Hipócrates (Hippocrate)

6/15/2015 01:42:00 AM |

Se pararmos 2 minutos para pensar sobre séries de TV com relações médicas, aonde o pessoal mostra defeitos nesses salvadores de vidas e também um pouco da interação entre eles que fazem o público emocionar e torcer por determinado personagem, vamos conseguir enumerar ao menos três, e olha que nem fomos a fundo com outros do passado e por aí vai. Mas e se fizermos um episódio mais alongado aonde dê para evidenciar boa parte de tudo em um único filme e que ainda assim tenha a mesma proporção de denúncia, amizades, sofrimento e tudo mais? Daria certo? A resposta vem fácil após assistir "Hipócrates" que conseguiu ser tudo isso de uma série e mais um pouco, pois temos a dramatização cinematográfica que os atores deram ao incorporar seus personagens, então um filme com alma e que agrada certamente quem gosta tanto do estilo dos seriados, quanto de um bom drama.

O filme nos mostra que Benjamin tem certeza de que vai se tornar um grande médico. Mas em sua primeira residência no hospital onde o pai trabalha, nada acontece como previsto. A prática se revela mais difícil do que a teoria. A responsabilidade é terrível, seu pai é ausente e seu parceiro residente, Abdel, é um médico estrangeiro mais experiente do que ele. Benjamin vai confrontar brutalmente a seus limites, seus medos, os dos pacientes, das famílias, dos médicos e do pessoal. Sua iniciação começa.

O filme que encerrou Cannes em 2014 e deu ao ator Reda Kateb o prêmio de melhor coadjuvante no Cesar 2015 foi muito bem costurado pelo diretor Thomas Lilti, de modo ele não apenas trabalhou toda a sintonia dos personagens, como fez uma história envolvente em que acaba entregando vida para cada um dos personagens principais. E além disso não chegou a perder dinâmica dentro da trama, o que fez no seu filme anterior "Anos Incríveis", pois soube trabalhar mesmo que com diversas situações acontecendo, mas sem tirar o foco dos protagonistas. Ao trabalhar a câmera mais fechada soube também valorizar a cenografia do espaço e desenvolver um contexto maior, pois acabou colocando em cheque o que todos sabemos não ser as mil maravilhas em lugar nenhum, que após todos os anos de estudo dos médicos quando realmente vão a campo acabam sofrendo para ter seus vereditos aprovados, sofrem com falta de equipamentos e tudo mais, e assim sendo um acerto claro do trabalho dos roteiristas acabou sendo forte e bem dinâmico. Claro que se estivéssemos numa série de TV com esse roteiro, fariam uns 3 a 4 episódios com toda certeza, e ainda daria para desenvolver tudo o que foi mostrado, mas como o tempo de um longa é curto, a compactação dos atos até que foi bem agradável para envolver e mostrar serviço.

A atuação de Reda Kateb está realmente muito boa, de modo que o ator deu diversas cortadas no protagonista, claro que não propositais, afinal isso certamente estava no roteiro, mas ao desenvolver sua forma de olhar os pacientes e até mesmo os demais protagonistas, mostrou-se firme e determinado com as expressões de seu Abdel, o que é raro de ver nesse estilo de filme, pois os atores acabam se tornando médicos por alguns dias e alguns saem de plano e estragam o personagem, mas pelo contrário o ator acabou dando uma perspectiva tão boa que lhe garantiu o prêmio máximo de coadjuvante na França. Vincent Lacoste também trabalhou bem, mas incorporou demais ao dar inexperiência para o seu Benjamin, de modo que ficou mais como um médico bonitinho, filho do papai diretor do que alguém com vontade própria de ser médico realmente, claro que teria outras formas de evidenciar isso, mas o ator não se esforçou nos trejeitos, então quase acabou como secundário, se não fosse suas últimas cenas, aonde mostra mais determinação e acabou ganhando o páreo. Os demais médicos aparecem pouco, e alguns até possuem bons diálogos, mas nenhum chama muita atenção em cena, deixando que os protagonistas apenas sejam ajudados por eles na trama, mas vale destacar algumas cenas em que Marianne Denicourt com sua Denormandy resolve explodir e aí chamar atenção e claro que não podemos esquecer de Jeanne Cellard que deu vida a velhinha Richard de uma maneira tão linda que acabamos envolvidos com suas cenas.

Quanto do visual, achei um pouco pesado os bastidores do hospital, tudo bem que nos fundos nada é muito bonito, mas não precisariam depreciar tanto com pichações ofensivas nas paredes dos quartos e colocando os iniciandos quase que como o lixo do hospital, pois isso foi o que o diretor quis passar com muitas cenas, mas tirando esse detalhe, o hospital em si foi bem trabalhado pela direção de arte para mostrar elementos característicos e tudo mais que os personagens necessitavam para aparentarem ser médicos, então no geral foi um trabalho bem feito. Só a festa que acredito que ou poderiam ter melhorado o que queriam passar com ela, com mais elementos e falas, ou cortar fora de vez para não ficar tão deslocado. A fotografia da trama trabalhou bem nas sombras para dar sentimento aos personagens, mas ao usar a câmera mais próxima dos atores para não vazar tantas falhas dos cenários, o filme ficou meio murcho de amplitude, parecendo estar sendo gravado dentro de uma caixa de fósforos, então poderiam ter usado algum estilo de lente que abrisse a perspectiva ou gravar um pouco mais distante para haver respiro, mas isso não chegou a atrapalhar a história felizmente.

Enfim, é um filme bem envolvente e feito com cuidado técnico para denunciar muitas coisas da saúde na França, e claro que de forma mais simbólica trabalhar com a personalidade de alguns médicos iniciantes. O longa com certeza vale a pena ser visto, afinal muitos, assim como eu, não possuem paciência para acompanhar uma série médica do início ao fim, com diversos tipos de doença e interações entre os personagens, então o compacto aqui serve bem para exemplificar tudo e ainda agradar na dramatização, então sendo assim, recomendo ele com afinco. Portanto encerro aqui minha noite, mas volto nessa segunda a noite com mais dois longas do Festival Varilux para conferir e falar o que achei deles, então abraços e até mais tarde.


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