cantando ou se entra alguma outra cantora na voz nesses momentos, mas não aqui Louane Emera foi participante do The Voice francês e virou a protagonista do filme a convite do diretor, e conseguiu fazer uma Paula até que bem expressiva, de forma que os seus momentos acabam ao mesmo tempo bem interpretados com nuances fortes e também excelentemente cantados, já que ela é uma cantora originalmente, e já vejo sucesso pra ela em outros musicais com certeza, pois a garota é boa. François Damien e Karin Viard fizeram semblantes tão engraçados como os pais da garota Rodolphe e Gigi, que se o diretor quisesse ser mais ousado nem legendaria seus sinais, deixando somente que o público acreditasse no que a garota respondia ou mesmo apenas deixasse que nós interpretássemos do jeito que viesse em nossa imaginação pelo gestual, mas com certeza a dinâmica de ambos foi espetacular e agradou bastante com a dinâmica do pai e a forma vibrante da mãe que sem dúvidas é uma atriz fenomenal em todo filme que entra. Luca Gelberg também conseguiu fazer boas nuances interpretativas, dando uma comicidade bem leve para seu personagem Quentin, que mesmo não sendo o grande foco das lentes, nos momentos mais precisos foi bem encaixado. Roxane Duran entregou a sua Mathilde uma personalidade tagarela e avançada, comum de se ver muito hoje nos colégios, e conseguiu protagonizar bem algumas cenas cômicas que fizeram seu rosto quase corar da cor de seu cabelo, ou seja, ainda é muito jovem para controlar as ironias de piadas e não ficar tímida, mas deve evoluir. Eric Elmosnino caiu muito bem como o professor de música Thomasson, que foi muito engraçado na maior parte, com seus provérbios para que a garotada cantasse e seus trejeitos de grande músico, mas que comoveu bem dando boas lições nas cenas mais contundentes, ou seja, ele é um dos atores que sempre saem bem e não ia fazer diferente aqui. Dos demais, vale destacar apenas alguns pontos do garoto Ilian Bergala que poderia ter feito um pouco menos de caras emburradas para que seu personagem Gabriel não parecesse um playboyzinho metido, de modo que sua virada acabou ficando falsa demais sem uma explicação mais contundente.
A cenografia rural da cidade foi bem trabalhada para divertir e dar as nuances que o filme pedia de comicidade, de modo que tudo girar em torno dos pensamentos simples acabaram dando o ponto certo que o filme necessitava. Por ter muita linguagem de sinais e os personagens necessitarem sempre expressar com objetos ou as próprias mãos, os elementos cênicos foram bem pontuados e determinantes para que o filme tivesse mais vida ainda, ou seja, muito bem feito e pesquisado para não fazer coisas a esmo. A fotografia também escolheu lugares excelentes para pontuar a iluminação mais forte e junto de contraluzes chamar a atenção para as belas paisagens nos momentos mais reflexivos e quando trabalhado de forma mais intimista procurou sempre lentes mais próximas dos personagens para impactar e ainda assim manter o tom leve do filme.
Uma coisa que acho engraçado em filmes aonde a música faz parte do contexto é que geralmente os protagonistas cantam muitas canções que já ouvimos diversas vezes e não sabíamos o seu significado, pois não costumo ir ler as letras ou mesmo prestar atenção no que elas estão falando conosco, e nesses filmes por legendarem as canções, fica tão rico o contexto da canção com o momento que está passando no filme que emociona e agrada bastante. Ou seja, todas as canções escolhidas foram escolhas precisas para falar com o público e funcionar quase que como elemento presente nas cenas importantes da trama, valendo com certeza a cena do concurso aonde ainda a jovem colocou a emoção dos sinais para impactar ainda mais.
Enfim, um longa muito gostoso de ver, é bem simples e como disse já tivemos diversos outros com a mesma perspectiva, mas agrada demais e reveria ele facilmente de tão leve que é. Recomendo com certeza para todos que gostem de filmes com tema musical, e principalmente para ver como a inclusão da deficiência pode funcionar nos diversos meios. A única coisa que me deixou triste foi a distribuidora não ter lançado ele na estreia em Dezembro pelo interior, pois tenho certeza que muitos iriam gostar de ter assistido. Bem é isso pessoal, ainda voltarei para comentar do outro filme que será exibido na Virada Cultural, então volto mais tarde com outro post, então abraços e até breve.
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