Trocando os Pés (The Cobbler)

5/30/2015 03:05:00 AM |

Quando pensamos em ir ao cinema ver uma comédia, a primeira coisa que vem na mente é que iremos rir muito, ou pelo menos se divertir com o que vai ser entregue, mas o que posso afirmar com certeza é que quem for com esse pensamento assistir "Trocando os Pés" ou na tradução literal do título em inglês "The Cobble" (O Sapateiro) não vai sair muito feliz da sessão. E digo isso não só por mim, mas por pessoas que saíram da sessão antes mesmo dela terminar, outros que ao final reclamaram do filme e pelo que andei sondando na internet, pois o resultado é um drama até que bem pontuado e com algumas sacadas inteligentes e interessantes, mas a priori, o filme tenta funcionar com alguns pontos cômicos que passaram bem longe do risível, e isso é decepcionante frente à um longa aonde o protagonista já fez boas comédias e mesmo nos seus dramas cômicos, a risada era garantida em boa parte do filme. Vou falar mais de alguns pontos abaixo, mas minha indicação inicial é que você que for assistir ao longa, vá preparado para um drama com situações cômicas, mas que passará longe da piada pronta ou da diversão completa.

O filme nos mostra que Max Simkin é um sapateiro solitário que vive em Nova York. Certo dia ele descobre um grande poder, o de se tornar idêntico aos donos dos sapatos que ele conserta, quando calça as peças. Ele tem a chance de viver na pele de outras pessoas e isso lhe traz consequências, para o bem e para o mal.

Quando diretores e roteiristas que não são experientes nessa arte resolvem atacar o que é recomendado geralmente é começar por dramas ou romances, pois são gêneros mais tranquilos de trabalhar e não exigem expectativas do público, pois a comédia, mesmo de quando incorporada em um drama, é obrigatório fazer o público se divertir, e aqui a comoção pelo protagonista acaba sendo mais forte do que a diversão que ele pode proporcionar com suas aventuras, então Thomas McCarthy e Paul Sado precisariam ter desenvolvido mais as situações para que elas fossem engraçadas mesmo, pois na sala o máximo que se ouvia eram algumas risadas pontuais em cenas que forçaram o riso, e isso é chato de ver e incomoda muito. Não posso dizer que a técnica do diretor McCarthy para ângulos interessantes e introspectivos seja algo ruim, muito pelo contrário, ele soube dar dinâmica para quase todas as cenas, e mesmo não sendo "mágico" foi esperto de sempre fazer uma panorâmica de cima para baixo, mostrando os sapatos do dono e subindo para apresentar a mudança, isso todas as vezes. Então vai chegar alguns momentos que você não vai mais aguentar ver a câmera parada no chão e ir subindo, isso é um fato. Quanto da história, a ideia foi boa, pois se ao pesquisarmos diversas expressões envolvendo sapatos e seus donos, iremos ver bem essa ideologia que eles definem a pessoa, e que quando se morre é falado que bateu as botas, então todos esses provérbios foram usados a fundo no texto e até agradam, mas como disse, só uma boa ideia não faz um filme, então faltou muito para agradar.

Embora a feição de Adam Sandler raramente demonstre estar alegre e empolgado com seus filmes, aqui ele está ainda mais cabisbaixo, e embora o personagem possua muitos problemas, nos momentos em que está se divertindo na pele de outras pessoas, não aparenta tanta empolgação, e isso acaba sendo um problema também para com o filme, pois soa estranho seu jeito de fazer as coisas e a dinâmica que acaba entregando, o que é uma pena, pois como disse a história tinha um potencial para decolar e o fechamento dá a entender uma possível continuação, que se for feita dessa maneira vai ser um desastre imenso. Steve Busceni está sempre junto de Sandler em seus longas, já sendo a 11ª produção conjunta, e mesmo o seu barbeiro Jimmy aparecendo pouco, acabou sendo bem interessante e agradou com lições dando encaixe para o fechamento do filme, claro que poderia ter uma participação maior que chamaria a atenção, mas não foi tão ruim. Ellen Barkin ficou bem artificial como a líder criminosa Greenawalt, ainda bem que aparece somente em dois momentos do longa, senão iria comprometer ainda mais. Em quase todos os longas de Sandler, são escolhidas ótimas atrizes para viverem as mocinhas e encaixar bem com ele nas aventuras, mas aqui, Melonie Diaz entregou uma Carmen com personalidade até que forte, mas que foi usada tão pouca que não agrada. A forma que Dustin Hoffman entra na trama foi algo bem interessante, afinal ele ainda é um dos grandes atores do cinema americano e não decepcionaria mesmo que rápido em 2 cenas com seu Abraham, então talvez se o longa tiver bilheteria e houver continuação acredito mais na sua interação com a trama. Dos personagens mais rápidos que o protagonista acaba se transformando, quase todos são bem engraçados e chamam bem a atenção, mas os destaques ficam pelo morto, da criança de ossos largos e claro do personagem Leon que Method Man faz bem com seu estilo lotado de gírias e uma personalidade bem caricata nos momentos em que não faz o seu personagem mas sim Sandler como seu personagem.

O longa prezou bastante na parte artística e contando com bons figurinos para colocar cada um dos personagens até como elementos cênicos, o resultado até que é bacana de ser visto, mas os cenários foram bem subaproveitados na trama, de modo que a sapataria poderia ter todo um contexto maior e acaba sendo um simples símbolo, e quando o protagonista sai de lá, nos lugares que vai trabalharam tão pouco cenograficamente, que o longa pareceu ter sido de baixíssimo orçamento. Felizmente quase que pecaram na cena dos sapatos dos capangas, que quase houve um dos erros mais críticos de furo de história, já que todos sapatos necessitam passar pela máquina para ficar "encantados", e ficou bem notável que a cena seguinte foi colocada no longa ao notarem o erro, então parabéns ao menos para o continuísta dessa vez. No quesito fotográfico, o diretor soube usar bons ângulos e trabalhou bem na composição luminosa que sempre deixava um gostinho de suspense, mas como estamos falando de uma comédia, talvez alguns tons mais alegres cairiam melhor.

Enfim, como falei para alguns amigos, já vi muitos longas do Sandler, alguns bem ruins, e o que aconteceu nesse foi a falta de definição do estilo, pois se entregassem logo de cara um drama com tons cômicos seria algo agradável, mas ao fazer uma comédia com tons dramáticos, a falha foi altíssima e ao mesmo tempo que não faz rir, também não envolve, ou seja, uma boa história que acabou ficando ruim no contexto geral. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas ainda irei conferir os longas da Virada Cultural Paulista, que não passaram pelo interior nas estreias, e também mais um longa nacional que acabou vindo um pouco atrasado, então abraços e até breve com novos posts.


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