O Diário de Uma Camareira (Journal d’une Femme de Chambre)

6/15/2015 08:52:00 PM |

Todos sabemos que a França é rainha no gênero de comédias, mas o que falar quando nos apresentam um drama instigante, que beira próximo do suspense, já que é um gênero que poucas vezes nos é mostrado, principalmente dentro do nicho mais autoral? Pois bem, hoje foi possível reafirmar que eles gostam de instigar muito o espectador com o que foi mostrado em "O Diário de Uma Camareira", mas o que certamente deixou muita gente decepcionada na platéia foi ele não ter dado um fechamento digno ou ao menos ter colocado um ponto de vista maior do que apenas mostrar que a mulher pobre na antiguidade servia apenas para satisfazer quaisquer vontades que os patrões tivessem, ou então casar com algum marido rico para sair definitivamente da vida classificativa. Portanto temos até que um belo filme de época, que foi bem caracterizado e altamente instigante, mas poderia facilmente ter sido muito melhor com alguns pequenos detalhes, o que de forma alguma estraga o clima bacana que foi criado.

O filme se passa em 1900, e nos mostra que Célestine, uma jovem camareira muito cobiçada por conta de sua beleza, acaba de chegar de Paris para trabalhar para a família Lanlaire. Enquanto foge dos avanços de seu senhor, ela deve lidar com a rigorosa personalidade de Madame Lanlaire, que governa o lar com punho de ferro. Ao mesmo tempo, Célestine conhece Joseph, um misterioso jardineiro que está profundamente apaixonado por ela.

O roteiro do longa foi baseado no livro "Journal d'une Femme de Chambre", de Octave Mirbeau, e trabalhou bem toda a concepção de uma época não muito bonita na França e no mundo em geral, pois embora não tivesse uma escravidão com todas as letras, ainda muita coisa não funcionava de forma tão agradável para as pessoas mais pobres, e o diretor e roteirista Benoît Jacquot ("Adeus, Minha Rainha") mostrou como se faz um bom filme de época com todas as letras, mas por instigar tanto o espectador com nuances e bons enfrontamentos, ao menos esperávamos um final mais conclusivo do que o que ele elaborou, claro que entendemos perfeitamente o que aconteceu, mas poderia ter surpreendido com algo inesperado, ou até mesmo algo bem esperado, mas que concluísse sua ideia sem deixar o modo subjetivo ligado no volume máximo. Uma coisa que incomoda bastante no filme, é a sua câmera subjetiva, que tem quase vida própria junto de nossos olhos, e isso ajudou ainda mais a instigar todas as cenas, pois quando ficávamos encucados com algo que estava acontecendo, lá ia a câmera quase como um fantasma vivo em direção do que desejávamos observar mais a fundo, e isso funciona muito em suspenses, e aqui não seria diferente, portanto ao mesmo tempo que foi um grande acerto na escolha de linguagem a ser trabalhada, também irritou por não fechar a curiosidade.

Quanto da atuação dos protagonistas, temos que ser francos e dizer que Léa Seydoux é daquelas atrizes que sabem seduzir muito bem qualquer pessoa somente com olhares, e aqui sua Célestine sempre andando com uma vestimenta que faria o mais louco patrão olhar para suas curvas, entregou uma personagem com charme, pontuação fenomenal nos diálogos e uma incorporação de interpretação que não tem como não parabenizar, e dessa forma o acerto é mais do que perfeito. Vincent Lindon até caiu bem como o jardineiro Joseph, mas o excesso de mistério que criou tanto nas suas expressões, quanto no que os diálogos lhe propuseram, acabam que ficando cansativos de certa forma, não que isso atrapalhe o andamento do filme, mas um pouco de determinismo nos olhares ou algo mais impactante no que fez com o personagem certamente agradaria bem mais. Clotilde Mollet faz uma patroa daquelas para qualquer um odiar inicialmente, de modo que qualquer camareira mais maluca teria colocado como dito pela protagonista um pouquinho de arsênico na comida dela, pois que interpretação de megera ela acabou entregando, algo muito bem feito que poucas vezes fiquei tão bravo com algum personagem de cinema. Os patrões em maioria eram tarados por todas as empregadas, e isso é um fato histórico, mas suas caras engraçadas de desespero ao ver um corpinho novo na praça foi algo que o diretor colocou muito em evidência e ficou muito caricato principalmente com Hervé Pierre e Patrick d'Assumçao. O jovem Vincent Lacoste novamente aparece no mesmo Festival Varilux, já que ontem vimos o seu Benjamin em "Hipócrates", e hoje nos colocou um Georgers muito doente, mas que ao menos ficou feliz com o que acabou ganhando, dando um pequeno spoiler, e embora seu papel aqui seja bem pequeno, fez boas expressões. Das demais patroas, temos de dar destaque claro para a senhorinha Joséphine Derenne que fez a vó de Georges de uma maneira bem doce e extremamente bem interpretada.

Visualmente temos um longa de época, e sendo assim temos figurinos impecáveis, casas com decoração minuciosa para remeter o filme corretamente à época e que dá um destaque incrível para a produção, de modo que com muita certeza a equipe de arte teve um trabalho imenso para caracterizar todas as casas da Normandia, e claro que foram impecáveis nas escolhas de locações bem incorporadas que deram um charme a mais para o filme. Quanto da fotografia, a iluminação de velas sempre é algo que chama muita atenção e sempre agrada, de maneira que foram espertos de colocar diversas cenas em locais mais fechados e escuros, para realçar ainda mais o tom alaranjado da iluminação e com isso ter um ganho significativo para a trama, além de nas cenas diurnas trabalharem muito com uma iluminação de realce para dar um destaque a mais na protagonista.

Enfim, um filme tecnicamente perfeito e muito bem trabalhado, mas que poderia ser um longa daqueles de aplaudir de pé se o diretor tivesse trabalhado um pouco mais sua opinião e fechado o filme aclamando toda a instigação que fez. Portanto se você gosta de um bom filme de época esse com toda certeza é uma recomendação, porém não espere algo conclusivo, senão a chance de sair irritado da sessão é altíssima. Bem é isso pessoal, fico por aqui por enquanto, mas lá vamos nós novamente pra sala de cinema conferir mais um longa do Festival Varilux, então abraços e até mais tarde.


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