National Theatre Live - Frankenstein por Benedict Cumberbatch

6/05/2015 12:18:00 AM |

Não vou fazer um post imenso, afinal não estamos falando de um filme, mas também não poderia deixar passar batido, afinal assisti ele num cinema. Estou falando dessa nova montagem do clássico "Frankenstein" que foi produzida e encenada em 2011 por Danny Boyle e Nick Dear, e desde então tem percorrido diversos cinemas do mundo todo levando cada vez mais pessoas para ver o que Benedict Cumberbatch e Jonny Lee Miller fizeram nessa visceral interpretação de um clássico, porém visto sob a ótica inversa, conhecendo um pouco mais sobre os desejos e anseios da criatura contra um mestre que o abandonou, mas que basicamente pela forma de trabalho dos dois atores o diretor quis mostrar como a criatura foi feita à sua imagem, tanto que eles revezam nos papéis.

A sinopse da peça nos mostra que infantil em sua inocência, mas numa forma grotesca, uma criatura atordoada é colocada em um universo hostil e aterrorizador por seu criador Victor Frankenstein. Encontrando crueldade por onde passa a criatura sem amigos, cada vez mais desesperada, revolta-se com a sua triste condição e resolve vingar-se do seu criador, perseguindo-o até um fim aterrorizante. Preocupações com as responsabilidades científicas, negligência dos pais, desenvolvimento cognitivo da natureza do bem e do mal são encaixados desse conto gótico, clássico e profundamente perturbador.

Que Danny Boyle é um diretor com um estilo próprio de montar suas cenas isso todos sabemos, afinal está aí para ver "Quem Quer Ser Um Milionário?" e "127 Horas" passando direto na TV e sabemos o quanto de interpretação ele exigiu de seus artistas, então numa peça aonde praticamente tudo depende da atuação do artista, ele não apenas fez os dois protagonistas saberem perfeitamente a fala e trejeitos um do outro, como fez ambos fazerem os dois papéis, ou seja, um estudo minucioso de perspectivas, aonde cada um pode conhecer mais e dar vida de uma forma mais ampla para tudo. Claro que só assisti a montagem de hoje, não sei se irei conferir a de Domingo que invertem os papéis, mas só pelos minutos de ensaio que mostra antes de começar a peça, aonde foi possível ver a criatura de Miller, já deu para perceber que embora o texto seja o mesmo, sua forma de entregar o personagem é completamente diferente de Cumberbatch, mas ainda assim um personagem interessantíssimo de ver, que somente um diretor de calibre conseguiria fazer uma montagem assim. E o texto adaptado de Nick Dear deu uma característica completamente nova e renovada para o conto de Mary Shelley, pois com a forma que o mundo anda se movendo, embora seja bem fictícia a história temos clonagem e outros elementos novos sendo criados por cientistas afora, e como muitos são contra abortos, o que fazer com a criatura após ela se desenvolver, é esta a ideologia que o novo texto nos afronta, sob uma perspectiva crua e bem atuada.

E falando sobre a atuação, poderia ficar horas falando de Benedict Cumberbatch, mas só o seu primeiro ato de nascimento na peça já valeu por um filme de 2 horas fácil, e mostra sua flexibilidade de uma maneira única que com certeza os diretores de efeitos especiais do "Hobbit" depois conheceram bem para capturar seus movimentos para o dragão, pois aqui ele deu um show de movimentação e interações, juntamente com uma interpretação única para o modo de falar, e expressar do personagem, ou seja, perfeito, e digo mais, o rapaz gostou realmente do estilo de teatro filmado, tanto que em Outubro irá apresentar Hamlet. E John Lee Miller caiu muito bem também como um Victor mais assustado e reflexivo sobre os sentimentos que nem ele mesmo conhece contra o que sua criatura lhe demonstra, seus atos foram bem marcados e chamaram atenção pela dinâmica mais contraída, porém agradável de ver. Dos demais atores, vale destacar principalmente a inocência e ingenuidade passada por Naomie Harris no papel de Elizabeth, e assim ficar interessante suas cenas junto da criatura.

Se existe uma coisa que me impressiona nessas peças e óperas luxuosas que são mostradas no cinema é a parte cenográfica que se movimenta no palco, se transforma com a peça rolando e tudo vai sendo criado com uma precisão cirúrgica para envolver ainda mais os espectadores, ou seja, um espetáculo que se já não bastasse o show que os atores dão, ainda temos tudo mesmo que de forma minuciosa, afinal não dá para termos um castelo, casas e seus interiores inteiramente recriados, mas de maneira completamente crível e bem adequado de se ver, que junto de uma iluminação bem suntuosa cada ato acaba destacado agradando demais.

Enfim, recomendo com certeza para todos a peça, portanto quem puder ver a outra versão agora com Cumberbatch fazendo Victor e Miller fazendo a criatura, que será exibida no Domingo às 15h30 em diversos cinemas UCI espalhados pelo Brasil. E essa não será a única peça exibida do National Theatre, pois terão mais 3 peças nas próximas semanas com grande elenco e diretores renomados, então fiquem atentos à programação. Fico por aqui agora, mas volto em breve com mais posts das estreias da semana, então abraços e até breve pessoal.

PS: A peça é ótima, mas não darei o 10 por alguns momentos necessitar abstrair demais os elementos, principalmente nos atos com o fazendeiro, de modo que ou fizessem de outra maneira mais crível ou tiraria ela da peça, ficou falso demais, mas do restante tudo excelente.


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