Gemma Bovery - A Vida Imita a Arte

6/13/2015 01:54:00 AM |

Quando o roteiro de um filme consegue brincar com outros filmes ou livros, de forma a nem virar uma nova adaptação literária, e nem um reboot, o resultado na maioria das vezes costuma ser sensacional, e com "Gemma Bovery - A Vida Imita a Arte" não foi diferente, pois aqui o texto brincou de uma maneira tão gostosa com os personagens do clássico de Gustave Flaubert, "Madame Bovary", que a forma encantada da mente super imaginativa do personagem Martin nos leva junto com ele na sua interpretação do livro junto de sua nova vizinha. E o que foi feito pela direção nos remete à filmes tão gostosos de acompanhar, que a leveza da trama nos entretém e envolve na mesma proporção que vamos conhecendo cada ato, e independente de conhecer ou não o livro, o público entra no mesmo clima que os personagens.

O longa nos mostra que o casal Charlie e Gemma Bovery morava na Inglaterra e acabaram de se mudar para um vilarejo da França. Ela fica encantada com a gastronomia do país e quer explorar o lugar ao máximo. Os dois conhecem um padeiro da região, que, por sua vez, fica fascinado com o fato deles terem o sobrenome Bovery, o mesmo do casal do clássico livro Madame Bovary e também pelo fato de se mudarem justamente para o lugar onde o livro foi escrito por Gustave Flaubert. E assim como na obra, Gemma desperta a atenção dos homens do vilarejo.

A diretora e roteirista Anne Fontaine é conhecida por fazer longas com as famosas femme fattale, aonde entrega características bem sedutoras para a maioria de suas personagens, e aqui ao desenvolver o roteiro em cima do livro de Posy Simmonds, ela acabou montando uma comédia tão leve e simbólica que parece que estamos diante de uma peça clássica dos roteiros mais antigos, porém sua equipe arrumou uma lugar impressionante para filmar, que acabou transformando o âmbito da trama para algo que exala o frescor do vilarejo juntamente com as boas nuances dos protagonistas, para resultar em um filme totalmente singelo e gostoso de acompanhar. E sem abusar de cortes estranhos, tirando a penúltima cena que explicada sob diversos ângulos, ou câmeras diferenciadas, a diretora nos leva ao clássico tradicional cinema de perspectiva, aonde a imaginação dos personagens afloram os pensamentos dos espectadores, resultando numa trama que até acaba desenvolvida além do que esperado.

Falar da atuação de Gemma Arterton só temos de tecer elogios tanto na beleza da atriz quanto na sua forma viva de atuar que nos envolve e agrada sem forçar em nada, não necessitando ser uma vizinha comum, mas trabalhando sutilezas sedutoras tão bem encaixadas na personagem de mesmo nome que ela que literalmente podemos dizer que foi um acaso do destino colocar ela no papel e um acerto maravilhoso no que fez em cena, pois trabalhou seu francês de uma maneira tão suave que ficou lindo de escutar. Fabrice Luchini trabalhou quase que como um narrador para nós com seu Martin, mas deu um tom cômico tão gostoso com seus pensamentos em voz alta e divertindo com sotaque ao tentar falar inglês que suas expressões nos envolve e passamos quase a ser amigos no personagem de seu cachorro Gus, então o acerto foi primoroso com certeza. Daria para falar mais sobre cada um dos personagens, mas não vale a pena, pois o filme realmente é deles, porém temos de falar que os três homens da protagonista soaram muito bem encaixados, cada um no seu estilo, então parabéns para Jason Flemyng por seu Charlie, Mel Raido por seu Patrick e Niels Schneider pelo seu Hervé. E pontuando um desastre meio que expressivo demais, tenho de falar do exagero de Elsa Zylberstein que até é cabível a personagem Wizzy ser meio maluca, mas ela forçou demais.

Que locação magnífica foi essa escolhida para ambientar o filme, pois a Normandia, embora seja um lugar de que muitos diretores reclamam, o visual que conseguiram obter nos três principais cenários foi algo de parar num DVD e ficar olhando refletindo, com paisagens bem encaixadas, as casas com decorações próprias bem desenvolvidas e até claro os elementos-chaves da história foram trabalhados para que mesmo sendo pesados dessem sensações para a trama, ou seja, um trabalho perfeito da equipe artística. E claro que com um cenário maravilhoso desse, a equipe de fotografia não seria burra de optar por luzes artificiais em contraluz, de maneira que procuraram usar as luzes dos próprios ambientes como lareiras, o sol encostado atrás das árvores e mesmo quando algo mais escuro, abusaram de sombras, dando sempre um tom quente um pouco avermelhado para sensualizar trama, ou seja, um luxo visual.

Enfim, um filme que agrada bastante, e tirando os pequenos defeitos exagerados de alguns personagens como disse e a repetição da cena final que todos já haviam entendido o que aconteceu, o filme desenvolve de uma maneira muito gostosa e que com toda certeza recomendo para todos que gostem de uma comédia leve aonde tudo tem sua graciosidade. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas ainda faltam muitos filmes para conferir no Festival Varilux, além das estreias normais da semana, então abraços e até mais tarde.


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