De Cabeça Erguida (La tête haute)

6/12/2015 01:39:00 AM |

Já ouvimos diversas vezes algumas pessoas dizendo que educação vem de casa, principalmente ao ver delinquentes em escolas e pais querendo que a escola faça o filho melhorar. Tudo bem que alguns meios até conseguem impor uma certa disciplina, mas e quando todos os meios possíveis já foram feitos e ainda assim a falta de uma base familiar que é o problema principal? Pois bem com essa indagação na cabeça, somos impostos à tudo que o longa que abriu o Festival de Cannes desse ano, "De Cabeça Erguida", ou traduzindo ao pé da letra o título em francês "Atenção", tenta nos mostrar, e com um filme duro, longo e que a todo momento só nos faz pensar na pior desgraça possível para acontecer com o jovem, conseguimos ver que não é somente em países menos desenvolvidos que a falta de uma boa base familiar pode causar muitos problemas na cabeça de uma criança e fazer com que se tornem jovens com um futuro difícil de se esperar algo, mesmo que passando por diversas medidas socioeducativas. Ou seja, um filme que não só é bem feito, como dá ótimas lições para todos que desejam um dia ter um filho.

O longa nos mostra que a juíza Florence Baque conhece Malony quando tinha apenas seis anos, devido à negligência de sua mãe em cuidá-lo. Os anos passam e Malony torna-se um jovem delinquente, que rouba carros e agride as pessoas à sua volta, tanto verbalmente quanto fisicamente. Diante da situação, a juíza o encaminha para um centro de recuperação de delinquentes juvenis e ele passa a ter Yann como tutor. Obrigado a seguir as novas regras, Malony faz o possível para manter sua liberdade e intransigência.

A diretora Emmanuelle Bercot conseguiu imprimir sua marca ao não tentar fazer um filme autoral, com um roteiro bem feito sobre a delinquência e problemas de educação que escreveu junto da argentina Marcia Romano, mas sim ao trabalhar todos os sentimentos possíveis que um jovem que logo aos seis anos viu ser abandonado pela mãe e durante todo o tempo do filme, 11 anos, só viu sua mãe fazer tanta besteira quanto ele, e sem base alguma já que o pai morreu cedo, E ao trabalhar esses sentimentos, a diretora foi coesa com o filme, e não procurou amenizar as situações, tanto que como disse no início, a sensação que temos durante praticamente toda a metade final do longa é que o filme vai terminar a qualquer momento com uma grande catástrofe daquelas que você vai sair do cinema em choque (o que vindo do longa de abertura de um dos festivais mais famosos, seria totalmente aceitável), mas felizmente o rumo de determinação dela foi outro, e alongou a trama da melhor forma, trabalhando muito o rapaz e não apenas criando um personagem bem desenvolvido, mas sim um ator talentosíssimo, já que foi o filme de estreia do protagonista, ou seja, por incrível que pareça temos um filme de atuação, aonde não temos um grande astro conhecido.

Já que comecei a falar do jovem ator, vamos dizer um pouco mais do garoto Rod Paradot, que fez do filme algo que pode considerar praticamente seu já que com incríveis nuances de humor e interpretação na medida, ele acabou agradando tanto que com certeza temos de observar de perto seus próximos longas, pois o que a diretora fez com ele foi algo mágico por ser seu primeiro filme, de modo que não tem sequer uma cena de seu Malony que consigamos tirar os olhos da tela, devido ao trabalho excelente das suas expressões, colocar seus diálogos bem impactados e até mesmo mostrar seus sentimentos da forma mais verdadeira possível. Catherine Deneuve já conhecemos de longa data, e como sempre faz seus papéis soarem imprescindíveis, e sua Florence tem forma e vida própria de modo que acabamos tendo até uma certa afinidade para junto pensarmos nas suas atitudes, ou seja, a atriz como sempre trabalha bem e envolve demais. Sara Forestier até que trabalhou muito bem fazendo a mãe do garoto, demonstrando até um certo tom moralista para uma pessoa maluca, mas foi nela que ocorreu um dos problemas que julgo mais crítico em um filme que tem uma grande passagem de tempo, em 10 anos não envelheceram ela com maquiagem nem um pouco, dando um pouco de estrago apenas nos dentes, mas nada que realçasse 10 anos de vida com drogas como é passado, então poderiam ter resolvido esse problema de qualquer outro meio, mas não do jeito que foi feito, e isso é um erro grave. Benoît Magimel trabalhou muito bem como o tutor Yann, colocando todas suas expressões que tinha na manga para fora, comovendo e emocionando como deveria para que seu personagem agradasse bastante, e confesso que se o jovem ator não tivesse saído tão bem, o filme seria dele. Dos demais atores, a maioria funciona mais como elo para o desenrolar da trama, tendo até mesmo Diane Rouxel que faz a jovem Tess servindo apenas para alguns bons momentos, mas nada que chamasse tanto a atenção.

Como disse, novamente temos um longa aonde o que importa são as atuações, então são poucos os elementos cênicos que acabaram caracterizando um ou outro momento, mas claro que temos as locações bem encaixadas para cada cena, como a cadeia, o juizado, os centros de reabilitação e até mesmo alguns lugares que não representavam tanto assim como a boate improvisada e outras cenas que soaram falsas demais, como a mulher caindo no hospital tão estranhamente, mas isso não desmerece o filme, então a equipe de arte soube desenvolver o roteiro bem, mas sem uma preocupação específica já que a bucha principal ficou em outras mãos. E com isso a fotografia entregue também não é algo primoroso que demarque o longa, claro que souberam usar bem o uso da iluminação já que o filme é bem escuro, e quando a iluminação funciona nesse estilo de filme fica algo bonito de se ver, mas poderiam ter desenvolvido mais tons que agradaria mais.

Enfim, um filme muito bem feito e perfeitamente atuado, que passa uma lição extremamente importante para os pais de pequenas crianças e futuros pais, pois os que possuem filhos mais velhos certamente já sabem que foram bons o suficiente para com seus filhos dando a educação na medida para que fossem boas pessoas, então dessa forma vão apenas confirmar o ditado que citei no começo do texto. Ou seja, um longa que vale a pena ser conferido para quem gosta do estilo, e para quem deva ser recomendado como acabei de falar. Bem é isso, dessa forma encerro meu primeiro dia de cobertura dos dois longas de hoje do Festival Varilux de Cinema Francês, mas amanhã estou de volta com os textos dos dois filmes que irei ver, então abraços e até mais tarde pessoal.


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