O longa nos mostra que Jérémy acorda misteriosamente ao lado de uma bela mulher sueca, mas o que tinha tudo para ser o início de um belo conto de fadas se torna um tenso pesadelo, já que ele fica confuso, pois é gay e está de casamento marcado com Antoine, seu companheiro de mais de 10 anos . Cheio de dúvidas, Jérémy tem de se decidir entre o futuro marido e uma mulher que lhe despertou novos sentimentos.
Os diretores e roteiristas estreantes em longas-metragem, Maxime Govare e Noémie Saglio, optaram por não se ater a pré-conceitos, já que nos entregam um filme bem simples, mas que se permite a liberdade da dúvida do protagonista de maneira a tentar não magoar ninguém, e sabiamente trabalharam seu texto de maneira clara, divertida e bem gostosa de acompanhar, pois poderiam facilmente deixar o longa sem nenhum clichê, cheio de questões poéticas e o filme acabaria se tornando algo mais cheio de nuances ao invés de uma tradicional comédia romântica, e isso com toda certeza não agradaria tanto como um primeiro trabalho nos cinemas. Dito isso, outra grande sacada da produção foi a escolha do elenco para que ao trabalhar com muita dinâmica nas percepções dos protagonistas, o filme deslanchasse fácil com uma ideologia jovial e ainda assim não perdesse o clima sincero da dúvida, e dessa forma até mesmo sem abusar de câmeras diferenciadas, eles acertaram a mão com precisão, principalmente após as devidas apresentações do primeiro ato.
É engraçado vermos a evolução de Pio Marmaï, pois sempre trabalhando em maioria com comédias românticas, ele usava muito de sua beleza para equiparar sua falta de expressão, e atualmente tem feito filmes que mesmo seguindo seus trejeitos joviais, agora ele já nos entrega nuances expressivas interessantes que acabamos nos envolvendo com seus problemas, e aqui se o longa fosse mais denso, estaríamos certamente opinando mentalmente possibilidades de o que ele deveria fazer, mas como o filme não nos força a isso, ainda assim ele agradou demais fazendo com que seu Jérémy fosse alguém com vida própria e que certamente conhecemos alguma pessoa que já passou ou está passando pelas mesmas dúvidas que ele. Agora o ponto forte da comédia impregnada no longa ficou a cargo de Franck Gastambide que entregou um mulherengo Charles, mas que está sempre pronto para auxiliar seu sócio nas dúvidas amorosas dele, e com boas sacadas e sem apelar, ele acaba divertindo com suas trapalhadas e colocando a interpretação para valer sempre que era necessário, ou seja, não conhecia seus trabalhos anteriores, mas o que vi foi um ator bem dinâmico e que encaixou perfeitamente com o que o papel pedia. Adrianna Gradziel também trabalhou para que sua Adna encaixasse tanto na beleza quanto na veracidade da personagem, e mesmo falando bem pouco, seus momentos fluíram bem na tela e serviram para o propósito do filme que era causar a dúvida no personagem principal. Lannick Gautry faz um Antoine interessante, mas que poderia ter desenvolvido mais o afeto entre eles, pois apenas a beleza não é um motivo para que uma relação dure tanto tempo, e embora os pais de Jérémy gostassem muito do genro, ficou meio fora de contexto o romance deles para com o filme. Camille Cottin também se encaixa bem nos momentos que sua Clémence aparece e embora meio forçada demais em algumas cenas, o resultado final foi interessante. Dos demais, todos acabam aparecendo pouco e até chamando uma certa atenção, mas nada que mereça um grande destaque, claro que poderiam ter forçado um pouco menos a barra para com os pais de serem totalmente contra o classicismo, mas isso acabou funcionando também como uma gag e acaba agradando de certa forma.
Comédias românticas não costumam prezar muito por uma cenografia que chame atenção, mas foram bem sábios ao decorar bem o apartamento dos rapazes, e a agência onde trabalham ficou muito bem chamativa para a proposta que queriam de ser uma empresa de pesquisas alternativas, contradizendo muito o que conhecemos do estilo dessas empresas, e assim o filme desenvolve até que bem sem precisar de elementos cênicos marcantes. Mas claro que tivemos boas escolhas de locações para marcar o estilo francês de bons cenários e assim o filme trabalha bem com algumas cores leves até demais para que a fotografia não se prendesse ao tom cômico somente, de forma que as cenas finais na neve foram muito bem iluminadas e chamaram muita atenção.
Enfim, um filme bem gostoso de ver que agrada bastante. Claro que não é o melhor filme do gênero, mas confesso que estava com muito mais medo do que seria apresentado com ele, então o resultado foi bem satisfatório e divertido. Recomendo que assistam sem preconceitos, afinal a proposta inicial do mundo gay pode assustar alguns, mas fiquem tranquilos que não temos nada explícito demais, e assim acaba sendo bem bacana todo o resultado final. Bem é isso pessoal, agora vou para mais uma sessão do Festival Varilux, então abraços e até daqui a pouco com mais um texto.
4 comentários:
Pois é...vi o filme, considerei charmoso, de bom gosto mas absolutamente irreal. Infelizmente, com quase 62 anos, até hoje comigo não aconteceu isto:" certamente conhecemos alguma pessoa que já passou ou está passando pelas mesmas dúvidas que ele"Sexualmente não! E digo mais:considero isto impossível para um homem de 34 anos a dúvida quanto à sexualidade, pois ele já tinha feito o caminho mais difícil, neste mundo heteronormativo:assumir-se gay aos 15 anos, para os pais .O filme só teria algum sentido se ele começasse como heterossexual. Tente você descobrir qual homem viveu esta dúvida, nesta idade, já balzaquiando rs e depois me conte..l.Mas é bem divertido..
Olá Marcos... pensando pelo lado da idade até que não consigo imaginar assim, mas já conheci alguns amigos gays que casaram com mulheres com 35 anos, então tenho um ao menos para citar... como você disse o longa foi divertido e charmoso, então vale por isso.. abraços!
Pois é, obrigado pela explicação que ficou truncada: "já conheci alguns amigos gays que casaram com mulheres com 35 anos, então tenho um ao menos para citar", ou seja, alguns amigos gays que casaram com mulheres com 35 anos(eles ou elas?) e, depois, tenho um para citar(primeiro alguns, depois um...como assim?)POis, infelizmente, não tive a sorte de conhecer unzinho sequer e a todas as pessoas s que pergunto, também desconhecem. Com homens que começam na "heterossexualidade" e terminam na homossexualidade conheço muiiitos e mulheres idem. Mas gay descobrir-se com esta forte atração sexual (ao ponto de desmanchar uma relação gay sólida de 10 anaos, às vésperas do casamento e atravessar o mundo atrás dela e mergulhar praticamente no gelo como prova de amor, hum...) por mulher e sometne aos 34 anos, infelizmente não terei este privilégio de conhecer.Abração.
Gostei do filme! Certamente charmoso, divertido e leve. O protagonista se entregou e fez um ótimo trabalho. Concordo que o amor dele e do Antonie poderia ter sido mais rico em cumplicidade dos personagens até para convencer melhor. Gostei do fato de que o amor não tem gênero mesmo! Amor é amor! Ele se apaixonou por AQUELA mulher e não por mulheres aleatórias... Entendo que a livre escolha de sentimento foi a lição aprendida neste filme... Pessoas mudam quando se apaixonam ... Independente de gênero, credo... Gostei!
Postar um comentário
Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...