Ser mãe! Taí algo que muitas mulheres desejam, e que na sua maioria já nascem ou acabam criando um dom para conviver e amar o ser que sai de seu ventre! Mas como dito no filme "Mommy", uma mãe jamais deixa de amar seu filho, mesmo com muitos problemas ou cagadas que ele faça na sua vida! Isso é lindo de ouvir, e principalmente de ver com a inflexão fortíssima que o diretor e roteirista Xavier Dolan nos entrega nessa obra de arte completamente irreverente e bem feita. Muitos dizem que o cinema nacional é cheio de palavrões nos filmes, olha acho difícil esse canadense aqui perder para a maioria dos nossos filmes nesse quesito, mas aqui por uma boa causa, todos funcionam como liberdade poética e principalmente com o choque que o diretor entrega para o problemático jovem com TDAH, ou como muitos conhecem hiperatividade, que no caso aqui ainda é acrescida de violência. O filme todo pode até não passar a mesma mensagem para todos os espectadores, mas é inegável que o candidato ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro por parte do Canadá, que venceu Cannes e diversas outras premiações, consegue ser um show de atuações aonde os diálogos e interpretações são cravados no peito sem dó, e com muita certeza os atores foram fortes na maioria das cenas.
O longa nos mostra que Diane é uma mulher viúva que vive constantemente mal humorada. Mãe solteira, ela se vê sobrecarregada com a guarda em tempo integral de Steve, seu filho de 15 anos, que sofre de déficit de atenção, e que acaba de ser expulso do reformatório onde vivia por botar fogo na cafeteria do local. Enquanto eles tentam sobreviver e lutar em meio a essa situação imprevisível, Kyla, uma garota que mora do outro lado da rua, se oferece para ajudar. Juntos, os três encontram um novo equilíbrio e a esperança volta a aparecer.
Se existe um estilo de filme bom é aquele que os diálogos encaixam bem com os atores, pois ter uma boa história é função quase que obrigatória de todo filme que se preze estrear para alguém ver, mas quando existe o casamento diálogo perfeito com atores dispostos a atacar nas interpretações, o sucesso é apenas questão de tempo, e disso o diretor e roteirista canadense Xavier Dolan, que é quase um bebê com apenas 26 anos, vem provando o sabor já tem algum tempo, pois desde o seu filme de estreia "Eu Matei a Minha Mãe", ele já vem colecionando prêmios e elogios em cima de elogios tanto da crítica quanto dos espectadores (que claro vale muito mais). E isso se deve principalmente por trabalhar com temas mais vivos na cabeça das pessoas e não viajar tanto nas ideologias poéticas, embora seu filme aqui tenha toda uma liberdade ficcional e que ao ser desenvolvida acaba até de certa forma chocando muitas pessoas, mas essa irrealidade é o charme para que o problema duríssimo que é apresentado nos envolva e ao mesmo tempo de forma simples, sem que tenhamos de refletir sobre mil coisas a fundo, comover e fazer pensarmos nas nossas mães, no nosso convívio e em diversas outras coisas simples que raramente arrumamos tempo para pensar, e valem muito ser discutidas. Portanto o acerto do diretor vai muito além do simples feitio do longa, que é perfeito, mas para um mar de reflexões que através de algo belo e bem feito acaba trazendo à tona uma sintaxe interessante de acompanhar.
