Não é porquê um filme ganha diversos festivais, possui um visual impecável e bem feito no contexto de mostrar uma história que ele vai conseguir agradar, digo isso não somente pelo que vi hoje em "Timbuktu", mas por diversos outros longas que acabam sendo tão monótonos e desenvolvendo uma situação tão fechada que o resultado é você ou dormir ou sair da sessão irritado com o que viu. A ideia do longa pode até ser interessante, ao mostrar quando extremistas tomam uma cidade comum, como passa a ser a vida das pessoas, aonde as leis do Islã são confusas e suas proibições acabam sendo cruéis e estranhas, mas quando se quer denunciar coisas demais em um filme, tem de se tomar cuidado para não virar uma novela gigante, aonde nenhuma história é desenvolvida, de modo que tudo é bem feito, com uma fotografia maravilhosa, mas saímos da sessão sem dizer que vimos um filme realmente, mas um apanhado de situações e só.
O filme nos mostra que a população da cidade de Timbuktu, no Mali, vive dias de terror. Extremistas religiosos tomam conta do lugar e proíbem as pessoas de ouvir música, jogar futebol e fumar cigarro. Mas mesmo assim, alguns desses moradores resolvem encarar os criminosos em nome de suas independências.
O diretor e roteirista Abderrahmane Sissako foi preciso ao tentar desenvolver uma história para mostrar o terror que é o extremismo religioso, porém trabalhou com muitas vertentes de modo que em momento algum conseguimos identificar quem são os protagonistas da história, ou se são várias histórias separadas que no contexto completo formam uma única. Então até é possível enxergar de certo modo um estilo bem trabalhado de direção dos fatos, mas como disse no começo, acabamos enxergando o longa mais como uma novela onde de repente estamos num núcleo da história, daí vamos para outro núcleo, e em determinado momento os núcleos se entrelaçam fazendo o seu fechamento, e isso não é algo legal, tanto que garanto se fosse um filme nacional feito exatamente do mesmo jeito, as pessoas daqui que aplaudiram o longa em diversos festivais com certeza estariam metendo o pau no filme, falando que é novelesco demais e por aí vai. Agora como é praticamente o primeiro filme da Mauritânia a se destacar, que foi muito bem filmado com paisagens e imagens bem trabalhadas, isso é um fato inegável, mas somente isso não faz dele um filme que vai agradar de forma alguma.
Das atuações seria muita pretensão minha falar de cada um dos atores de nomes gigantes e que nem temos referências para esperar algum outro filme aonde tenham trabalhado, então o que posso dizer nesse quesito é que mesmo muitos sendo estreantes frente às câmeras, a maioria conseguiu passar toda a situação com uma naturalidade tamanha que poderíamos dizer se tratar de atores experientíssimos, e assim o resultado interpretativo ao menos agrada passando como se fosse algo bem jornalístico e documental da situação que as pessoas da cidade estão vivenciando e sofrendo. Portanto nesse quesito podemos falar com certeza que o diretor foi impecável na direção de elenco, e agradou mesmo que em núcleos, trabalhando cada ator individualmente para chamar a atenção quando era necessário.
Agora um ponto mais do que positivo no filme ficou por conta do contexto visual, já que assim como os atores deram vida à trama, a cenografia fez parte completamente da sintonia que era desejada, colocando animais, situações e até dinâmicas como elementos cênicos da trama, dando destaque claro para a partida de futebol sem bola, a simbologia das vacas atravessando a fronteira da boa vizinhança e até a aridez desértica da paisagem funcionando em contraponto com a modernidade de celulares e caminhonetes de luxo, ou seja, um trabalho preciso para envolver o público na realidade que as pessoas por lá estão passando. E luxuosamente, o diretor de fotografia ao chegar nessa paisagem foi certeiro em escolher ângulos e momentos precisos para que cada cena fosse única e gravada de modo à ter a melhor iluminação natural fazendo sombras com o Sol de contraluz que literalmente temos algumas cenas de babar pelo visual entregue.
Enfim, é um filme tecnicamente muito bem trabalhado, mas que poderia ter sido feito com destaque à família isolada, trabalhando mais o contexto de seu isolamento frente às questões da vila, mas ao querer denunciar tudo, o diretor transformou o seu filme em algo documental demais e que certamente vai agradar só quem realmente gostar muito do estilo mais novelesco documentado, senão a chance de sair cansado e desapontado com tudo que verá é altíssima, mas como valorizo bem a questão da produção a nota vai ser até melhor do que deveria. Ou seja, não tem como recomendar ele, mesmo sendo bem feito. Bem é isso pessoal, ainda falta conferir mais um longa que estreou por aqui nessa semana, então abraços e até breve.
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