Agora se temos de fazer uma coisa primeiramente antes de refletir sobre tudo que o filme fala é aplaudir incansavelmente o trio de protagonistas, pois a entrega deles aos personagens é tão perfeita que não parece que estamos diante de um filme, mas sim de uma peça aonde todos se encaixam e saboreiam os diálogos de seu par de cena, para em seguida revidar com o mesmo afinco, ou seja, um luxo que poucos longas nos permitem essa visão. Para iniciar temos de falar da mãe Anne Dorval que nos entrega uma Diane magnífica, cheia de temperamentos, expressões e tudo sem soar artificial em momento algum, só a conhecia dos outros filmes do diretor, mas não lembrava de sua potência e me deu até vontade de rever os outros dois para ver se aqui foi seu ápice ou se já vem numa crescente faz tempo, claro que aqui seu papel foi primoroso, mas ainda torço para um estouro seu no mundo mais comercial americano, pois ela merece. Agora uma confissão, quando vi o trailer do filme há muito tempo, e praticamente na mesma época apareceram algumas fotos estranhas de Macaulay Culkin, eu jurava que o protagonista do longa era ele, principalmente pela loucura, mas não temos aqui o brilhante Antoine-Olivier Pilon que transpirou uma loucura comportamental para seu Steve muito além do que sequer o diretor esperava, e com expressões leves, em diversas cenas (principalmente nos seus momentos de calma) parece flutuar diante da câmera com um respiro quase que ele mesmo necessitava para suas cenas subsequentes, ou seja, perfeito demais e espero também vê-lo despontar em longas que abra sua vitrine. O outro pilar da trama que chegou até ser espantoso a forma de gaguejar e todos seus trejeitos foi Suzanne Clément com sua Kyla, que de certa maneira aparentava inicialmente ser uma personagem simples, mas com o andamento da trama vai nos entregando uma complexidade tão envolvente que não beira a perfeição, mas passa fácil logo na sua cena mais forte com o protagonista. Dos demais, a maioria funciona quase que como figuração, despontando alguns em poucos momentos que entram em diálogos com o trio principal, mas sempre ficando bem em segundo plano, salvo Patrick Huard que deu uma boa expressividade para o seu Paul na cena que tudo parecia tomar um dos rumos mais desastrosos do cinema mundial, mas acabou melhor do que a encomenda.
Visualmente o longa também trabalha muito com a cenografia, e embora não tenha muitos elementos cênicos sendo trabalhados, já que o foco do filme está na interpretação dos atores, alguns detalhes ficaram bem pontuados como o colar da protagonista, que foi usado como motivo da primeira discussão, o skate passa a ter uma certa simbologia de liberdade e até mesmo os objetos velhos das casas funcionaram como meios de representação do modo de viver das duas protagonistas, e isso é bacana de observar, pois quando um filme foca tanto nos atores, costumam falhar no conceito visual, já que muitos acabam nem reparando no contexto por trás de tudo, mas quando a equipe artística trabalha bem, o funcionamento de tudo cai bem. Apenas para pontuar uma curiosidade, o diretor também foi o figurinista do filme, ou seja, escolheu e montou com sua equipe como desejava a caracterização dos personagens também além do seu roteiro, pois geralmente outras pessoas pegam, leem o que está escrito e criam, mas aqui Dolan quis fazer pessoalmente. Em uma semana ver dois filmes com janela quadrada é algo que acho que nunca tinha me acontecido, mas diferente do que ocorreu em "O Homem das Multidões", aqui temos cenas onde o sufoco cênico causado pela tela menor é aberto para wide com função dramática de representação de liberdade, respiro, e isso é algo lindo que foi trabalhado tanto pela equipe de fotografia quanto o pessoal da edição, e aliado aos bons contraluzes, que inclusive é citado num momento de foto dentro do filme, o resultado de um cenário belíssimo do Canadá fica ainda mais evidente, ou seja, pontuação perfeita também nesse quesito.
E algo que não poderia deixar de falar de maneira alguma é da trilha sonora com clássicos e músicas tão bem encaixadas com os momentos do filme, ditando ritmo, funcionando como elemento cênico e tudo tão bem feito que seria daquelas trilhas que conseguimos ouvir incansavelmente por muito tempo, e o melhor, remetendo cada canção específica que não foram feitas para esse longa, mas encaixando em nossa mente exatamente tudo o que ocorria quando ouvirmos a música novamente, ou seja, um luxo muito bem feito e bem pensado. E claro que antes que me perguntem aqui segue um link com todas as canções tocadas.
Enfim, um filme perfeito que agrada demais principalmente pelo trabalho do elenco, mas que possui todo um conteúdo técnico que citei nos parágrafos acima que resultam em algo muito além do esperado, ou seja, um longa forte, bem feito e que vale demais o ingresso. Infelizmente o filme veio apenas para o Festival Sesc Melhores Filmes, então quem quiser terá de locar nos outros meios para assistir, mas fica a dica para a distribuidora que não acreditou no potencial do interior ao não mandar o filme no lançamento em Dezembro do ano passado, hoje a sala estava praticamente lotada de pessoas que não haviam visto o filme e queriam muito ver, outros saíram perguntando se não haveria mesmo outra sessão e por aí vai com o boca a boca certamente daria um bom público na cidade, mas fazer o que não é mesmo. Bem é isso então, recomendo demais o filme para todos ver a beleza da trama e ainda refletir sobre tudo o que é mostrado, amanhã volto com mais um filme que não veio para o interior na data de estreia e veio agora para o Festival e já aproveito para conferir também uma das estreias da semana, então abraços e até breve pessoal.
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